Capítulo 31 - O Pacto das Sete

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ERA PRIMAVERA NA EUROPA e a temperatura estava amena em Toledo, uma cidade conhecida por sua rica herança cultural e arquitetônica, localizada na região central da Espanha. O casarão ocupado pelo Pacto das Sete, num dos bairros históricos de Toledo, era uma construção imponente do século XV, com uma fachada de pedra desgastada pelo tempo e coberta de trepadeiras que se entrelaçavam nas paredes. As janelas eram altas e estreitas, com vitrais coloridos a projetar uma luz suave e colorida para o seu interior. A porta principal era de madeira maciça, ornamentada com ferragens antigas e uma pesada aldrava de bronze em forma de gárgula.

Na área interna da propriedade, era possível sentir o cheiro de madeira antiga e cera de vela. O chão era feito de largas tábuas de carvalho escurecido, que rangiam sob os pés, e as paredes eram cobertas por tapeçarias importadas do Oriente. Lustres de ferro forjado pendiam do teto alto, com velas tremeluzentes que lançavam sombras dançantes ao redor do salão. O ambiente principal tinha sido originalmente uma sala de banquetes. No centro dele, uma enorme mesa de madeira escura dominava o espaço. Era repleta de marcas de uso e, ao seu redor, cadeiras de espaldar alto, estofadas em veludo vermelho, eram ocupadas pelas sete mulheres.

— Irene encontrou em Toledo vestígios históricos que nos levam a crer que o grimório de Enoque fez mesmo parte dos Manuscritos do Mar Morto. Quer esclarecer mais sobre o seu achado às demais, Irene?

Iolanda Columbus estava sentada à cabeceira com o rosto sisudo iluminado pela luz gerada por um candelabro que encimava a mesa. O clima naquela sala era íntimo e conspiratório, o que ficava ainda mais evidenciado pelo semblante das demais mulheres que se voltaram para Irene, sentada à direita de sua líder.

A espanhola de Zaragoza tinha à sua frente uma pilha de livros antigos, mas apenas um deles estava aberto em uma página específica. Junto aos volumes que pareciam datar de séculos atrás, jaziam também espalhados alguns mapas e pergaminhos, além de um globo terrestre que ladeava instrumentos de navegação.

— Hoje, todas nós sabemos que os Essênios eram uma seita dedicada à preservação de textos sagrados. Eles viveram na região do Mar Morto, entre o século I a.C. e o século I d.C. Esses homens copiavam e guardavam inúmeros documentos considerados de extrema importância em sua biblioteca, mas tiveram que esconder e proteger em cavernas o seu material com a destruição do Segundo Templo [1], em 70 d.C. — Irene gesticulava conforme expunha as informações que conseguira em seus estudos recentes. Os cabelos frisados estavam armados e ela apresentava um brilho incomum em seus olhos castanhos.

Mahara estava sentada de frente para Irene e tinha um ar questionador exalando em sua fisionomia. Aparentava quarenta anos e mantinha os cabelos negros presos numa longa trança que chegava até o cóccix. Tinha pele escura, olhos grandes e usava bangles [2] tradicionais da sua cultura indiana em torno das mãos. Foi ela quem levantou a questão a seguir:

— E o grimório de Enoque fazia parte desse acervo escondido?

— Se não fosse tão ansiosa, minha cara Mahara, você teria ouvido o restante da minha narrativa antes de levantar questionamentos desnecessários!

A filha de Bangalore, ao sul da Índia, franziu o cenho, mas não quis debater com Irene, que continuou o que estava dizendo.

— O tomo escrito a próprio punho por Enoque jamais passou de uma lenda. Provavelmente, criada pelas mesmas pessoas que tentaram difundir os seus conhecimentos através dos séculos. O que se sabe de concreto é que um desses escribas Essênios foi agraciado por visões e sonhos que lhe ensinaram tudo que Enoque aprendeu após o seu trasladar ao Céu, muito tempo depois que ele já havia conhecido os segredos do universo. Entre esses aprendizados, Enoque, ou alguma outra entidade que falava em seu nome, transmitiu ao escriba feitiços de imensa complexidade e poder, capazes de arruinar deuses e criaturas cósmicas. O homem teria tomado nota de cada um desses textos e os reproduziu em manuscritos detalhados décadas mais tarde.

Rosa e Dália: O Despertar das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora