Capítulo 18

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Não consegui ir para o treino hoje. Passei a noite acordada me afogando em lágrimas.

Eu liguei para eles. E não deu nada certo, como já esperado...

Ontem, 24 horas antes

— Alô.

— Mãe?

— O que você quer? — pudia ouvir ela bufando.

— Conversar sobre...

— Sobre você ser uma ingrata? Tudo bem. Vamos lá, então.

Senti uma dor no coração.

— Como é que é? Eu? Ingrata?

— Não se faça de sonsa, querida. — odeio quando ela usa essa palavra.

— Vocês dois literalmente passaram o dia tentando usar a droga do meu dinheiro sem me falar e eu que sou a sonsa? — falo tudo de uma vez.

— Somos os seus pais, Beatriz. Você nem deveria ter acesso ao seu dinheiro já que esse clube te dá tudo.

Eu fico incrédula. Que merda que eu estou ouvindo?

— Qual a senha do seu cartão? — a voz masculina do meu pai invade meu ouvido.

— Ele está bloqueado, graças a vocês. — minto, parcialmente.

— Querida, nos dê a senha, damos um jeito.

— Um jeito de usá-lo? Um jeito de torrar o meu dinheiro, que eu conquistei? — rio sarcasticamente. — Eu não espera...

— Se não fosse por nós você nem estaria aí, Beatriz. Para de ser cabeça dura e deixa a gente cuidar do seu dinheiro.

Uma lágrima cai do meu olho.

— Cuidar... vocês nem sabem o que é isso. — o silêncio toma conta. — A senha é a porra do meu aniversário, nem isso vocês sabem.

Mais e mais gotas salgadas caem dos meus olhos, enquanto escuto o silêncio do outro lado da linha. Eu sabia que eles poderiam pesquisar meu nome no google e achar minha data de nascimento, já que não lembram. Mas eu já havia mudado a senha.

"Não é" escuto a voz dela ao fundo.

— Não esperávamos isso de você... Não precisa mais nos ligar, enquanto for... ingrata e egoísta, não precisa mais falar comigo e com a sua mãe.

Paralisei. Meu coração volta a doer, ou o peito, na verdade tudo doía a esse ponto. Ele desliga o telefone.

De volta ao presente...

Lembrando da ligação, as palavras do meu pai rodavam a minha cabeça.

"Não precisa mais falar comigo e com a sua mãe".

Volto a chorar. Era só o que eu sabia fazer.

Eu sei que eles agiram que nem monstros, sempre foram assim, mas eles são meus pais...

Saio do quatro e meu rosto esta vermelho e inchado. Não comi desde o café da manhã de ontem. Tiro o almoço do restaurante da geladeira, esquento e só o cheiro me deu ânsia.

A cara estava ótima mas eu não iria conseguir comer.

As meninas estavam preocupadas com outras coisas, e eu não iria preocupá-las comigo.

Faço e tomo um café preto, única coisa que me desce. Volto para a cama. Temos físico hoje cedo. Mais uma noite sem dormir, eu já estava acordada quando o despertador tocou.

Me arrumei e quando estávamos na porta da academia, os meninos estavam saindo.

Fui fazer meu dia de braço.

— Nossa, você está péssima. — esse merda está em todo o lugar.

— Vai para o inferno, Jake.

Ele me analisa.

— Você comeu hoje? Está palida.

Eu não tinha comido, e sim eu estava pálida. Por isso escolhi o treino de braço, não tenho força para fazer perna hoje.

— Eu não falei para você ir para o inferno? — disse apoiando em um dos aparelhos e olhando nos olhos dele.

— E desde quando eu te escuto?

Revirei os olhos e ignorei sua presença fazendo o exercício.

— Você vai se matar.

Eu fiz duas sequências e estava literalmente morrendo.

— Cala a boca.

Ele finalmente foi embora. Eu estava louca para fazer o mesmo.

Fiz mais alguns exercícios e não estava mais aguentando.

Duas horas na academia quase me mataram. Não tive como passar na rotineira banheira de gelo, eu precisava comer. Eu só não sabia o que.

Quando chego em casa, na porta, avisto uma encomenda. Não uma caixa ou pacote... um saco de delivery.

Pego, e um bilhete está grampeado na parte de trás.

"Para de ser mesquinha (e irritante) e COME. As vezes é difícil odiar você, que ódio"

Mesmo sem força eu abro um sorriso e dou uma risadinha. Sinto meu rosto queimar.

Entro em casa e tiro uma foto desse milagre.

Abri a embalagem e tinha tudo que eu gostava. Outro bilhete. Mas esse não era dele.

"De acordo com seu amigo, você talvez goste disso. Aproveite, eu que fiz. Ass: Lizzie"

Uma gota d'água se forma no meu olho.

Eu não consigo acreditar que ele fez isso... para mim.

Limpo a gota d'água do rosto. Tiro as coisas que ele e Lizzie fizeram para mim.

Dois croissant recheados, cookies, um mini bolo de chocolate e duas garrafas de suco de maracujá. Meu Deus... como ele sabia?

Eu consegui comer sem querer colocar para fora, estava delicioso.

Mandei mensagem para Lizzie, agradecendo e conversamos um pouco.

Eu não pedi o número dele, sabia que o veria a qualquer momento que saísse de casa. Meu coração estava quentinho. Sem acreditar ainda, releio o bilhete daquele idiota. "As vezes é difícil odiar você"...

Isso invadiu meus pensamentos.

Eu pensei que me odiar, era tipo um dom dele. Mas pelo jeito, eu estava errada.

Ultimamente tem sido um passatempo "estar errada". E sinceramente, as vezes é melhor do que estar certa.

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