Capítulo 34 - Ruína, Morte e Recomeço

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A MULTIDÃO SE COMPRIMIA NA Champs-Élysées enquanto Adenike serpenteava pela avenida, desviando de turistas distraídos e vendedores ambulantes. Conduzia Fabiana e Beatriz desesperadamente, sem perdê-las de vista. Os seus passos ecoavam no mármore polido. Cada som amplificado pela adrenalina crescente que as três sentiam naquele momento.

— Ali! Um ponto de táxi. Rápido!

Falando em espanhol, com um sotaque estrangeiro carregado, a nigeriana apontou para a via estreita onde alguns veículos apareciam enfileirados, aguardando por seus passageiros. Tão logo deixou que as jovens embarcassem pela porta de trás do sedan, ela assumiu o banco do passageiro e orientou o motorista em francês.

— Para a Gare du Nord, por gentileza.

O homem ajeitou o retrovisor pouco antes de perguntar à mulher:

— Alguma preferência de rota para chegar à estação ferroviária, madame?

— Sim. Vá pela Rue du Faubourg Saint-Honoré para evitar tráfego.

Antes que tivessem tempo de concatenar as ideias, as duas garotas se viram inquietas no banco traseiro. Beatriz fazia caretas sentindo o joelho esfolado, enquanto Fabiana olhava para trás ansiosa, querendo garantir que a bruxa capaz de cuspir bolas de fogo não as tivesse seguido.

— Aquela vadia... soltava fogo pela boca! Você viu aquilo?

O motorista se espantou com o tom de voz enervado da brasileira que agora falava português, sem se preocupar em saber se Adenike a compreendia em seu idioma materno. Beatriz improvisou um lenço que trazia no bolso da calça como uma faixa para cobrir o machucado. Apertou bem o seu nó na esperança que o sangramento estancasse.

— Me perdoem pelo tremor de terra. Eu precisava fingir que estava ajudando Mahara a capturar vocês. A ideia era levá-las vivas para o esconderijo do Pacto, mas quando a indiana se descontrolou e ameaçou assá-las em brasa, eu tive que nocauteá-la.

Adenike possuía um forte sotaque africano na voz, mas as meninas conseguiam compreender o seu espanhol com perfeição. Enquanto parava em frente a um semáforo vermelho, o chofer deu outra olhada na mulher ao seu lado e ficou prestando a atenção em seu linguajar exótico.

— E quem garante que isso não faz parte do plano? Que você só está fingindo que do nosso lado pra nos levar direto pra aquela múmia espanhola?

Adenike sacudiu a cabeça em negativa no momento em que a luz verde se acendeu acima da sua cabeça. O motor do táxi rangeu uma vez mais e o motorista se pôs a seguir o seu caminho em direção à ferroviária Gare du Nord, a cinco quilômetros de distância da Champs-Élysées.

— Eu sou parte da missão que as trouxe até a França. Eu estive em contato com Conor Rice em Londres e fui instruída a ajudá-las em sua jornada até o Tomo de Enoque.

— Você conhece Conor Rice? — quis saber Beatriz, ainda lutando para desacelerar a sua pulsação.

— Eu treinei com ele e outros aprendizes há muitas décadas, quando o Conciliábulo Dubhghaill começou a recrutar novos guardiões para os Portais do Infinito.

— Vai querer nos convencer de que você é guardiã de um dos portais?

Fabiana ainda apresentava reservas quanto à sinceridade da nigeriana de olhos grandes virada em sua direção.

— Passei anos defendendo o portal de Socotra antes de ser designada por Rice e Caihong Chen para me infiltrar no séquito de Iolanda Columbus. A minha missão era me fazer passar por uma bruxa das trevas para descobrir os segredos da mulher que arruinou a vida da mentora de vocês, e que matou pelo menos outros dois guardiões de portal, incluindo Raul Calderón.

Rosa e Dália: O Despertar das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora