Capítulo 17 - Desafio de fogo e água

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AS MENTES DE BEATRIZ E FABIANA transcenderam o espaço físico que ocupavam no momento em que o chá alucinógeno ingerido por elas fez efeito. Como que conectadas psiquicamente, as jovens brasileiras se viram flutuando em um ambiente desconhecido onde conseguiam atravessar superfícies sólidas, além de voar a alturas impensadas para os corpos mortais de onde se viam agora desprendidas.

"Isso não é possível!", repetia a sardenta, sem conseguir controlar o voo. "Eu me sinto leve... como se pudesse voar em qualquer direção, pra qualquer lugar!"

A voz psíquica de Fabiana chegava à sua mente, mas Beatriz só conseguia sentir um estranho formigamento na pele translúcida. Quando tentava se tocar, num ato infantil de provar que ainda estava acordada, falhava de maneira retumbante, com os dedos tão intangíveis quanto a própria cútis.

"Onde a gente ? Pra onde estamos indo?"

Em poucos segundos, as garotas avistaram de cima, a uns vinte metros de altura, uma espécie de palácio inca todo construído em ouro. O brilho dourado emanado dele ofuscava a sua visão e elas quase não puderam perceber quando uma mulher de longos cabelos negros as recepcionou à frente de um portão largo de batente arredondado.

"Venham por aqui, irmãs. Eu vou lhes conduzir pelo resto do caminho".

Enquanto elas flutuavam em direção à mulher de traços indígenas, a sua audição foi agredida por sons terríveis do que se assemelhavam a feras avançando em um ataque coordenado. Quando pararam para prestar a atenção, estavam sendo perseguidas por criaturas aladas, cujas asas de couro pareciam rasgadas e disformes. Protuberâncias pontiagudas atravessavam a pele da cabeça, emergindo feito chifres de seus crânios. E de suas bocarras escancaradas escapava um odor pútrido, misturado a um gás cáustico que era expelido enquanto eles rosnavam.

"Isso é um pesadelo!"

O palácio dourado parecia ser a única alternativa de fuga, e foi para lá que elas flutuaram. Foram recebidas pela mulher de curvas sinuosas no traje rústico que vestia, depois, testemunharam o clarão emitido por uma de suas mãos que serviu para afastar, por ora, o avanço mortal dos demônios que tentavam se aproximar para feri-las.

Uma vez dentro da construção inca, Beatriz e Fabiana reconheceram a sua anfitriã. Ela era uma versão mais jovem e vistosa de Pietra Del Cuzco, a mulher que lhes ajudara a despertar o seu lado místico e que esperava conduzi-las além dos caminhos tortuosos da magia.

"As criaturas que viram do lado de fora são a representação astral de todos os perigos que cercam um praticante de magia inexperiente, alguém que não esteja preparado para os conflitos que certamente irá enfrentar ao longo da vida".

A voz da mulher de olhos escuros soava em tom de afirmação. As duas garotas se viram impelidas a ouvi-la.

"Vocês retornaram a mim dispostas a terem as suas mentes abertas para o mundo místico que ignoraram desde a infância. Por essa razão, terão que aceitar a minha orientação sem pestanejar".

Beatriz ainda parecia incomodada em se ver semitransparente, incorpórea, e externou a sua insatisfação:

"Aquele chá que bebemos... é por causa dele que estamos alucinando? Você nos drogou, Pietra?"

"Não havia meio mais rápido de lhes oferecer a experiência transcendental que as educaria em termos sobrenaturais do que por meio das raízes com que produzi a bebida que tomaram", ela fez uma pausa para que ambas olhassem para o seu entorno dentro do palácio inca. Elas seguiram a sua mão e viram as janelas do lugar infestadas pelos monstros que tentavam a todo custo invadi-lo. "Acredito que conseguem enxergar as criaturas a se debater, tentando entrar nesse espaço límpido de contemplação e meditação." Elas fizeram que sim à afirmação. "Agora imaginem que aqui dentro é o planeta onde vivem e que as paredes do palácio representem as defesas que impedem que criaturas malignas o invadam, causando desordem. Como bruxas a serviço do conciliábulo que eu represento, esse será o papel que vocês vão exercer em boa parte do seu tempo: proteger o plano terrestre da invasão de seres capazes de destruí-lo".

Rosa e Dália: O Despertar das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora