O solidão

Emilie 🩰

Controlo minha respira tentando não pensar de forma impulsiva e pensar com calma, mas não dava, isso me dava medo. A varanda era extensa, ela rodeava toda a parede de vidro da sala e ia até os quartos, também podia acessar a porta da cozinha. Uma parede me separava do quarto então a pessoa não viria de lá. Escondo atrás de uma coluna na área externa enquanto passo minha mão no extintor no chão procurando a arma, ontem eu a vi aqui, quando Josh saiu, não a levou, acho que sobre hoje mais cedo deve ter ficado armado por segurança e a levou me deixando fodida. Escoro minha cabeça pra trás não ouvido mais o barulho.

As luzes se apagam repentinamente, meus olhos custam a se acostumar com a penumbra fazendo tudo ao meu redor ser impossível de enxergar. Forço a mandíbula controlando minha respiração, fecho os olhos percebendo que pelo pouco tempo que estou aqui, eu memorizei a arquitetura e por não ter muito móvel não iria esbarrar em algo, eu só não sabia onde havia deixado os baldes de tinta ou onde estavam as facas da cozinha.

A memória de mais cedo corta minha mente me fazendo lembrar que a porta da cozinha esta entre aberta, pensei em fecha-lá a noite toda, mas não me dei ao trabalho de ir até lá. Vagarosamente caminho em direção a porta da cozinha, ao virar passo a mão pela parede as deixando mais a frente dos meus passos, até que por certeza sinto o batente da porta. Abro os olhos me agachando no chão e engatinhando para trás da ilha de mármore ao centro da cozinha, não me dei a chance de olhar envolta apenas olhei para cima tentando ver onde estavam as facas.

-Levanta.- uma voz grossa faz meu corpo ficar rígido, prendo a respiração não ousando me mover um músculo. Seja lá quem for, ele está ao centro da sala, não me vê aqui embaixo. - Emilie Vicent. Modelo e alcoólatra nas horas vagas.- me levanto indignada, isso foi cruel de se dizer, não ou alcoólatra. Não pude me opor, a sombra estava debruçada sobre a bancada, usava uma máscara que deixava apenas seus olhos a mostra.- Um e sessenta e oito, se formou na faculdade de N.Y em artes. Seus pais são magnatas, sua mãe é atualmente depressiva, seu pai um louco dos negócios.- o mesmo está olhando pro seus dedos enquanto finge contar, até bufa uma risada. Ele sobe a cabeça me olhando.- Um irmão sociopata que é filho de outra mãe, a mesma que se matou. Futura esposa de Wile Killter, atual herdeiro de sua própria da família, e da família Ashby. Wile... um homem bonito, cobiçado, rico. Ashby, Mckenzie Ashby, rica, herdeira de uma das maiores empresas de cosméticos e tecnologia. Sabe o que tem em comum?

Me aproximo vagarosamente, meu intuito era puxar sua máscara. Queria saber como ele sabia tanto sobre mim, não só de mim, sobre todos que me cercam.- Tudo liga aos Killters.- ele rir.- Uma linhagem de dez anos, onde todos os antigos chefes foram mortos por seus próprios filhos, ou foram mortos por um mafioso mais poderoso. Wile não só planejou a morte de se pai, como o seu falecido pai planejou a morte da mãe de Rafaello Vicent.- Paro sem entender, o que isso tudo significava. Se for verdade, Rafaello deve saber disso, preciso contar. Porém, ele não é burro a esse ponto.

É muito informação.

O homem a minha frente tira sua máscara de forma voluntária e a entrega a mim.- Não era o que queria?- não pego o pano.- A mãe biológica de Rafaello é apenas irmã do pai de Wile, no final, o ex chefe a matou por ordens de cima- ele gesticula apontando para cima.- uma mulher corrompida não pode em hipótese alguma tomar conta da família. Mulheres ainda são um objeto, e acho que seu futuro esposo também é assim.- O pano é jogado contra meu peito quando seus passos rápidos vieram até mim. Ele cheirava a um perfume amadeirado.- Primos, irmãos, a esposa prometida, a esposa roubada, amigos roubados. Wile conseguiu tudo que queria matando um por um... Seu pai Vicent, sabe sobre tudo isso, ele nunca tentou ser amigo do seu vizinho, ele sempre os cobrou a verdade, sempre procurou por sua ex esposa até descobri que foi morta.- Não recuo meus passos, no entanto, ele me empurrava com um simples dedo que me faz recuar até encostar na pia. Sentia algo dentro de mim contorcer, as lágrimas estavam sendo barradas pela raiva que eu sentia, eu estava entendendo onde ele queria chegar. Eu não poderia me casar com Wile, e nem ter filhos, meu pai nunca permitiria, meu "sequestro" foi para isso, e seu próximo passos vai ser matar quem for preciso para me fazer dele.

-Wile matou a família de todos que o cercam. Josh Xavier, seus pais foram dopados, sua riqueza foi passada metade para o mesmo e a matade para Wile. Michael Scott, sua mãe já era falecida...

-Para. Não quero ouvir.- Encaro seus olhos negros percebendo quão próximos estávamos, seu hálito cheirava a menta, seu corpo era quente, seu cabelo cheirava a shampoo.

Os seus dedos agarram minha mandíbula.- Ashby, Frederico Ashby foi morto brutalmente a mando do seu futuro genro, o caso foi arquivado como sem provas, mesmo quando Wile foi visto segurando uma arma idêntica ao que o criminoso usou.- Seus olhos descem para minha boca enquanto passava a língua por seus lábios.- Atual Chefe da família Vicent, culpado por agressão doméstica, futuro cadáver. Rafaello vai adorar fazer isso, porque ele acha que sabe de tudo. Mas ninguém sabe, nem Wile sabe quem Rafaello é.

-onde que chegar? Se quer me fazer ficar contra Wile não precisa, sempre fui. Não me importo com quem ele mate. Só que...- Empurro sua mão do meu rosto.-... você sabe muito, acho que deveria ser o próximo cadáver.

Não estava entendendo o que ele queria me dizendo essas coisas, sabia que Wil não era santo, mas na real, também não esperava isso dele. Me dava medo saber que eu iria ser forçada a ficar ao seu lado mesmo com tal reputação. Me encontrava confusa, isso fazia minhas lágrima lutarem para sair. Por cima de tudo, eu o amava.

Ele rir. O silêncio se instala por um tempo até ele se afastar e ir até a caixa de fusíveis escondida atrás de um quadro. As luzes se acendem fazendo a claridade ofuscar meus olhos, minha cabeça doeu por alguns segundos. Levo minha mão até meus olhos em repreensão. Aos poucos me sinto à vontade para abrir os olhos, não vejo o homem de imediato, até que percorro meus olhos até a sala onde ele segurava o pincel em mãos.

Por alguns segundos o ignoro percebendo que aos poucos o céu lá fora ficava mais claro, não demoraria para Josh voltar. Desço meu foco ao homem moreno, seus olhos se voltam a mim, eles eram azuis como os meus, tão claros... ele era bonito.

-Sou hendrick, seu novo guarda costas.- ele sorri, e seu sorriso me fez estremecer, ele era tão lindo. Seu canino se destacava, assim como a mandíbula marcada e seu nariz perfeitamente esculpido. Suas tatuagens corriam por todo o seu corpo, nuca, pescoço, mãos.- E não vou ser morto, sou filho do aliado dos Killter. Só muda que eu fugi e preciso de um emprego.- Hendrick se abaixa mexendo o pincel na tinta.- Porque não cuidar de Emilie.- o mesmo sussurra como se fosse algo ruim.

Me perdia na sua beleza, estava hipnotizada, as verdades ditas agora pouco foram esquecidas quase instantaneamente.- É... e você acha que precisa de um entrada triunfal?-Respiro fundo.- E por que disse essas coisas? Eu realmente não sabia de nada. E Você sabe que não posso fazer nada.

-sim, eu sei. Só queria te contar algo inédito.- ele se lavanta indo fechar a porta que dá pra área externa.- Josh vai fazer ronda aqui ainda, ele pode subir e descer do apartamento, mas eu vou ficar onde você está, vou até dormir aqui. Parece que sabem que você é o ponto fraco do Wil.

Pronto, sentia que tudo não iria acabar tão fácil. Quando eu achei que poderia ter uma conclusão para todos meus pensamentos, chega mais um. Não vou mentir que estava com medo de ficar sozinha essa noite, e Josh saiu como se fosse impossível invadirem esse prédio e matarem todo mundo, nós matamos alguém na frente de várias testemunhas, e agora que eu soube de várias coisas, sei que não é impossível matar alguém e fingir que não foi nada.

Ignoro sua presença, ignoro suas palavras- ele era do tipo que fala muito- apenas saio o deixando lá. Vou até meu quarto onde me jogo na cama percebendo que toda essa confusão e o misto de emoçoes me fez ter sono.