Capítulo 24

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Louis estava bêbado, na verdade, estava praticamente dormindo na cadeira em que estava sentado. Uma garrafa de conhaque e um copo estavam em cima da mesa, já tinha ido mais de metade do conteúdo da garrafa embora.

- Ele está bebendo desde quando chegou, senhorita. - Mirabel já estava acostumada a lidar com esse tipo de situação, então se manteve calma. Mary ficou em um canto, só iria ajudar caso lhe fosse solicitado.

Ela se aproximou de Louis, que olhou para ela com um misto de raiva e tristeza. Tirou a garrafa e o copo da mesa e entregou ao mordomo.

- Você é uma criaturinha insistente. - Ele falou, meio embolado por conta do alto nível de álcool correndo em seu sangue.

- Sei que está feliz em me ver. - Ela brincou, esperando o mordomo voltar.

Louis sorriu para ela, ele estava fedendo, cansado e triste.

- Ele já comeu alguma coisa hoje? - Mirabel perguntou ao mordomo.

- Não senhorita, chegou às duas 4 da tarde e desde então está assim. - O mordomo claramente estava com pena de seu mestre.

- Peça que lhe tragam uma refeição, por favor. - Ela disse, então o mordomo se retirou.

Louis a pegou de surpresa a abraçando de repente. Então Mirabel começou a ouvir um choro, um choro que foi se intensificando.

- Tá tudo bem, eu estou aqui. - Começou a passar a mão por seus cabelos, lhe trazendo um pouco de consolo. O coração dela estava partido em encontrar ele assim, esse não era o Louis feliz e brincalhão que ela conhecia. Era uma versão bêbada e quebrada dele.

Ficaram assim por minutos, ele descontando toda a tristeza em um choro de balançar os ombros e a mantendo presa em uma abraço. O empregado entrou, deixou a comida do jovem em cima e se retirou.

- Mary, por favor, peça que preparem um banho para ele. - A jovem pediu para ela. Então Mary se retirou da sala, a procura de alguém que pudesse pedir esse comando.

Louis finalmente parou de chorar e se afastou dela, ele estava acabado, com olheiras fundas, barba por fazer e o cabelo sujo e oleoso.

- Meu pai é um cretino egoísta, Mirabel. - Mirabel começou a pensar em como poderia reagir a isso. Uma coisa era uma pessoa chorando, outra era com raiva de um morto. O que se falar em uma situação como essa?

- Por que diz isso, querido? - Ela continuou ao lado dele, enquanto Louis se encostava na cadeira e levantava a cabeça para cima.

- Sabe o que ele deixou escrito para mim? Para provar a sua morte? - A raiva que saia dele era notável.

- Não sei. - Ela esperou ele continuar, no seu tempo.

- " Moleque, cuide bem do meu império. Cansei de viver, mas quero que meu nome continue por décadas. Não te pus no mundo atoa". - Louis começou a querer chorar novamente, mas já não era de tristeza, era de revolta. - Até na morte ele não pensou em mim como um filho.

Mirabel se controlou para não chorar junto com ele, ver Louis daquela forma a estava machucando também. Ela esperava discutir com ele, não consolar.

- Eu sinto muito. - Ela respondeu, porque era a única coisa a se dizer. - Coma, antes que esfrie.

Com as mãos trêmulas e o rosto molhado de seu recente choro, Louis comeu a primeira refeição em casa desde que havia sido libertado da prisão. Mary voltou e anunciou que o banho de Louis estava pronto. Mirabel esperou ele comer para então irem embora.

Quando estava saindo da sala de estar, junto com Mary, a voz de Louis ecoou pela sala.

- Eu vou me tornar um homem digno de sua mão, Mirabel. Irei aos bailes, dançarei com as nobres, manterei um círculo social e limparei meu nome. Isso é uma promessa. - Ele disse, já praticamente sóbrio.

- E o que devo fazer enquanto isso? - Ela lhe respondeu, já de costas para ele. Mary estava ao seu lado, estavam de frente para abertura do saquão,  em direção ao corredor para a porta principal, para irem embora. Haviam marcado com o cocheiro de as buscar em meia hora, provavelmente ele já as aguardava.

- Esperar o dia em que pedirei a sua mão. - Foi a resposta dele.

As duas saíram da residência Hyde e entraram na carruagem. Chegaram quase às 1 da manhã em Belmonte, a rua estava vazia, o lugar silencioso e elas entraram rapidamente em casa.

Retiraram novamente o véu e subiram para o quarto de Mirabel, Mary dormiria em um colchão junto a cama de Mirabel, para que não precisasse ir até a ala dos empregados. Chamaria muito atenção uma empregada andando por aí de madrugada, poderia até surgir boatos como ladra e coisas assim.

Assim que Mirabel e Mary iriam passar pela porta do quarto e se fecharem lá dentro, viram Albert encostado na porta do quarto dele, que era duas portas de distância do dela.

- O que estavam fazendo a essa hora? - Ele perguntou, se aproximando delas, olhou no rosto das duas, buscando uma resposta. Mary ficou muda e Mirabel estava com medo da reação dele.

- Eu sinto muito, mas isso não é da sua conta. - Ela respondeu por fim. Ele levantou uma sobrancelha, que elas conseguiram ver pela claridade da lua na janela do corredor.

- Na verdade, é da minha conta. Você é minha prima e ela é nossa empregada, logo, eu devo me preocupar com as duas. - Ele argumentou. Quando viu que Mirabel não lhe responderia, respirou fundo irritado. - Eu espero que saiba o que está fazendo Mirabel!

Ela sorriu para ele.

- Boa noite, Albert. - Então entraram para dentro do quarto e ouviram um boa noite vindo dele antes de fecharem a porta. Mary estava pálida, parecia que tinha visto um fantasma.

- Eu não vou deixar que ele te demita, você trabalha para mim, não para ele. - Ela a confortou, enquanto tirava toda a roupa que saiu e trocava por uma roupa de dormir. Mary pouco tempo depois se recompôs e a imitou.

Agora, ambas já estavam devidamente em suas camas e deitadas, Mary estava dormindo em poucos segundos, mas Mirabel estava agitada.

Louis disse que iria a bailes e dançar com moças e criar um círculo social, então será que ele estava pretendendo ir ao baile de sábado? Ela ficou curiosa. Pelo menos era o único baile ao qual ela estava ciente que ocorreria e que estavam falando a dias, depois do café com Adeline, sua tia a lembrou de que já haviam conversado sobre aquele baile antes com Aurora.

- Mary, está dormindo? - Ela estava, mas acordou com a voz de Mirabel.

- Diga, senhorita. - Lhe respondeu, esfregando os olhos com o cansaço. Enquanto Mirabel estava fora, ela ficava cuidando de outros serviços domésticos e neste dia em específico tinha ajudado a limpar as enormes e infinitas janelas da casa ao lado de 5 outras empregadas. A casa possuía uma governanta, um mordomo e 14 empregados ao todo, mas somente alguns dormiam na casa, outros tinham a sua própria.

- Obrigada por ser minha amiga e se juntar a mim nessas empreitadas malucas. - Ela agradeceu de coração.

- Eu que agradeço por ter trazido um pouco de emoção a minha vida desde que chegou. Não é todo dia que eu saio escondido para encontrar com marqueses bêbados. - Mary brincou e as duas riram no quarto somente iluminado pela vela na mesa de cabeceira de Mirabel.

Mary voltou a dormir e Mirabel mal continha sua ansiedade para que chegasse sábado, quando ela talvez poderia ver Louis novamente.

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