Amy Grace 1

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É tão estranho vê-lo dessa forma, fico observando o caixão enquanto engulo o choro o máximo que eu consigo, papai sempre me disse Querida, não chore se um dia me ver morto, a vida continua

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É tão estranho vê-lo dessa forma, fico observando o caixão enquanto engulo o choro o máximo que eu consigo, papai sempre me disse Querida, não chore se um dia me ver morto, a vida continua. Mas como não chorar? Está tudo desandando faz tempo.

Rezei 3 aves-marias e um pai nosso, sequei minhas lágrimas tentando esconder dele como se ainda estivesse vivo, fui para o último banco da igreja e observei de longe a minha mãe chorando sobre o seu corpo no caixão.

Coitada da mamãe, ela sempre foi uma mulher exemplar, se um dia errou, eu desconheço, sempre cuidou de mim e do papai com muito amor, a melhor coisa que já aconteceu na minha vida foi ter minha mãe como mãe.

Antes de sair, eu precisava me despedir do meu pai, fui até o seu caixão, fiz o sinal da cruz e disse Adeus, John Grace.

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Um mês depois, estou me arrumando para ir para a faculdade, coloquei minha saia longa, minha blusa de manga e, é claro, meu terço, eu tento não esquecer já que foi o papai que me deu.

Eu sempre fui muito religiosa, meu pai me ensinou tudo o que sei sobre a minha religião, sempre rezamos juntos, cantamos juntos as músicas da igreja e sempre fui muito julgada na escola por causa das minhas roupas.

Eu tinha um amigo de infância que morava a um quarteirão daqui, mas ele deixou de ser meu amigo de uma hora para outra, mesmo fazendo bullying comigo na escola dos quinze anos. Até hoje, eu ainda sim rezo por ele, ainda não sei como fomos parar na mesma universidade.

Respirei fundo antes de entrar pela porta da faculdade e receber todos os olhares de julgamento por causa das minhas roupas.

— Olha quem chegou A freira de Saler Viw

Elliot Lockhart, nós éramos tão próximos quando criança, mas se bem que meu pai sempre me disse filha, o diabo gosta de atrapalhar as coisas boas da vida.

Então, sei que o Elliot está sendo usado por ele desde  pequeno, por mais que ele seja meu pior inimigo e o que mais me fez sofrer, eu rezo para ele ser liberto.

— Meu pai acabou de falecer, Elliot, me deixa sofrer o seu luto em paz — respondi.

Pelo menos isso, ele respeitou, saiu sem dizer uma palavra, sinto que ele me persegue, sempre estando no mesmo lugar que eu, na mesma escola, na mesma turma e na mesma faculdade.

— Bom dia, Amy.

— Bom dia, Avni.

Conheci Avni na faculdade, ela foi a única que não me tratou mal e ainda se tornou minha amiga. Depois da aula, a gente tomou um café enquanto ela contava suas histórias da Índia. Ela viveu lá por alguns anos e depois veio morar com a mãe e o padrasto aqui nos EUA.

Eu nem sei como eu reagiria se minha mãe decidisse se casar novamente, ainda não estou pronta para ter um padrasto na minha vida.

Na volta para casa, decidi ir ver o meu pai no cemitério, sentei-me em cima do seu túmulo e fiquei rezando por algum tempo enquanto chorava, sentindo sua falta.

— Você não combina com cemitérios, freira — disse Elliot.

Até isso a gente tem em comum, Elliot perdeu a mãe para o câncer há alguns anos atrás e eu perdi o meu pai em um acidente de carro. Agora,  quando venho visitar meu pai no cemitério, quase sempre esbarro com ele visitando a mãe.

— Vai embora, Elliot.

— É melhor você se recuperar logo dessa sua depressão, quero atormentar sua vida, mas não consigo sabendo que você está aí chorando desse jeito.

Ele falou e saiu, que idiota, quer que eu me cure para me fazer sofrer mais ainda. Voltei para casa observando a paisagem de Saler Viw que é muito bonita. Tirando a parte triste do cemitério que deixa tudo mais acinzentado, o resto é até mais bonito, mais verde, mais alegre.

Quando cheguei em casa, dei de cara com a minha mãe segurando a mão do senhor Carson. Eu me assustei por alguns segundos porque realmente não entendi o que estava acontecendo.

— Filha, que bom que você chegou, temos muito o que conversar, eu não preciso te apresentar o Carson, não é?

Carson? Por que diabos a minha mãe está segurando a mão do senhor Carson Lockart? Pai do meu pior inimigo, que está sendo usado para atormentar a minha vida.

Fiquei paralisada olhando para o rosto dos dois por muitos minutos, estava tentando decifrar tudo aquilo, só tem um mês que o papai se foi, UM MÊS.
Minha mãe ficou me sacudindo para que eu acordasse do bendito transe em que eu estava.

— Filha, sente-se aqui, vamos explicar tudo para você.

Eu sentei-me e ela começou a explicar como tudo "começou" entre os dois, não acredito em começos de um mês, não para um relacionamento.

— Bom, por onde eu começo, eu e o senhor Carson perdemos pessoas importantes nas nossas vidas. Nesse último mês, ele tentou me ajudar a curar as feridas do luto e acabamos nos apaixonando.

— Mas mamãe, papai se foi há pouco tempo, como esqueceu ele tão rápido?

— Não o esqueci, só não posso ficar parada pelo resto da minha vida, querida, você não pode ter outro pai, mas eu posso ter outro marido.

— Vamos nos casar em breve, espero que você e Elliot possam voltar a se dar bem, assim como vocês eram na infância — disse Carson.

— Vocês vão se casar assim, tão rápido? — Perguntei chocada.

— Daqui a uma semana estaremos casados, eles virão morar na nossa casa — disse Ashley.

Não posso acreditar que estou escutando essas palavras saindo da boca da Ashley Grace, minha mãe, a mulher mais coerente que já conheci em toda a minha vida, a mulher mais culta e que, a cima de tudo, amava meu pai intensamente.

— Suba e tome um banho, eles vão jantar aqui hoje.

— Eles? — perguntei.

— Sim, filha, Elliot e Ethan fazem parte da família agora.

Subi um pouco tremula, meu banho não foi agradável, tentei demorar o máximo possível para não descer e ter que dar de cara com ele. Coloquei o vestido longo favorito do papai e desci com os olhos vermelhos.

Na sala de jantar, tinha uma cadeira sobrando do lado do Elliot, que também não tinha uma aparência muito agradável. Ele me olhou com nojo e eu com tristeza. Sempre o achei bonito, olhos claros, cabelos negros ondulados caindo sobre o rosto, alto e um pouco forte.

Pena que toda essa beleza foi apagada pela sua sombra. Já Ethan, irmão mais novo do Elliot, não tinha nem o que falar, ainda está tentando processar tudo. Sua aparência é quase uma cópia do Elliot, só que sem os olhos azuis.

— Queremos que vocês dois possam se dar bem como irmãos — disse Carson.

— Claro, Carson, vou ser um ótimo irmãozinho — Elliot falava debochando.

— Eu gosto da Amy, ela é gente boa, meu irmão que é chato demais — disse Ethan.

— Do lado do quarto da Amy, tem um quarto de hóspedes, pode ficar com ele Elliot, você e o seu irmão podem dividi-lo.

Não posso viver com esse garoto na mesma casa que eu, posso até aguentar o Ethan, que sempre foi um bom garoto, mas o Elliot? É impossível, ainda não entendo por que estou vivendo esse pesadelo, eu tentei não pecar a minha vida toda, não sei o que fiz para merecer isso.

O jantar foi longo e terrível, terminei de comer e me despedi de todos educadamente.

— Vou me retirar agora — falei.

— Eu também, vou conhecer meu novo quarto — disse Elliot.

Subi as escadas enquanto ele subia logo atrás, cheguei à porta do meu quarto e não aguentei, tive que jogar algumas verdades na sua cara.

— Foi você, não foi? você sempre disse que ia acabar com a minha vida, você fez os dois ficarem juntos para me destruir mais ainda, a culpa disso tudo é sua.

— Isso mesmo, jogue fora sua raiva, você está achando a sua vida difícil agora? Você não sabe como foi a minha vida todos esses anos, eu ainda não acabei com você, Amy, ainda não cheguei nem perto de te destruir.

— Sua alma é suja e pecaminosa, eu rezo para que o diabo deixe o seu corpo e pare de te usar para me destruir — respondi.

— Já que você gosta tanto de falar em pecados, é melhor você se preparar para pagar pelos que estão jogados sobre as suas costas.

Entrei no meu quarto e mais uma vez sem entender o porquê de o Elliot me odiar tanto.

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O que vocês acham é ódio mesmo?

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Meu inimigo é o filho do meu padrastoOnde histórias criam vida. Descubra agora