São Paulo. 12 de dezembro.
AINDA FALTAVA MAIS de uma semana para o Natal, mas a casa dos Diniz já estava com a sua fachada inteira enfeitada para as festas daquele ano. Virgínia nunca fora afeita a crendices ou profecias infundadas, por isso, não havia embarcado na histeria coletiva sobre o calendário maia e o fim do mundo. Para ela, o planeta ainda estaria girando no espaço normalmente depois do dia 21, e o Natal daquele ano seria comemorado com muita paz e harmonia.
A mulher de cabelos negros, rosto fino e olhos cor-de-mel abraçou a filha com bastante ternura e sem se importar em borrar a maquiagem asseada com as suas lágrimas. Beijou o seu rosto inúmeras vezes e ficou a analisar a sua expressão bem de perto, se preocupando de imediato com as várias cicatrizes de cortes em seu rosto e, principalmente, com a marca profunda de queimadura que ela tentava esconder na testa com uma franja.
— Oh, meu Deus, Bia! O que foi isso?
— Eu visitei um vulcão em atividade, mãe. Fui descuidada e uma fagulha de lava voou contra o meu rosto. Foi só isso.
— "Só isso"? Você diz uma coisa dessas com essa naturalidade?
Na verdade, eu estava possuída por uma bruxa maligna que pretendia remodelar a realidade com um livro escrito por um escriba de Deus e a queimadura foi feita por uma joia que me ajudou a recobrar a lucidez, mas você não pode saber disso, mãe, pensou Beatriz, com um tom de sarcasmo que havia aprendido com os anos de convivência com Fabiana.
Mãe e filha andaram em direção ao sofá da sala espaçosa e se sentaram lado a lado. A garota perdeu algum tempo olhando a linda decoração natalina que a própria Virgínia havia preparado para aquele ano e não pôde deixar de perceber que o cômodo tinha sido quase inteiro reformado. Nem o sofá era mais o mesmo de um ano e meio atrás.
— Você está mais magra, filha. Não anda se alimentando bem lá onde está morando, não é? Quer que eu mande os empregados prepararem um prato pra você? Eu posso mandar fazer aquele risoto que você gosta...
A mão pousada sobre a coxa da mãe serviu para acalmá-la, para dizer que ela estava sendo superprotetora, como sempre.
— Mãe, não, calma. Tá tudo bem. Eu não tô morrendo de fome, relaxa. Apenas foram meses de muita correria... literalmente!
As duas começaram a se atualizar a respeito do que havia acontecido em suas vidas nos últimos meses. Ambas não se viam e não conversavam há muito tempo e, em poucos minutos do reencontro, Virgínia se emocionou várias vezes, dizendo o quanto sentia falta da filha única na mansão que havia se tornado grande demais depois que ela foi embora para fazer faculdade.
— Eu sinto muito não ter podido entrar em contato com você em todos esses meses, mãe. A realidade é que, na maioria das vezes, eu estava incomunicável mesmo. Eu visitei lugares pelo mundo onde nem havia sinal de telefone... eram uns lugares bem isolados mesmo!
As aventuras ao lado de Fabiana em busca do Tomo de Enoque passavam por sua mente como ao trailer de um filme, mas ela não podia contar detalhes à mãe. Para ela e para todas as pessoas que não estavam envolvidas com o mundo da magia, o sigilo de suas missões precisava ser absoluto.
— Mas, eu achei que ainda ia demorar para você começar a trabalhar com Arqueologia, Bia. Você está só no terceiro ano. Como foi que tudo aconteceu tão rápido?
— Eu ganhei uma bolsa de estudos e, por conta disso, pude fazer um intercâmbio — mentiu ela, na esperança de explicar à mãe as viagens que tinha feito para o exterior do país. — A Fabi foi comigo. A gente acabou visitando um monte de lugares legais. Londres, Istambul, Israel...
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Rosa e Dália: O Despertar das Bruxas
FantasiFabiana Ferraz e Beatriz Diniz são amigas inseparáveis desde a infância. Motivadas pelo sonho de estudar Arqueologia e pelo desejo de se aventurar pelo mundo, elas embarcam em uma emocionante expedição universitária a Machu Picchu, no Peru. Lá, muni...