Não consegui ir para o treino hoje. Passei a noite acordada me afogando em lágrimas.
Eu liguei para eles. E não deu nada certo, como já esperado...
Ontem, 24 horas antes
— Alô.
— Mãe?
— O que você quer? — pudia ouvir ela bufando.
— Conversar sobre...
— Sobre você ser uma ingrata? Tudo bem. Vamos lá, então.
Senti uma dor no coração.
— Como é que é? Eu? Ingrata?
— Não se faça de sonsa, querida. — odeio quando ela usa essa palavra.
— Vocês dois literalmente passaram o dia tentando usar a droga do meu dinheiro sem me falar e eu que sou a sonsa? — falo tudo de uma vez.
— Somos os seus pais, Beatriz. Você nem deveria ter acesso ao seu dinheiro já que esse clube te dá tudo.
Eu fico incrédula. Que merda que eu estou ouvindo?
— Qual a senha do seu cartão? — a voz masculina do meu pai invade meu ouvido.
— Ele está bloqueado, graças a vocês. — minto, parcialmente.
— Querida, nos dê a senha, damos um jeito.
— Um jeito de usá-lo? Um jeito de torrar o meu dinheiro, que eu conquistei? — rio sarcasticamente. — Eu não espera...
— Se não fosse por nós você nem estaria aí, Beatriz. Para de ser cabeça dura e deixa a gente cuidar do seu dinheiro.
Uma lágrima cai do meu olho.
— Cuidar... vocês nem sabem o que é isso. — o silêncio toma conta. — A senha é a porra do meu aniversário, nem isso vocês sabem.
Mais e mais gotas salgadas caem dos meus olhos, enquanto escuto o silêncio do outro lado da linha. Eu sabia que eles poderiam pesquisar meu nome no google e achar minha data de nascimento, já que não lembram. Mas eu já havia mudado a senha.
"Não é" escuto a voz dela ao fundo.
— Não esperávamos isso de você... Não precisa mais nos ligar, enquanto for... ingrata e egoísta, não precisa mais falar comigo e com a sua mãe.
Paralisei. Meu coração volta a doer, ou o peito, na verdade tudo doía a esse ponto. Ele desliga o telefone.
De volta ao presente...
Lembrando da ligação, as palavras do meu pai rodavam a minha cabeça.
"Não precisa mais falar comigo e com a sua mãe".
Volto a chorar. Era só o que eu sabia fazer.
Eu sei que eles agiram que nem monstros, sempre foram assim, mas eles são meus pais...
Saio do quatro e meu rosto esta vermelho e inchado. Não comi desde o café da manhã de ontem. Tiro o almoço do restaurante da geladeira, esquento e só o cheiro me deu ânsia.
A cara estava ótima mas eu não iria conseguir comer.
As meninas estavam preocupadas com outras coisas, e eu não iria preocupá-las comigo.
Faço e tomo um café preto, única coisa que me desce. Volto para a cama. Temos físico hoje cedo. Mais uma noite sem dormir, eu já estava acordada quando o despertador tocou.
Me arrumei e quando estávamos na porta da academia, os meninos estavam saindo.
Fui fazer meu dia de braço.
— Nossa, você está péssima. — esse merda está em todo o lugar.
— Vai para o inferno, Jake.
Ele me analisa.
— Você comeu hoje? Está palida.
Eu não tinha comido, e sim eu estava pálida. Por isso escolhi o treino de braço, não tenho força para fazer perna hoje.
— Eu não falei para você ir para o inferno? — disse apoiando em um dos aparelhos e olhando nos olhos dele.
— E desde quando eu te escuto?
Revirei os olhos e ignorei sua presença fazendo o exercício.
— Você vai se matar.
Eu fiz duas sequências e estava literalmente morrendo.
— Cala a boca.
Ele finalmente foi embora. Eu estava louca para fazer o mesmo.
Fiz mais alguns exercícios e não estava mais aguentando.
Duas horas na academia quase me mataram. Não tive como passar na rotineira banheira de gelo, eu precisava comer. Eu só não sabia o que.
Quando chego em casa, na porta, avisto uma encomenda. Não uma caixa ou pacote... um saco de delivery.
Pego, e um bilhete está grampeado na parte de trás.
"Para de ser mesquinha (e irritante) e COME. As vezes é difícil odiar você, que ódio"
Mesmo sem força eu abro um sorriso e dou uma risadinha. Sinto meu rosto queimar.
Entro em casa e tiro uma foto desse milagre.
Abri a embalagem e tinha tudo que eu gostava. Outro bilhete. Mas esse não era dele.
"De acordo com seu amigo, você talvez goste disso. Aproveite, eu que fiz. Ass: Lizzie"
Uma gota d'água se forma no meu olho.
Eu não consigo acreditar que ele fez isso... para mim.
Limpo a gota d'água do rosto. Tiro as coisas que ele e Lizzie fizeram para mim.
Dois croissant recheados, cookies, um mini bolo de chocolate e duas garrafas de suco de maracujá. Meu Deus... como ele sabia?
Eu consegui comer sem querer colocar para fora, estava delicioso.
Mandei mensagem para Lizzie, agradecendo e conversamos um pouco.
Eu não pedi o número dele, sabia que o veria a qualquer momento que saísse de casa. Meu coração estava quentinho. Sem acreditar ainda, releio o bilhete daquele idiota. "As vezes é difícil odiar você"...
Isso invadiu meus pensamentos.
Eu pensei que me odiar, era tipo um dom dele. Mas pelo jeito, eu estava errada.
Ultimamente tem sido um passatempo "estar errada". E sinceramente, as vezes é melhor do que estar certa.
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Our Match Point
FanficBeatriz, uma jovem atleta brasileira recém chegada nos Estados Unidos para sua nova temporada de voleibol em um dos melhores clubes de Los Angeles, viverá coisas que jamais imaginou viver. A ponteira passadora se vê em conflito quando um rapaz alto...