Capítulo 14 - O chamado da magia

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A ESCURIDÃO JÁ HAVIA TOMADO o lado de fora da câmara quando Pietra reuniu as duas garotas em torno de um círculo vermelho desenhado no chão e começou a lhes explicar a respeito do Culto de Inti, uma cabala antiga formada por mulheres feiticeiras que realizavam rituais em nome do deus Sol.

— Eu descobri por meio do Templo de los Muertos que a minha ancestral, Xiara, era o braço direito da líder dessa seita e que era ela quem preparava os rituais antes da chegada do seu deus. Segundo ela, Xiara foi fecundada pelo próprio Inti durante uma dessas cerimônias que ocorriam aqui, nesse lugar, e gerou todos os seus descendentes num dos palácios superiores de Machu Picchu.

— Então, você não é só descendente de uma mera cultista. Você descende do próprio Inti?

Beatriz ainda estava bastante afetada pelo que havia descoberto a respeito da sua própria ancestralidade há pouco tempo, mas a sua curiosidade histórica não a deixava descansar. Ela precisava ter a sua sede por saber saciada.

— Há várias interpretações para o que Xiara quis me dizer a respeito de ter sido fecundada por Inti. Pode ter sido no sentido literal, mas também pode ter sido de maneira figurativa. Não se tem notícias de homens que frequentavam as reuniões do culto, mas é possível que sacrificar alguns deles fosse parte do próprio ritual em homenagem a Inti.

— E como esse lugar conseguiu se manter escondido todo esse tempo? — era a pergunta de Fabiana, que já havia aquietado a sua vontade de sair dali depois que a noite caiu por completo sobre a cidade. — Não é possível que a gente tenha sido as duas únicas enxeridas em tantos anos de turismo a Machu Picchu que conseguiram abrir a passagem por onde caímos!

Pietra mantinha-se apoiada em seu cajado. Estava sentada em um banco baixo feito de vime e mascava uma folha de coca com a boca murcha.

— O que sabe sobre Enoque e a sua linguagem, Pelirroja?

Fabiana não havia entendido a pergunta. A sua expressão deixou isso bem claro.

— Nunca fui muito de ler a Bíblia — respondeu ela, sem muita certeza. —, mas imagino que ele tenha sido algum tipo de anjo ou arcanjo, certo?

Beatriz também parecia em dúvida. Conhecia aquele nome, mas não sabia de onde.

— Enoque não é muito citado na Bíblia cristã, mas é amplamente mencionado em outros livros sagrados pelo mundo, em especial, nos livros apócrifos judaicos. Não se sabe ao certo se ele é mesmo o criador do idioma que feiticeiros do mundo todo passaram a usar para conversar com os anjos ao longo dos séculos, mas é de conhecimento entre os praticantes de magia que a linguagem enoquiana é a maneira mais poderosa de se canalizar a força necessária do Céu ou do Inferno para a Terra.

As duas garotas se entreolharam com certo temor em sua face.

— A inscrição que você leu na pedra diante da abertura que as trouxe até o templo de Inti, Pelirroja. Ela foi marcada ali em idioma enoquiano. Somente um praticante experiente de magia poderia lê-la. Ao fazê-lo, você abriu o portão entre as pedras e, por isso, a sua amiga despencou pelo precipício.

A ruiva se arregalou.

— Ei, espera um minuto! Eu nem me lembro de ter lido inscrição alguma. Eu tava tirando fotos das ruínas antes de ouvir a Bia me chamar. Quando olhei, ela já estava despencando pelo barranco. Eu nem saberia reconhecer uma inscrição enoquiana!

Beatriz estava sacudindo a cabeça em negativa. Pietra agora as observava em silêncio.

— Não foi bem isso que aconteceu, Fabi. Você se abaixou para tirar uma foto da inscrição riscada na pedra e, quando se levantou, começou a ler com perfeição o que via pela tela de cristal da máquina. Você entrou num tipo de transe e não me respondia mais. Começou a ler aquelas palavras repetidas vezes, até que eu me senti empurrada pra trás e acabei caindo pela abertura na parede da ruína.

Rosa e Dália: O Despertar das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora