Rosa e Dália: O Despertar das Bruxas

Capítulo 16 - Inimigas íntimas

BEATRIZ E FABIANA FORAM instruídas a se sentar no interior de um círculo de fogo cujas chamas atingiam trinta centímetros de altura do chão. Tinham bebido um chá oferecido a elas feito de raízes fortes e folhas de plantas oriundas das florestas peruanas. Em posição de lótus, tiveram que aquietar a mente ainda em ebulição por conta das consequências enfrentadas desde a mudança de Santos, e alucinações assustadoras não demoraram a atormentá-las.

Sem as suas roupas, as garotas sofriam espasmos musculares conforme a sua pele suava. Dentro da câmara oculta sob a superfície de Machu Picchu, tudo era breu além da parede de fogo que as envolvia. Pietra Del Cuzco as circundava apoiada em seu cajado à medida que entoava um cântico antigo, cujas palavras jaziam mortas há bem mais de uma centena de anos. Observava as duas meninas atentamente, traduzindo as suas reações ante o efeito alucinógeno do chá que lhes dera. À espera que a magia dentro delas, enfim, despertasse.

Naquele mesmo dia, antes do amanhecer, Pietra evocara uma vez mais as suas irmãs espirituais no Templo dos Mortos e projetou a sua essência astral para junto delas. Xiara, a sua ancestral inca, percebeu logo a sua inquietação e tentou extrair dela o que lhe afligia.

"Eu encontrei as minhas sucessoras, Xiara, mas não sei se terei tempo suficiente para treiná-las. Ambas são extremamente cruas e o dia em que me juntarei às nossas irmãs no plano astral está cada vez mais próximo. Não sei como acelerar o processo de seu aprendizado".

Em sua forma etérea, Xiara era uma mulher de estatura mediana e cabelos negros como o ônix. No alto da cabeça erguia-se um diadema prateado que ajudava a prender as madeixas lisas. Tinha traços indígenas no rosto como a sua descendente, e uma postura rija e ereta. Olhou com sabedoria para Pietra antes de lhe responder:

"Se essas jovens não possuem o sangue inca, elas não devem ser colocadas como guardiãs do nosso portal, irmã. Tal ato poderia ser extremamente desastroso para o Culto de Inti".

"Elas não possuem herança inca, Xiara, mas descendem de duas castas místicas extremamente poderosas que seriam de grande ajuda para a proteção do plano metafísico. Sinto que se não as recrutarmos agora, o outro lado o fará, tornando as consequências disso ainda mais graves para o mundo espiritual".

Xiara pareceu curiosa quanto a origem das moças em questão.

"De que castas elas descendem, Pietra?"

"Uma delas é da sexta geração de Iolanda Columbus, pentaneta de Alejandro Columbus, o homem que amei e que me foi tirado violentamente há mais de cem anos".

Xiara conhecia aquela história como a palma de sua mão. Mesmo no plano espiritual, fora ela quem ajudou Pietra a seguir os rastros que a conduziram, através das Linhas Ley, até a Espanha, lar materno de Alejandro e da sua odiosa mãe, Iolanda. A esposa de Inti também conhecia os segredos da gestação de Iolanda há vários séculos e os mistérios que envolviam o pai de seu único filho. Quando ela ouviu de Pietra que uma de suas prováveis sucessoras era uma descendente direta daquela linhagem maldita, ela apresentou reservas.

"Você sabe bem o poder incalculável que uma herdeira de sangue dos Columbus pode desencadear, Pietra. Tem certeza que pretende seguir com a ideia de torná-la a sua substituta?"

"Tenho", respondeu a peruana com firmeza. "Iolanda continua por aí, à espreita. Aguardando o momento exato de agir. Ela tem um plano muito bem engendrado para conseguir o poder supremo, o poder que tanto sonhou em conquistar. Se ela descobrir que possui uma descendente de sangue afeita à magia, a amaldiçoada fará de tudo para persuadi-la, e tenho certeza que vai conseguir ludibriá-la. Se eu a mantiver sob a minha supervisão, as nossas chances serão maiores na batalha que está por vir, tenho certeza".