Croce Et Delizia [3]

1 0 0
                                    

Conceda-me, oh divindade, a serenidade impassível para suportar o fardo da existência por mais uma rotação solar. Perambular pelos labirintos desta morada evoca um paradoxo de audaz tranquilidade. Confrontar aquele que inflige em mim o mais pungente dos tormentos é um deleite inextinguível, pois não necessito sequer alterar a musculatura facial para incutir-lhe pavor. Quão depravado é o toque ágil que percorre o colo do forasteiro no cais de acentos agudos.

Ausente está o cilindro de tabaco para evadir-me quando todos se reúnem, pois a hilaridade é demasiada para que o caos se torne manifesto, ou talvez eu simplesmente ocupe uma posição de conforto incomensurável. O atormentado não anseia pela libertação de seu suplício, mas sim pela fusão com o mesmo, propagando algo que lhe proporcione júbilo acima de tudo. Croce Et Delizia tende a engendrar uma versão deturpada da concepção de término e início, algo que precede, pois possui um arcaico próspero e oriundo religioso, é apenas a forma como é interpretado o letreiro flamejante em um quartel de bombeiros em uma noite pluvial e não há abrigo para meu padecimento, sobra espaço para meu prazer, este, por sinal, não ocupa espaço, afinal não passa de uma quimera que sempre almejei. Desejar mais tempo é uma futilidade temporal.

Aqui reina a escuridão, mas algo em mim prefere assim, ocultar minhas demências e as origens de meus prazeres mais perversos provém da racionalidade através da quitação da insalubridade. Todos percebem, eles vislumbram o pior em mim, todos observam através do espelho, o mesmo que me lacerou apenas uma vez, para nunca mais.

Meus amigos famélicos não poderiam aquiescer mais veementemente.

As Vivências Onde histórias criam vida. Descubra agora