Epílogo

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ERA UM DIA ENSOLARADO em Santos, litoral de São Paulo, e a cidade estava em polvorosa com a inauguração do mais novo e avançado acelerador de partículas brasileiro, desenvolvido pela UniSan com o apoio de incentivos governamentais. O campus universitário vibrava de excitação, e a atmosfera era eletrizante.

Naquele dia, uma multidão de jornalistas, cientistas e políticos enchiam o prédio de ciências da universidade. Uma quantia muito grande de dinheiro havia sido investida naquele projeto que vinha sendo idealizado há mais de três anos e que pretendia revolucionar inúmeras áreas científicas em todo o país.

Ao entrar no laboratório onde o acelerador seria colocado em funcionamento pela primeira vez, os jornalistas e cientistas foram recebidos por uma atmosfera moderna e de alta tecnologia. O ambiente era um vasto espaço, com paredes revestidas de materiais que garantiam a segurança contra radiação e que também possuíam janelas de observação blindadas, através das quais era possível ver o equipamento.

Do lado de fora havia também muitos alunos dos cursos de Física e Química ansiosos para assistirem em primeira mão a exibição. Na parte interna, apenas um deles havia recebido permissão para perambular pelos corredores e estações do laboratório. Como assistente principal do doutor Sepúlveda Ottoni, Luiz Caio Benítez parecia orgulhoso em fazer parte daquele projeto. Enquanto os técnicos andavam de um lado para o outro fazendo os últimos ajustes da parafernália antes da apresentação, ele revisava todos os protocolos de segurança, os mesmos que garantiriam que tudo ocorresse como o planejado.

Meia-hora antes do acionamento do acelerador, o professor e doutor Ottoni, que tinha sido o encarregado de acompanhar a construção da máquina desde a sua primeira torção de parafusos, abriu espaço para perguntas aos jornalistas. Da cabine blindada onde comandaria a exibição do seu projeto, o professor mandou que o microfone do lado de fora do laboratório fosse ligado e, um a um, os representantes da imprensa passaram a se dirigir a ele com perguntas pertinentes ao momento.

Num dado momento, ainda a alguns minutos da grande exposição, Luiz Caio sentiu a bexiga levemente cheia e saiu da cabine a fim de se aliviar no banheiro do andar. Ainda estava vestindo o seu jaleco branco e havia um crachá magnético de identificação do prédio de ciências da UniSan em seu pescoço.

Andou calmamente até o mictório e, de onde estava, ainda podia ouvir a agitação dos repórteres do lado de fora. Enquanto voltava para lavar as mãos na pia do banheiro, foi surpreendido por um jornalista que o havia seguido até ali.

— Olá, boa tarde. Eu me chamo Roger Luchetto, represento a revista "Em Foco" do Espírito Santo. Vi que você é assistente do projeto do doutor Ottoni. Posso fazer algumas perguntas?

Luiz parou um segundo ainda com as mãos molhadas e observou o sujeito a invadir o seu espaço. Era jovem, possuía estatura quase tão alta quanto a dele e mantinha um sorriso convencido no rosto.

— Você me seguiu até o banheiro?

— Eu não quis incomodar. Só quis sair na frente dos meus colegas do lado de fora. São muitos jornalistas e eu achei que não daria tempo de perguntar o que eu preciso saber antes da exibição.

— E o que você quer saber?

— É verdade que é a divisão de ciências e tecnologia da companhia Drachen quem está financiando esse projeto do acelerador de partículas brasileiro? Muita gente alardeou que foram os incentivos fiscais do governo que tornaram possíveis a idealização e a construção do equipamento, mas tenho fontes confiáveis que dizem que esses "incentivos" vieram de empresas privadas como a Drachen Company, por exemplo.

— Não sei nada a esse respeito. Eu sou só o assistente contratado pelo doutor Ottoni. É ele quem deve responder essas perguntas.

Luiz Caio secou as mãos em um papel toalha arrancado do seu suporte e, em seguida, começou a se dirigir à saída do banheiro. O jornalista o segurou pelo braço, com mais uma pergunta na ponta da língua.

Rosa e Dália: O Despertar das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora