Hoje começa os playoffs do campeonato feminino, então Andrew nos liberou para assistir de camarote, já que é aqui em casa. É contra um time daqui de perto, são muito boas, mas eu tenho certeza de que vamos ganhar.
— Você vai, não vai? — um dos garotos me pergunta.
Óbvio que irei. Para assistir o jogo. O jogo.
O treino hoje foi de bloqueio, algo fácil quando se é central como eu. Ao final, fomos para a academia que tanto sou obcecado. O feminino não está aqui, e por algum motivo isso me deixa desmotivado.
Ficamos duas horas na academia, um verdadeiro sonho. Em casa, tomei banho e me deitei abrindo o instagram. Aparece a notícia do início dos playoffs, o que me lembra que ainda posso dormir algumas horas antes de ir ver o jogo. O jogo.
Durmo por algumas horas como o planejado. Acordo e tomo outro banho, por instinto. Coloco a camisa do uniforme e um short preto que combina com o tênis branco. Coloco um relógio e uma corrente. Max me manda mensagem perguntando se estou pronto e eu respondo que sim e que podemos ir.
Passo um perfume e vou para a porta, onde meu amigo já me espera. Vamos conversando e ele me pergunta sobre Bia... finjo costume mas começo a ficar nervoso á medida que chegamos mais perto do ginásio.
Entramos e sentamos bem na frente, aonde nossos companheiros de time já estavam acomodados. Elas estavam no aquecimento. Eu me forcei a não procurá-la, deu certo, mas quando o nome dela foi anunciado e ela deu um tchauzinho para a torcida que fez muito barulho, eu não pude evitar.
Os olhos dela brilhavam e as bochechas ficaram rosadas. Ela estava radiante.
O jogo começa com o saque adversário. Elas abrem quatro pontos de vantagem mas depois passamos na frente e com ponto da levantadora fechamos o set.
No intervalo, vou ao banheiro rápido para não perder o início do set.
— Samberg.
A voz ecoa no corredor do lado de fora do banheiro, se não me chamasse pelo sobrenome eu teria ignorado.
— Já veio declarar sua derrota, Cameron?
Ele não parece tão confiante como segundos atrás.
— Cala a boca. — ignoro e vou andando. — Na verdade, vim ver a Bia.
Isso me faz parar. Ele faz silêncio, esperando que eu reaja, mas fico sem o que sentir além de ódio.
— Por que você não vai á merda, hein?
Ele solta uma risada, e abre aquele sorriso que eu facilmente tiraria no soco. Ouço o animador de torcida anunciar o início do set, então volto a andar mas parece que esse merda realmente quer ser agredido.
— Vou para outro lugar com ela depois desse jogo. — usa aquele sorriso sujo de novo.
Meu sangue esquenta.
— Você quer apanhar de novo, cara? Não cansa?
Ele dá passos largos e não fica tão perto de mim, se não, vai ter que olhar para cima para me encarar.
— Ela já é minha. — Cameron diz pausadamente, o que faz meu estômago revirar. — Aquela...
Em um passo chego á sua frente.
— Cala a merda dessa boca antes que eu faça isso.
— Por que você tá tão preocupado? Desde quando você tem alguma coisa com ela?
Eu gelo, prendo a respiração por um segundo pensando se minto para que isso acabe de uma vez mas depois sobraria para ela, ou se digo a verdade. Antes, que verdade?
— Não te interessa, só acho bom você deixar ela em paz. — falo sério e ele ri.
— Você se acha muito amedrontador, não é? Seu merda.
Ele diz isso me empurrando, o que não funciona muito.
— Olha aqui, seu otário, não quero mais ver você falando com a Beatriz. — o ódio toma conta e defiro um murro no olho dele. — Ou eu te encho dessa porra aqui!
Ele tenta me acertar mas agarro o punho dele, a vontade de torcê-lo é grande mas ele é levantador, pelo o menos das mãos ele precisa.
— Não fala mais com ela, você entendeu? — ele não me responde. — Você me entendeu?
— Entendi, droga.
Ele recua, entra e bate a porta do banheiro.
No meu telefone, posso ver que recebi mensagem de Max perguntando onde estou, ignoro e volto para o jogo. O placar estava 18x13 para nós. Max pergunta porque eu estava vermelho e suando, apenas digo "tive que lidar com um otário". Ele fica confuso, mas prefiro não dizer a verdade aqui.
Procuro Bia na quadra mas não a vejo, ela está entre as reservas dando pulinhos para se manter quente. Solto a respiração que não percebi que estava presa, me ajeito no acento e percebo o punho ainda fechado.
Depois disso foi difícil prestar atenção no jogo, e o fato de que Bia não foi mais acionada, dificultou. Acabou que ganhamos de 3x0. Tivemos que esperar a galera da arquibancada sair para sairmos também, as famílias das jogadoras desceram para a quadra, Bia estava procurando alguém, mas depois de ver que a pessoa não apareceu ela foi embora.
Seguimos para fora do ginásio, fiquei feliz pela vitória e permanencia na liga. Eu estava exausto, mas na madrugada de amanhã te um jogo de um time estrangeiro que eu e Max estamos extremamente ansiosos para assistir, então vou dormir na sala dele.
Eu tinha que passar na lavanderia, mas como de costume eu ia encontrar Bia, então preferi ficar sem roupas limpas no armário por enquanto.
Pego minhas coisas e sigo para a casa do meu amigo, compramos fast food e esperamos o jogo. No instagram, os perfis de vôlei anunciavam que amanhã teremos o jogo contra o BS, e que iríamos ganhar fácil. Há quem diz que vamos bater neles nesse jogo, mas eu já fiz isso em um deles fora do jogo.
Tenho que explicar para meu amigo o que aconteceu, e inevitavelmente seu rosto é exibido em minha cabeça. Ultimamente tem acontecido bastante, mesmo eu tentando evitar.
Corto o papo quando meu celular toca e o nome da minha irmã aparece na tela. Atendo a ligação e escuto a voz doce dela, que diz que amanhã vai estar aqui para ver o nosso jogo e termos nosso tempo juntos depois e confesso que essa é a melhor parte.
Tenho falado para ela sobre Bia, contado a "história" brevemente para que ela pudesse me ajudar a entender o que eu mesmo deveria fazer ou falar. Não segui nada do que ela disse, mas não mata perguntar.
Antes de dormir, volto a imaginar os cenários em que estávamos juntos, Bia e eu. Os olhos dela. A maioria das vezes com ódio, mas ainda sim lindos. Minha barriga dói, ainda não sei se ela sabe que agredi o babaca que pedi para que não batesse mais papo. Não fiz o certo, eu sei. Mas sabendo que se ele abrir a boca possivelmente acabo com ele, não tenho muitos motivos para não agredi-lo.
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Our Match Point
Hayran KurguBeatriz, uma jovem atleta brasileira recém chegada nos Estados Unidos para sua nova temporada de voleibol em um dos melhores clubes de Los Angeles, viverá coisas que jamais imaginou viver. A ponteira passadora se vê em conflito quando um rapaz alto...