Capítulo 10 - A Cidade Perdida

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O GRUPO DE VISITANTES a que estavam integrados os alunos da UniSan chegou ao início da "Trilha Inca" por volta das dezesseis horas da tarde sob um frio bastante intenso de quase cinco graus. Agasalhados com casacos grossos, luvas, malha térmica e gorros, os estudantes desceram do ônibus a tremer, mas estavam incrivelmente excitados pela aventura que teriam pelos próximos quatro dias.

À frente deles, o guia turístico e a sua assistente — uma jovem peruana de vinte anos — lhes passaram as últimas instruções antes de começarem a jornada rumo às ruínas antigas do santuário inca, depois, saíram na frente, pedindo que os demais os seguissem. Conforme caminhava devagar a fim de economizar energia, o homem lhes falava um pouco da história do local que estavam prestes a conhecer pessoalmente e não houve quem não ficasse fascinado com a paisagem ao seu redor.

— O sítio que estão prestes a conhecer foi descoberto pelo historiador americano Hiram Bringman, em 24 de julho de 1911 — dizia ele, em idioma castelhano. — Naquela época, o sítio jazia coberto pela floresta alta, o que possibilitou que ficasse escondido dos espanhóis que colonizaram esse país e se conservasse até os dias atuais.

Segundo a história contada pelo guia, durante a sua descoberta, o sítio arqueológico ocultava um grande número de esqueletos humanos em seus mais de cinco quilômetros quadrados de extensão. Oitenta porcento dos restos mortais encontrados pertenciam a mulheres, o que só aumentava a curiosidade acerca dos rituais realizados pelos incas naquela região.

— Uma recente teoria diz que Machu Picchu era a cidade das mulheres escolhidas pelos deuses incas, mas até hoje, não se sabe porque ela já estava vazia quando os espanhóis chegaram à região — complementou Juana, a jovem assistente do guia turístico. — A cidade não foi mencionada em nenhum dos relatos escritos pelos conquistadores que chegaram ao Peru em 1531, ou posterior a essa data. O certo é que eles não tiveram conhecimento da sua existência naquele período, embora o abandono da cidade por parte dos próprios incas nunca tenha sido explicado, mesmo anos antes da chegada dos exploradores.

As primeiras horas de caminhada rumo aos demais cinquenta quilômetros de percurso foram interrompidas quando uma tempestade de gelo atingiu os visitantes, os obrigando a armar as suas barracas para se proteger dela. Uma vez acomodados a um dos inúmeros sítios astro-arqueológicos da região de nome Wayllabamba, o guia e a sua assistente percorreram cada uma das barracas, orientando a todos como deviam se proteger do frio abaixo de zero que despencava sobre eles naquele momento.

Algumas horas mais tarde, todos foram instruídos a descansar durante a noite, a fim de que estivessem dispostos a continuar a jornada rumo a Machu Picchu na manhã seguinte. Beatriz e Fabiana se enfiaram em seus sacos de dormir antes de se amontoarem dentro da barraca que haviam levado para o passeio. Se deitaram juntas para que seus corpos se aquecessem, mesmo assim, aquela primeira noite foi bastante difícil de suportar devido à falta de conforto no espaço restrito e ao frio terrível que as fazia perder, inclusive, a sensibilidade dos dedos dos pés e das mãos.

Na manhã seguinte, os estudantes da UniSan saíram em peregrinação por outros sítios astro-arqueológicos como Runkuraqay e Warmiwanusca. Atravessaram caminhos de pedra feitos pelo homem em meio à vegetação subtropical da região e passaram por encostas escarpadas que faziam com que a sua pulsação acelerasse devido à altitude vertiginosa a que estavam expostos. Ali, apesar da rajada gelada de vento que os atingia por entre seus trajes de frio, o soroche ainda podia ser sentido, causando-lhes uma constante falta de fôlego ao longo do percurso.

— Aposto que a Lara Croft nunca precisou passar por isso em suas aventuras — ironizou Fabiana, conforme se agarrava ao bíceps esquerdo da amiga ao seu lado.

— Essa parte tortuosa da trilha e a falta de ar por conta da altitude deve ter ficado de fora na edição dos jogos, Fabi — concluiu Beatriz, o que causou um riso descontrolado nas duas.

Rosa e Dália: O Despertar das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora