Rosa e Dália: O Despertar das Bruxas

Capítulo 46 - O poder de Iolanda

NUVENS ESPESSAS SE formavam no céu caótico do Entremundos conforme o ribombar de trovões anunciava a chegada de uma tempestade. Abaixo da abóbada escura, uma ventania cada vez mais furiosa soprava contra as valentes aprendizas de Pietra Del Cuzco, que assistiam à mudança climática repentina com assombro.

— Parece que a Iolanda ficou um pouco zangada com a gente. — A uma distância de quinze metros da bruxa que agora controlava os elementos ao seu redor, Fabiana cobria o rosto das rajadas de vento e sentia os cabelos se agitarem em seu rabo-de-cavalo. — E aí? Qual vai ser a nossa estratégia, Bia? Vamos as duas pra cima de uma vez ou é melhor cercar a velha, cada uma de um lado?

Beatriz ainda estava levemente aturdida, sofrendo com os efeitos colaterais da magia arcana que havia dominado a sua vontade na última hora. De onde estava, conseguia enxergar a expressão raivosa no rosto macilento da espanhola e temia o que podia acontecer nos próximos minutos.

— Tá doida, Fabi? Esqueceu o que a Pietra nos disse caso a gente encontrasse com essa mulher pelo caminho? Ela nos mandou fugir sem pensar! Não temos condições de bater de frente com ela!

Um relâmpago cruzou o céu acima de suas cabeças, iluminando o firmamento agora cada vez mais sombrio.

— Beleza então. Abre um portal mediano aí pra gente fugir. — disse Fabiana, cheia de sarcasmo. Beatriz parou atônita, com as mãos voltadas para cima, sem saber o que dizer. — Nós não sabemos invocar portais, Bia. A gente só conseguiu chegar aqui por intermédio de Pietra e as outras esposas de Inti. Foram elas que nos instruíram a abrir a passagem pelo Entremundos. Estamos presas com essa bruxa e, a menos que a gente caia na porrada com ela e a derrote, eu não vejo qualquer outra alternativa de permanecermos vivas.

A corrente elétrica furiosa que partiu de uma nuvem acima delas atingiu o solo entre as duas, as arremessando em direções opostas. Antes mesmo que conseguissem se situar, uma névoa esbranquiçada tomou o território rapidamente, dificultando a sua visão. A voz de Iolanda reverberou como que potencializada pelos ecos retumbantes que as cercavam, agredindo a sua audição.

— Vocês não têm com o que me desafiar. São cruas em suas habilidades e não passarão de petiscos com que eu saciarei a minha fome por vingança!

O chão estremeceu sob os seus pés antes que conseguissem se levantar. Separadas por uma distância de quase dez metros, as duas aprendizas viram uma fenda começar a se formar entre elas, engolindo toda a terra que se interpunha no caminho.

— Usa o seu poder para controlar a terra, Fabi. Pare o que ela está fazendo!

A voz de Beatriz chegou ao outro lado ecoante e foi respondida da mesma maneira.

— Quem disse que eu controlo a terra? O meu negócio é controle do fogo. Eu não sei impedir terremotos. Use você as colunas de água pra acertar essa maluca. Faz ela parar!

— Que coluna de água? Tá vendo alguma água aqui?

— Você quase me afogou com uma coluna de água agora há pouco, Beatriz. Dá um jeito!

A dupla não teve chance de chegar a um consenso quando os tremores se intensificaram na intenção de enterrá-las vivas sob toneladas de pedras. Sem equilíbrio para tentar emanar uma de suas esferas flamejantes e detonar a parede de terra prestes a encobri-la, a garota sardenta soltou um grito antes de ficar imóvel, sentindo o oxigênio a rarear em sua prisão terrestre rapidamente.

Uma coluna d'água, então, se precipitou de baixo dela, oriunda dos lençóis freáticos do Entremundos, pronta para conduzi-la até a sua liberdade. Em um esguicho forte o bastante para abrir passagem pela terra solidificada que começava a se formar em torno de si, Fabiana foi projetada para fora da sua cova profunda, rolando no chão com o corpo quase inteiro coberto de lama. A dois metros dali, Beatriz movia os braços feito a uma feiticeira elemental, controlando o seu elemento de origem e desafiando o poder de Iolanda Columbus.