Floresça

Capítulo 7

Um dia se passou, onde novamente Beatriz colocou a sobrinha em diversas lições de boas maneiras. Aprendeu a reverência, como se deve agir caso encontrem com Vossa Alteza e além disso, quais tipos de vestidos ela deveria usar para cada ocasião e época. Estavam no verão, estava quente, então o vestido que usaria no baile do dia seguinte teria mangas de um tecido fino semelhante a seda, mas menos aparente.

Após as aulas, Mirabel foi avisada pela tia para se arrumar pois iriam sair. Ela não avisou onde, mas Mirabel só seguiu a orientação sem questionar...estava ansiosa para sair de casa pela primeira vez desde que chegou. Foi orientada a colocar um chapéu que fosse discreto mas que deixasse seu rosto pouco a mostra, assim as pessoas não ficariam tão cientes da sua existência quando passasse pela rua e talvez simplesmente a ignorassem. Sua tia queria muito que só a conhecessem no dia do baile, que ela seria apresentada ao rei e à rainha, para que evitassem boatos.

Encontrou a tia a esperando com a sua dama de companhia, Mary iria com elas. Entraram na carruagem, auxiliadas pelo cocheiro e seguiram para a modista, iriam escolher o vestido para o baile.

- Soube que seus sequestradores foram a julgamento hoje de manhã. - A tia começou a falar, depois de um tempo já dentro da carruagem.

- Oh! - Mirabel se assustou com a notícia repentina, nem sabia que eles haviam sido apreendidos. - Foram mortos?

- Não, querida. Achamos melhor que você decidisse o que fazer com eles, seu tio apenas quis prendê - Los para que não fugissem antes de serem julgados. - Ela pegou a mão de Mirabel e a olhou nos olhos. - Eu não gosto de mortes, mas se somente isso que lhe trará paz, seu tio mandará que sejam executados hoje a tarde. - Completou a tia, olhando - a com profunda tristeza, com pena da sobrinha que deveria estar discutindo sobre biscoitos e chá, não sobre assassinato e sequestro.

- Vejo que estão dando muito valor ao que eu penso... - Começou Mirabel, completamente atordoada. Nunca pensou em matar aqueles dois, por mais que odiasse como eram. - Eu particularmente acredito que só ficarem presos pelo resto de suas vidas já seria o suficiente, minha tia querida.

A tia sustou um suspiro dramático e soltou sua mão.

- Não queria envolvê - lá nisso novamente, mas seu tio insistiu. Ele queria tomar a decisão que você escolhesse, já que foi você que sofreu na mão deles. Vossa alteza está ciente da situação, então apresentaremos você no baile de amanhã apenas por formalidades e claro - Ela deu uma picadinha para a jovem - Para gerar pretendentes.

Mirabel ficou vermelha de vergonha. A tia falava como se ela fosse casar sua sobrinha na semana seguinte. A jovem mal sabia se tinha desejo de se casar com alguém, com a vida que tinha, pensou que morreria sozinha naquela casa na vila e aceitou esse destino com o tempo. Agora, tinha que pensar em conquistar um marido e manter sua reputação respeitável. Que coisa mais complicada.

- Tia, acha que encontrarei alguém que se interesse por mim? - Ela perguntou depois de um tempo em silêncio.

A tia lhe deu um tapinha na mão.

- Não seja boba menina, olhe para você. É linda, inteligente e gentil, com certeza os cavalheiros farão fila para cortejá - lá. - Ela sorriu para a tia diante do elogio. - Estou sendo sincera, acredito que nessa temporada o diamante definitivamente vai ser você.

- Diamante ? Como assim? - Perguntou a sobrinha.

- Você brilhará mais que todas as outras jovens, tenho certeza disso. - A tia parecia realmente confiante, Mirabel no entanto estava começando a querer fugir daquele baile. Todos os olhos voltados para ela, pessoas a julgando e cavalheiros a avaliando... Isso poderia ser desastroso ou um sucesso.

Mirabel estava mais acostumada a desastres.

- Obrigada pelo apoio, minha tia. Mas creio que estou levemente assustada com tudo isso. - Ela disse, sendo sincera.

- Dará tudo certo querida, é por isso que te ensinei tudo que precisava por enquanto. Um diamante precisa ser lapidado e você está pronta para ser um. - Ela falou, dando ênfase ao mostrar seu anel de casamento com pequenos diamantes em volta do ouro.

- Sr.Louis estará presente? - Mirabel só percebeu que havia perguntado sobre ele quando já havia dito. A tia a olhou com os olhos semi - cerrados.

- Acredito que sim querida, mas porque a pergunta? - Beatriz ficou realmente curiosa.

Mirabel cruzou suas mãos em cima do colo, enquanto pensava o que responder

- Apenas curiosa, é bom ter rostos conhecidos. - Ela divagou.

A tia ficou menos apreensiva depois disso. Não achava que Louis poderia ser bom para a sobrinha e nunca aprovou a amizade de seu filho com o filho do marquês. Eram uma família estranha e antipática da alta sociedade e dificilmente ficavam muito tempo nos bailes. Agora que o marquês envelheceu, apenas seu filho aparecia para as festas, representando toda a família. A mãe do rapaz havia morrido há muitos anos e desde então o marquês se tornou um homem desagradável de se conviver, tinha pena do jovem senhor Louis.

A sorte de Mirabel é que haviam chegado a modista, então sua tia esqueceu o assunto em instantes. Ela estava ansiosa para ver os novos tecidos de última moda que haviam chegado nesta temporada do ano.

Encontraram amigas da duquesa pelo caminho, Mirabel fez como foi instruída e se manteve de cabeça baixa, com o chapéu tampando grande parte de seu rosto. Estava vestida de um vestido azul claro com pequenas flores roxas na parte da saia, era delicado e discreto, evitando chamar muita atenção.

Ao entrarem na modista foram recebidas com galanteios e elogios. Quando Mirabel foi ensinada sobre como tratar o rei e a rainha também foi ensina sobre os títulos e agora entendia o porquê a tia estava sendo tão bajulada. Título de duquesa era algo muito precioso e sua tia com certeza gostava de ser uma, afinal, todos lhe davam atenção que se fosse a própria rainha.

Nesses poucos dias havia se esforçado muito para se tornar uma dama de respeito. Queria se comportar perfeitamente bem no baile, para que seus tios e seu primo se sentissem orgulhosos dela. Era sua forma de agradecer por a terem salvado daquele lugar horrível que morava.

- Vamos começar pelos tecidos. - Foi então que Mirabel compreendeu onde estavam, ela iria montar seu próprio vestido para o baile. Ficou ainda mais animada com esse passatempo divertido, muito mais legal do que aprender sobre talheres ou empilhar livros na cabeça. A fazer compras e escolher vestidos, ela podia se acostumar.

Ficaram ali por cerca de 1 hora e meia, depois passearam pelo parque principal daquele bairro. Mary sempre junto a elas como uma sombra, em silêncio.

- Duquesa de Belmonte, o que a trás aqui? - Pela primeira vez, Mirabel viu sua ficar incomodada com a presença de alguém, o sorriso que tinha no rosto de Beatriz desapareceu e ela se virou para ver a dona da voz.

- Lady Davies, como vai? - Pelo tom de sua tia, Mirabel abaixou ainda mais a aba do chapéu.

A velha senhora chegou mais perto, tentando descobrir quem era aquela com o chapéu cobrindo o rosto. Normalmente Beatriz vinha acompanhada somente de uma empregada, não de uma dama.

- Quem é essa menina, Madame? É nova na cidade? - Uma fofoqueira, que maravilha. Por isso a tia estava irritada com este encontro.

- Logo descobrirá. - Ela pegou a mão de Mirabel e a puxou. - Vamos querida, logo meu corpo precisará repousar para que eu não me sinta indisposta para o jantar.

Mirabel, enquanto era puxada pela tia em direção a carruagem, olhou rapidamente para aquela senhora, que manteve os olhos fixos nela. Sentiu um arrepio e voltou a olhar para frente, intrigada.

- Se mantenha longe dessa mulher, Mirabel. Ela tem um terrível coração e ama prejudicar as damas da mesma idade de sua filha, pois está desesperada para a casar antes que ela seja uma solteirona. Qualquer pessoa que ela identifica como ameaça a filha dela, ela... - A tia parou de falar.

- Ela faz o que, tia?. - A duquesa abaixou o tom para que ninguém mais ouvisse além dela.

- Tenta destruir.