Capítulo 18 - A dança dos ventos

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A MONTAÑA DEL VIENTO era um pico da Cordilheira dos Andes que atingia facilmente mais de seis mil duzentos e setenta metros de altitude, além de dois mil e quinhentos e quarenta metros de proeminência topográfica. Pertencia à Cordilheira de Vilcabamba, a muitos quilômetros de Lima, a capital do Peru, e era considerado o ponto mais alto da cadeia de montanhas que integrava os Andes.

Pietra, Fabiana e Beatriz saíram em sua pequena caravana pouco antes do nascer do sol e chegaram ao pé da montanha por volta das oito horas da manhã. Começaram a subir a inclinação por uma trilha talhada em pedra e tiveram que suportar a temperatura quase negativa do exigente outono andino até que alcançassem uma área mais protegida do vento cortante que soprava daquela altura, pronto a derrubá-las em direção aos precipícios ao seu redor.

As garotas brasileiras usavam ponchos fabricados em lã grossa presenteados a elas por Pietra, mesmo assim, o isolamento térmico da vestimenta não era o suficiente para mantê-las aquecidas. Mesmo com casacos resistentes por baixo, ambas tremiam de frio e sentiam os membros inferiores fraquejarem à medida que a subida se tornava ainda mais íngreme.

— Continuem andando. Temos que chegar até o topo. Nem pensem em desistir!

A velha peruana vinha atrás delas montada em Phutuq, a sua lhama de estimação. O animal ruminante mastigava lentamente as gramíneas com a qual a sua dona o alimentava ao longo da caminhada e não parecia nem um pouco afetado pelo frio extremo que as mulheres enfrentavam rumo ao topo da montanha.

À certa altura da peregrinação, as duas garotas se afastaram o bastante da bruxa a ponto de iniciarem um diálogo que, muitas vezes, acabou interrompido pela falta de fôlego de ambas.

— Sou só eu ou você também começando a achar que essa ideia de largar tudo pra viramos aprendizes dessa velha maluca foi a maior burrice das nossas vidas?

Beatriz se apoiou por um instante no bastão de madeira que usava para firmar o caminho sobre a neve e o gelo que cobriam boa parte da trilha em direção ao cume. Respirou fundo tentando puxar um ar que lhe faltava àquela altura e precisou molhar a garganta com saliva antes de responder a amiga:

— Ela não é maluca e tenho certeza que se está nos fazendo passar por esses perrengues climáticos, é porque tem um bom motivo pra isso.

Fabiana franziu o cenho e deu uma olhada discreta por sobre o ombro. Pietra vinha sobre a sua lhama a uns onze metros de distância, andando calmamente.

— Ainda tenho dificuldades para acreditar em qualquer uma das histórias que ela conta — disse a ruiva, bastante ofegante. — Se ela faz mesmo parte de uma convenção de bruxas poderosas, por que ela não quer que a gente conheça os seus amigos? Por que não nos apresenta à tal vampira herdeira de sangue da feiticeira mais poderosa do planeta?

— Ela quer que a gente se concentre primeiro em nosso aprendizado aqui em Machu Picchu, Fabi. Tenho certeza que quando for a hora e tivermos controle sobre o que quer que tenhamos herdado de nossas ancestrais, Pietra vai nos apresentar a eles.

Fabiana parou por um instante, pensativa. Em seguida, comentou:

— Acha mesmo que nós duas vamos conseguir dar conta do recado?

Beatriz soltou ar pelas narinas e resfolegou, aguardando a continuação das indagações de Fabiana.

— Tipo, nós não somos guerreiras nem nada parecido. E se tivermos que lutar contra demônios, deuses ou múmias? Como vamos nos virar? Eu mal frequentava as aulas de Educação Física na escola. Era péssima em vôlei e em handebol... como vou combater caras que podem jogar carros e caminhões em cima de mim com a minha coordenação motora de uma zebra manca?

Rosa e Dália: O Despertar das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora