Capítulo 4

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Mirabel puxou discretamente sua mão da dele e sorriu.

- Digo o mesmo, sr. Hyde. É um prazer, realmente. - Suas bochechas estavam vermelhas de constrangimento. Nenhum homem havia lhe tratado daquela forma, ainda mais um nobre.

Albert interferiu com um pigarro, se intrometendo entre eles. Louis se afastou um pouco de Mirabel e ela achou graça da atitude do primo, que em tão pouco tempo já considerava um irmão.

- Junte - se a nós, quero ouvir como foi a sua viagem a Paris. Vamos comer. - Alber disse, incentivando com gestos em direção a mesa para que Louis se sentisse convidado a comer com eles.

Louis se sentou ao lado de Albert, que ficou entre ele e Mirabel. A jovem não estava se sentindo muito confortável estando sozinha ali com eles, pediu ao mordomo para que chamasse Mary para lhe fazer companhia. Era o correto naquela situação onde só tinha ela de mulher solteira dentro de sala.

- Faço questão de comer, afinal vocês possuem o melhor cozinheiro da região. Nunca canso de comer aqui! - Louis elogiou, dando um sorriso a Albert. O descontentamento o atingiu ao perceber que não tinha nenhuma visão de Mirabel, que estava tampada pelo corpo de seu melhor amigo.

Na chegada de Mary, Mirabel se sentiu mais relaxada. Era crescida do interior, mas tinha um pingo de noção de como funcionavam as regras de convivência da alta sociedade, pela lógica ela nunca poderia ficar desacompanhada, a não ser que estivesse somente em família.

Comeram em silêncio, porém aquele silêncio estava começando a pesar.

- Creio que esteja não compreendendo o porquê de nunca ter conhecido minha prima, meu amigo. - Começou Albert. Mirabel olhou para ele, mas não disse nada... Não sabia se ser o tópico da conversa era melhor do que o silêncio.

Louis assentiu com a cabeça, tomando um pouco de suco.

- De fato, não compreendi a situação, mas não vejo como isso seja da minha alçada. - Louis sabia que não era sensato ficar perguntando sobre ela justamente em sua frente, mas com certeza iria interrogar o melhor mais tarde, quando estivesse andando a cavalo pelas redondezas.

- Certamente lhe contarei tudo em um momento mais oportuno. Logo ela será apresentada à sociedade - Albert respondeu. - Como está Paris? Andou agitando a cidade?

Louis riu, comendo um pedaço de sua comida. Ficou curioso para saber onde estava escondida a linda mulher que conheceu a instantes, com as bochechas vermelhas e olhar melancólico.

- Fui a negócios, infelizmente mal consegui sair do escritório de meu pai. Como sabe, ser administrador não é nada fácil. - Louis na verdade estava bem cansado, não teve tendo para se divertir em toda a estadia fora de Londres, estava resolvendo questões da fortuna de seu pai, o Marquês de Hyde.

Mirabel discutia em sua mente se entrava ou não na conversa, mas como não conhecia aquele homem e não sabia se seu primo iria achar ruim caso se enfiasse onde não devia, se manteve calada. Após almoçar, pediu licença e subiu para a biblioteca da casa, que lhe foi apresentada por Mary.

Sentia o coração levemente acelerado, mas imaginou que fosse o calor que sentia por estar usando aquele vestido. Usava roupas simples, maltrapilhas e aquela porção de tecido em sua pele a estava deixando com calor e desconfortável, mas provavelmente teria que se acostumar, afinal as roupas dela já deviam estar em alguma pilha de cinzas neste momento. Quando chegaram, a duquesa pediu que entregasse suas coisas ao mordomo e ela não as recebeu de volta.

Estava na biblioteca, quando foi comunicada que o seu professor havia chegado. Provavelmente aprenderia a ler durante essa semana, pois contar não era tão importante para uma dama de sua estirpe, cálculos normalmente eram feitos pelos maridos sobre negócios e administração. Ela precisava aprender a ler e escrever para que pudesse ao menos escrever cartas e ler a lista do seu cartão de danças no baile que iriam, pelo menos foi o que sua tia lhe disse antes de ir para os aposentos.

Apesar de ser tudo novo e ela estar absurdamente cansada, se sentia ansiosa para aprender. Sempre quis ler livros, andava pelo pequeno centro que havia perto da vila onde morava e sempre via placas à mostra para os produtos serem vendidos. Se sentia incompetente por precisar pedir para que lessem as placas da feira para ela ou lhe falassem qual o nome de cada alimento, pois não conseguia ler o que estava escrito em frente a eles. A maioria das pessoas ali também não sabiam, poucos sabiam as palavras básicas que precisavam para sobreviver ali no meio do interior.

Havia um aldeão em especial que sempre lhe dava atenção e a ajudava a comprar as coisas para que não fosse castigada caso chegasse em casa. Sentia falta do homem idoso, mas acreditava que nunca mais iria vê - lo. Era um homem nobre, mesmo que não tivesse dinheiro, sua bondade era honrosa.

Um homem de 40 e poucos anos lhe foi apresentado, tinha o semblante fechado e parecia estar surpreso em ter que ensinar uma dama de 20 anos ao alfabeto. Fez algumas perguntas a ela para analisar seu nível de aprendizado e percebeu que teria que começar do zero.

Mary permanecia ali a seu lado, aproveitando para aprender juntamente com Mirabel. Todos os empregados possuem baixa escolaridade, já que não tinham acesso à educação, somente a nobreza era alfabetizada.

A jovem nobre passou a tarde sendo ensinada o alfabeto. O professor a ensinou as letras e após isso, pediu para que ela escrevesse várias vezes cada uma delas, para que pudesse memorizar as formas de cada uma e também às quais se referia. Eram 18 horas quando o professor foi embora e ela finalmente pôde parar para descansar.

O professor era um homem realmente ranzinza, mas eficaz. Mirabel sentia que logo já conseguiria ler e escrever e então poderia desfrutar dos milhares de livros da biblioteca da casa de sua tia. Olhou os livros sonhadora e suspirou animada.

- Vejo que está feliz, senhorita. - Mary não pode deixar de comentar. Estava gostando muito de trabalhar para Mirabel, que já consquistara o carinho de todos os empregados em tão pouco tempo. Todos se admiraram em como ela era bonita e gentil, encantando a todos que a conhecessem.

A duquesa estava a mesa quando Mirabel desceu para jantar, Antony a acompanhava. Albert tinha saído para cavalgar com Louis, então provavelmente chegaria tarde e não jantaria em casa.

- Boa noite, meus tios. Desculpe fazê - los esperar. - Ela comentou, após se assentar.

- Oh, não se preocupe querida, acabamos de nos sentar. Estou com o corpo fraco, então seu tio me ajudou a descer as escadas para vir jantar. - A sua tia disse, aparentemente ainda indisposta.

- Deveríamos chamar um médico, tia? - Ela perguntou, preocupada.

Antony passou a mão pelo cabelo loiro de sua esposa. Albert havia puxado os traços de sua mãe e ironicamente Mirabel se parecia com ela, os rostos, mesmo sem nenhum laço de sangue. O seu tio era semelhante a Mirabel na cor dos olhos e do cabelo, ela quase parecia ser filha dos dois, ao invés de sobrinha.

- Não se preocupe, sobrinha. Sua tia possui esses episódios depois que viaja por muito tempo, seus ossos são mais fracos do que a maioria de nós, então costumam doer se esforçados demais. - Ele disse, despreocupando Mirabel.

Começaram a comer, Mirabel ainda não havia aprendido como se portar na mesa, mas isso ficaria para amanhã. Quando foi para seu quarto após o jantar, ficou reescrevendo o alfabeto várias vezes e só descansou quando acertou toda a sequência de cor.

Mary a elogiou, dizendo que ela era muito inteligente. Mirabel, na verdade, era esforçada, estava com sede de viver a vida que agora lhe fora devolvida e queria vivê - lá bem.

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