Capítulo 32

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É madrugada anterior do dia da semifinal e eu simplesmente não consigo dormir. São quase cinco da manhã eu já tentei de tudo para dormir, mas eu não consigo. Minha cabeça parece não querer parar, mas meu corpo implora para isso.

Levanto-me para beber um copo d'água e escuto toques desajeitados na minha porta. Quase cinco da manhã? Pelo amor de Deus. Eu falei com as meninas horas atrás, que também não estavam conseguindo dormir, mas faz tempo que não trocamos mensagens. Minha barriga revira.

Engulo seco e vou até á porta. As portas aqui tem o famoso "olho mágico", não costumo usá-lo pois acho estranho, mas hoje eu gelei tanto com esse toque á essa hora da madrugada, eu tive que usar. Quando vejo um rapaz alto que nem um poste, encostado ma parede, o medo some e a confusão me consome.

— Jake? Tá fazendo o que aqui?

Ele pisca os olhos lentamente.

— Meus pés... eles me trouxeram até aqui. — a voz dele estava arrastada, lenta e enrolada.

Dou dois passos em sua direção e cheiro ele.

— Você tá bêbado? — eu mais me espantei do que perguntei.

— Talvez.

Reviro os olhos. Droga, Jake.

— Cadê seus amigos? Sabia que são quase cinco horas da manhã?

— Não briga comigo.

Um homem deste tamanho fazendo drama por estar alcoolizado, eu mereço.

— Entra logo aqui, antes que eu mate você.

Ele dá um sorriso torto e entra em passos confusos se deitando no meu sofá, o cheiro dele é de bebida forte mistura com perfume masculino. Não sei o que fazer, nem o que falar.

— Bia.

— Fala. — eu não queria que ele falasse, para ser honesta.

— Eu tô com dor de cabeça.

Respiro bem fundo.

— Eu vou no meu quarto pegar remédio, fica aí.

Eu nem sei se gente bêbada pode tomar remédio. No meu guarda-roupa tem uma parte que mais se parece uma farmácia. Pego um remédio de dor de cabeça e vejo a validade, está ótimo. Vejo a hora no celular, minha sorte é que não tenho treino, só o jogo mais decisivo até agora...

Volto para a sala e cadê o maluco que estava deitado nesse sofá? Acho que se eu tivesse dito "saia daí", seria a mesma coisa. Saio procurando ele pela minha casa. Eu não posso gritar então digo "Jake" alto o suficiente para que só esse tapado ouça.

Abro a porta do banheiro e ele está que nem uma criança sentado no chão com as pernas cruzadas de frente para o vaso sanitário enquanto colocava tudo para fora não só lá, como também na própria blusa.

Pelo amor de Jesus. Já orei umas cinco vezes aqui para Deus me dar sabedoria e paciência, não está sendo fácil.

Cruzo os braços e ele olha para mim com aqueles olhos de cachorrinho perdido.

— Não me olha assim...

Eu ri, não sei se fico com raiva ou dó.

— Se sente um pouco melhor?

— Mais ou menos.

Ele se levanta ainda tonto, se apoia na parede e me lembro que ele tem quase cinco metros de altura.

— Você vai precisar de um banho.

Ele ergue a sobrancelha.

— Então some daqui e pega uma toalha pra mim.

Ah, pronto. Ele voltou ao normal.

Eu volto para o quarto para pegar a droga da toalha, como é possível que até embriagado ele é chato?

Deixo a toalha na porta e pesquiso algo que eu possa fazer para que ela beba e se senta meos pior. Chá de camomila parece ser bom. Eu tenho aqui.

Começo a preparar e quando escuto a porta do banheiro fechar, vou até lá para ajudar ele. Ele está com a mesma calça de moletom mas sem camisa, já que vomitou na outra. O cabelo dele bagunçado e molhado... perco o foco por um momento.

— Eu não alcanço seu ombro.

— Eu te faço de bengala.

Ele põe a mão e a força do seu corpo em meu ombro para ter equilíbrio o suficiente para andar até a sala. Deixo ele no sofá e dou o remédio. Sento na parte vazia do sofá.

— Por que você bebeu tanto?

Ele fica em silêncio. Ele ouviu, mas parece não querer responder. Me levanto e pego o chá.

— Toma, agora bebe.

— Eu não quero isso. — ele faz uma cara de nojo para o chá.

— Você não tem querer.

Ele revira os olhos e respira fundo, pega o copo da minha mão e toma. Ele faz careta o tempo todo. Quando termina, ele estende a mão e eu pego o copo.

— Isso é culpa sua.

Escuto sua voz quando estou na cozinha, me causa confusão... e enjoo.

— Como é?

— Eu ter bebido tanto... foi culpa sua.

Eu viro um completo ponto de interrogação. Ele realmente está muito mal, não é possível. Volto para o sofá.

— O que foi que eu fiz?

Jake demora para responder, o raciocínio lento não ajuda.

— Você me deixa confuso.

Ele diz isso enquanto está deitado no meu sofá, sem camisa.

Eu não consigo entender.

— Você, Bia... você me deixa louquinho.

Arregalo os olhos em surpresa. Provavelmente eu estou corando nesse momento. Não sei o que dizer. Eu respiro fundo tantas vezes que perco as contas.

— Jake, você tá com muito álcool no corpo pra pensar. Vai dormir.

Ele se levanta junto comigo, e eu olho confusa para ele.

— Vai pra onde?

— Dormir. — ele fala como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Você vai dormir aqui, nesse sofá.

Jake parece odiar a ideia, ergue a sobrancelha e retruca.

— Eu vou dormir na sua cama.

Puta merda, viu.

— Que seja.

Ele vai se apoiando em mim até o quarto, a luz do sol começa a invadir a janela. Fecho ela enquanto Jake está se ajeitando na minha cama... não posso acreditar.

Eu me sento do lado dele, pego meu travesseiro e digo para que ele não encha mais meu saco, e que ele me deve uma.

— Vai para onde?

— Para o sofá.

Não sei descrever exatamente o olhar dele, parece confusão misturado com espanto.

— Sério mesmo que achou que eu iria dormir com você?

Ele fica em silêncio e desvia o olhar do meu. Nunca vi Jake tão emotivo. Por um momento eu senti uma pontinha de arrependimento, mas eu não podia me aproveitar da situação. Lutei tanto quanto ele para aceitar isso.

— Dorme bem, ok?

Ele manda uma piscadela para mim, pego meu celular e fecho a porta do quarto. Fecho as cortinas da sala e me deito no mesmo lugar que Jake estava minutos atrás. Em minutos pego no sono, eu realmente estou exausta.

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