Capítulo 14

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Louis foi embora por volta das 23 horas, quando já estava muito tarde para ficar fora de sua própria residência. O pai de Louis, com a velhice, passou a ter duas cuidadoras, mas mesmo assim Louis gostava de estar sempre por perto para monitorar a situação. O pai dele às vezes testava as empregadas ao limite e ele precisava intervir de vez em quando, caso contrário ele teria que trocar as empregadas de mês em mês.

Mirabel estava agora radiante, feliz porque Louis a havia deixado ganhar no xadrez usando a desculpa de " estar cansado de sempre ganhar", ao que um Albert já acordado do cochilo respondeu "poderia ter deixado em ganhar na última vez que jogamos então", daí ficou de braços cruzados e fechou o semblante em uma espécie de puro drama.

A jovem estava se preparando para dormir quando ouviu batidas na porta de seu quarto, então fechou seu robe de seda branco e caminhou apoiando somente um pé com força no chão até a porta. Ao abrir, se deparou com a tia já vestida em seus traços de dormir.

- Oh querida, te acordei? - Ela perguntou assumindo um semblante preocupado.

- Não tia, não se preocupe, ainda não havia deitado para dormir. - A tranquilizou. - Entre, por favor. Não conseguirei ficar muito mais tempo de pé. - Ela sorriu, começando a sentir a perna sob a qual apoiava o peso de corpo.

- Meu pai - Beatriz coloca a mão na testa. - Como eu sou boba, deixe - me te ajudar. - Ela oferece suas mãos ajudando Mirabel a chegar a grande e afofada cama de casal no centro do enorme quarto.

Assim que terminou de se sentar, Mirabel seguiu como foi orientada e se apoiou nas enormes almofadas cor creme que tinha na cama, colocando uma embaixo do seu tornozelo engessado, deixando ele em uma altura confortável. A tia se assentou em uma poltrona próxima a cama e continuou a segurar as mãos da sobrinha.

- Eu precisei vir falar com você pois esperar a sua melhora me mataria asfixiada com as palavras. - Albert e ela tinham o drama como semelhança sanguínea. Mirabel sorriu docemente para a tia.

- Diga - me o que te atormenta, minha tia. - Ela aguardou enquanto Beatriz ponderava de que maneira seria melhor para começar o que tinha a dizer.

- Bem... acredito que a essa altura já tenha percebido que eu não aprovo muito a pessoa do Sr. Louis. - Ela deu uma olhada para Mirabel, para ver se deveria continuar a falar, Mirabel apenas continuou olhando para ela, incentivando que continuasse e já sabendo o que provavelmente ouviria. - Ele, apesar de ser muito próximo de meu filho. - Ela parou para suspirar e balançar a cabeça negativamente em outro gesto dramático. - Não me agrada como companhia para nenhum de vocês dois. -  Finalizou.

- Mas o que sr. Louis fez para a senhora? - Mirabel continuou com o semblante sem demonstrar nenhuma emoção, desenvolveu essa habilidade ao longo dos anos lidando com seu terrível "irmão". Poderia estar possessa, mas caso quisesse não demonstrava nada.

Beatriz soltou as mãos da sobrinha, para gesticular com elas enquanto falava.

- Oh, para mim nada, querida. - Ela disse, rapidamente. - Mas todos nós sabemos como os boatos a respeito dele mancham a sua imagem. Ele é conhecido como um excluído, justamente por carregar tanta fofoca negativa a seu respeito.

- Ora tia, a senhora sabe que fofocas são apenas fofocas. - Ela respondeu, frustrada com essa conversa desnecessária.

- Ah querida, as vezes as pessoas podem aumentar algo aqui e acolá, mas sempre tem um pingo de verdade. Ele é mesmo um excluído e você neste momento deveria se preocupar em criar uma boa impressão. O que vão pensar se te verem andando com ele por aí? Acabei de saber que ele ainda veio visita - lá neste horário totalmente inapropriado.

- Horário inapropriado? - Essa era nova para Mirabel, que raramente recebia visitas.

- Não se visita uma dama após ás as 18 da tarde! - Comentou a tia, se soltando um pouco na poltrona como se o fardo de ter uma nova " filha" para a cuidar a estivesse deixando cansada demais.

- Bom, eu não sabia disso. Talvez ele também não soubesse, deveríamos avaliar a boa intenção dele vir me visitar por conta do meu machucado. Até então, somente ele se preocupou realmente com meu bem - estar.

- Lorde Belford e sua irmã também vieram visita - lá e devo acrescentar que no horário correto.

Mirabel estava começando a se cansar daquele assunto desagradável.

- Quer me dizer para me afastar dele tia? - Ela foi direto ao ponto.

- De preferência se afaste dele, mas se aproxime de outras pessoas, como os jovens da família Belford. - Mirabel segurou para não ofender James para a tia, ela parecia gostar dele. - Também há
os Neville, os Shelley... - A tia fez menção de listar uma lista de sobrenomes sobre os quais a reputação faria bem a ela, então Mirabel a cortou antes que ficasse a noite toda falando sobre eles.

- Entendi, me manter longe da família Belford e da família Davies e me aproximar das outras famílias. - Ela resumiu e a tia sorriu satisfeita. - Mas, como farei isso, digo, me aproximar dessas novas pessoas?

A tia pareceu surpresa por ela não saber, mas não falou nada rude.

- Bom, aqui em Londres há muitas maneiras de se aproximar de novas pessoas. Podemos ir ao teatro, aos parques, chamar as pessoas para jantarem aqui em Belmonte... Nossa, como pude me esquecer de algo tão importante?

Mirabel ficou um pouco aflita sobre o que a tia poderia ter esquecido.

- O que esqueceu, tia? - Perguntou ela.

- Os Belford gentilmente nos convidaram para jantarmos amanhã na residência deles. - Ela comentou, colocando a mão na cabeça. - Como pude me esquecer de algo assim? Será que devo visitar um médico para ver se estou com algum problema de memória? - Começou a se distrair, então Mirabel a trouxe de volta.

- Não, a senhora está ótima. Mas como eu iria para jantar dessa maneira? - Ela não queria ir de forma nenhuma, não suportava ouvir James falando em seus ouvidos sobre como ele era maravilhoso e ela era uma garota do campo ingênua e péssima em dançar valsa, temia que desse indigestão após o jantar. Mas ir com a perna engessada? Isso era ainda pior do que já seria. - Mal consigo me manter de pé.

- Eu também os questionei sobre isso, mas o senhor James me disse que disponibilizariam um empregado para te ajudar em tudo que você precisasse, inclusive para poder se movimentar.

- Quanta gentileza da parte dele. - Mirabel não gostava de James, mas não podia negar que isso era uma atitude um tanto quanto nobre.

- Ele é um ótimo garoto, vi ele crescer. - A tia colocou as mãos nas de Mirabel rapidamente, enquanto se levantava. - Bom minha querida, me sinto até mais leve agora que finalmente conversei com você. Vou deixar você descansar.

A tia deu um beijo na cabeça de Mirabel e a ajudou a se deitar corretamente para dormir. Por fim a cobriu com o enorme cobertor rosa bebê.

- Que bom que está melhor. - Respondeu Mirabel, depois de já estar confortável.

- Boa noite, querida. - Ela disse, já na porta aberta do quarto.

- Boa noite, tia. - Então a tia fechou a porta e foi para o seu próprio quarto. Todos na casa, além das duas, já dormiam.

Agora era Mirabel que se sentia asfixiada pelas palavras não ditas. Se consolou dizendo que era melhor assim para todos, ela não queria a sua imagem manchada por ninguém, a tia conhecia como funcionava Londres muito mais do que ela e ela não queria desagradá - la criando problemas.

Mas por mais que Mirabel estivesse de acordo com o conselho da tia, teve uma grande dificuldade para dormir nesta noite.


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