Capítulo 2

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Após o jantar, cada um se direcionou para o seu quarto selecionado. Mirabel ficou chocada ao ser direcionada pelo seu, onde havia uma cama de casal cheia de travesseiros e cobertor, além de um banheiro com vários produtos da época para se utilizar e uma banheira de madeira que caso precisasse de água quente era só chamar uma empregada que ela traria.

O quarto era relativamente simples, mas como Mirabel nunca vivenciara aquilo, tudo lhe parecia incrível. Possuía a cama com um armário para colocar pertences e um enorme tapete de pelo de algum animal estendido por todo o quarto. As paredes eram brancas com detalhes em dourado e havia o banheiro que possuía banheira de madeira, sanitário e pia. Velas cobriam o quarto com aroma e luz, já que ainda não existia eletricidade.

Passariam a noite naquela pousada, então Mirabel teve que se acostumar a aquela nova situação sozinha. Na casa antiga, ela dormia em uma cama semelhante a pedra, de tão fino que era o colchão que lhe havia restado. Era o mesmo colchão que dormia desde seus primeiros anos de vida, já estando até mesmo com buracos que os ratos faziam enquanto ela trabalhava.

Lhe entregaram um robe branco de seda para vestir e ofereceram a água quente para um banho antes de dormir. Ela acabou aceitando, sem graça por nunca ter entrado em algo para tomar banho na vida, normalmente ela se banhava com um balde na água fria e esquentava água para seu irmão e sua cunhada tomarem depois. Nem mesmo um banho quente ela tinha acesso.

Após se banhar na água que lhe trouxeram, permitindo relaxar uma vez na vida, foi se deitar. Ao entrar em contato com a maciez da cama que tinha em seu quarto, adormeceu instantaneamente no aconchego do nobre cobertor.

Antes de ir para o quarto, ela havia ficado na parte externa da pousada com seu primo, seus tios estavam cansados e se retiraram para os aposentos primeiro. Eles conversaram, mas a mente de Mirabel estava ainda em processo de entender tudo que lhe foi dito. Tudo que ela vivera era uma mentira e ela sofreu esse tempo todo por estranhos que poderiam morrer agora caso ela quisesse.

Ela passou 20 anos de sua vida privada de todos os seus privilégios e sofrendo diariamente nas mãos de pessoas ruins que lhe haviam roubado essa vida e sua família. Seus pais morreram sem nem mesmo ver como era quando cresceu, mesmo que a haviam rejeitado de início, ela compreendia o motivo deles para tal. Ela só não conseguia aceitar que até mesmo seus pais foram - lhe tirados por aquela gente asquerosa e cruel.

Pela manhã, tomaram o café e partiram cedo. Foi avisada para não comer tanto, evitando que sofresse com a longa estrada que percorreriam dentro da carruagem. O dia passou e pela primeira vez em muito tempo, Mirabel conseguiu descansar durante um dia inteiro. Ela dormiu durante a viagem, não se preocupando em dar atenção aos parentes que com certeza estavam curiosos a seu respeito e tudo que ela tinha a falar.

Seus tios e seu primo já tinham noção do quanto iriam impactar a pobre jovem, então respeitaram o seu tempo para absorver tudo aquilo. Antes de morrer, a mãe de Mirabel pediu para que Beatriz cuidasse dela como uma filha caso a achasse e assim ela faria. Sempre considerou a cunhada como uma irmã e perdê - lá foi lastimável. Seus maridos também sempre foram muito amigos, mas por ser general, Antony já estava acostumado a perda de pessoas, então não demonstrou tanto sofrimento mesmo o sentindo por dentro. Precisava ser forte para sua esposa ter onde se apoiar no momento profundo do luto.

Esperaram 1 semana para que Beatriz voltasse a comer e interagir normalmente e então seu filho e seu marido lhe contaram que pretendiam encontrar Mirabel. Receberam informações de que ela estava morando em uma vila, por um aldeão que era muito afeiçoado em Mirabel pois ela sempre vendia as mercadoria para ele. O aldeão sabia que a menina sofria, então mesmo correndo risco de morte, contou a eles onde Mirabel morava e foi recompensado com um lugar de empregado da família. Ganhou muito mais que um dia poderia sonhar em ganhar um dia.

Já era quase meia noite quando chegaram em Londres, totalizando 2 dias de viagem. Saber que estava tão perto de sua vida e de seus pais antes deles morrerem, machucou muito o coração de Mirabel. Ao chegarem a residência Belmonte, a jovem mal soube como reagir.

Se ela havia se chocado com uma pequena pousada para os líderes do exército e seus soldados, imagine uma casa que era praticamente uma mansão toda esculpida em gesso por fora com detalhes incríveis de um azul profundo. O jardim impecável lhe cumprimentava com toda sua beleza a luz de milagres de velas e uma filha de empregados os aguardavam na porta principal para as devidas apresentações.

Foi lhe apresentada uma dama de companhia e também uma empregada particular. Mary e Jane.

Ao entrar no hall principal, janelas de vidro que cobriam o teto lhe receberam. Assustada com tudo aquilo, só conseguiu olhar com a boca aberta a movimentação de pessoas pela enorme sala. Seu tio e sua esposa conversavam com a governanta, pessoas ligavam a lareira e preparavam a mesa para jantarem.

Havia viajado praticamente o dia inteiro, parando somente uma vez para ir ao banheiro e comerem algo. Queriam Mirabel chegasse o mais rápido possível em seu lar e logo fosse apresentada a sociedade como a herdeira do marquês e marquesa falecidos de Belmonte. Ela, apesar de ter sua própria casa gerenciada por um advogado fiel a família, ficaria na casa de Beatriz e Antony a princípio.

Mirabel mal sabia o que era dote, então não tinha noção do quanto possuía em seu poder sendo a mais nova marquesa.
Ela poderia decidir o que fazer com tudo o que lhe foi dado quando ao menos tivesse consciência de como escrever o que tinha em um papel e contar quando tinha em sua conta bancária. Nunca foi ensinada a ler e escrever, algo que Beatriz foi informada por ela durante a viagem e já iria providenciar um professor no dia seguinte.

Uma dama respeitável como ela, deveria saber ler e escrever antes de ser apresentada a pretendentes. A sua beleza era indiscutível, tinha cabelos castanhos grandes e volumosos, olhos verdes semelhantes a cor de esmeralda e curvas consideráveis mesmo em um corpo magro e desnutrido por conta de sua baixa alimentação. Não havia dúvidas de que atrairia um marido, era só questão de tempo, sua tia com certeza lhe ajudaria com isso.

Mirabel não sabia nem mesmo como agir, no jantar permaneceu quieta observando aqueles pares de olhos curiosos em cima dela. Os empregados sabiam quem era e por isso estavam super empolgados para conhecê - lá.

No jantar Antony lhe contou a história de sua família antes de casarem. Antony seria o herdeiro de seu pai, lhe conferindo título de marquês, porém se casou com Beatriz, que já era duquesa na época do ocorrido. Já a mãe de Mirabel se casou com um homem que não possuía grande título, que se tornou herdeiro e tomou o título de marquês. Ambos possuem o mesmo sobrenome, mas a casa de seus pais falecidos carregava o sobrenome de seu Pai.

Então seus tios eram duque e duquesa de Belmonte e ela era herdeiro do marquês de Montbane.

Depois do jantar, foi-lhe apresentada onde passaria seus dias na casa do duque. O quarto era maior de que sua casa antiga, com uma cama redonda e renda pendurada no teto a cobrindo, as paredes de um tom claro de amarelo e ouro eram reconhecidos na mobília e principalmente em um enorme quadro pendurado acima da cabeceira da cama.

Haviam deixado chá de camomila em cima de uma mesa ao lado de poltronas confortáveis. Se banhou em uma banheira já pronta para ela enquanto jantava e depois tomou um pouco de chá. Apesar de seu corpo reclamar da viagem, não conseguia dormir, estava ansiosa e insegura e mal sabia como faria para estar apresentável no baile em que seria exposta a sociedade de Londres.

Antes de ir para seu aposento, sua tia bateu a porta de Mirabel para lhe dizer a seguinte frase.

“Boa noite querida, descanse pois amanhã começaremos a lhe preparar para a seu debut daqui a uma semana”.

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