O RETORNO À SUPERFÍCIE de Machu Picchu foi quase tão cansativo quanto a chegada à cidade pela Trilha Inca. Beatriz e Fabiana estavam estafadas quando, enfim, alcançaram a saída oculta por trás de uma parede do Templo das Três Janelas. Procuraram pela bagagem de mão que uma delas havia perdido pouco antes de cair no abismo, porém, não a encontraram em lugar algum. Deduziram logo que o grupo que as acompanhava no dia anterior tinha achado e levado consigo, por isso, decidiram seguir o seu caminho com apenas aquilo que tinham a mão: alguns soles [1] que haviam guardado por dentro da roupa íntima para caso de emergências como aquela.
De Machu Picchu, a dupla levou vinte minutos para chegar até o ponto de onde partia o ônibus com destino a Águas Calientes, uma cidadezinha de onde saía o trem de volta para Cusco. Usaram as últimas reservas de dinheiro que tinham para pagar a passagem do coletivo e, ao longo das três horas que durava a viagem, permaneceram em silêncio profundo, apenas lembrando todas as aventuras que tinham vivido nos últimos quatro dias, bem como tudo que estavam deixando para trás.
De volta ao hostel onde elas e os estudantes da UniSan tinham se hospedado pouco antes do passeio até Machu Picchu, as perguntas inevitáveis começaram a surgir por parte dos seus amigos. Ambas haviam desaparecido ainda nas primeiras horas da visita à Cidade Perdida peruana e todos ficaram extremamente preocupados, achando que algo de grave as havia acontecido. O machucado na testa de Beatriz e o corte no rosto de Fabiana chamavam bastante a atenção.
— Foi tudo burrice minha — atenuou Fabiana, enquanto era abraçada por Isabela, a mais emocionada com o retorno das duas. — Eu insisti em entrar por uma câmara fechada no entorno da cidade e acabei forçando a Bia a me acompanhar. Estava escuro e nós duas caímos por alguns degraus. Ficamos presas lá dentro, sem chance de nos comunicar com o lado de fora. Quando anoiteceu, decidimos recuperar o fôlego e tentar nos libertar assim que o sol nascesse novamente.
Era uma mentira descarada, mas serviu para acalmar os jovens estudantes que a ouviam atentamente, já preparados para deixar o Peru e retornar ao Brasil.
— O guia turístico chegou a acionar as autoridades peruanas para procurar por vocês duas — dizia Moacir, com um inédito semblante sério no rosto. — Eles tentaram achar vocês por várias horas, em um monte de lugares, mas não conseguiram. Quando começou a escurecer, as buscas foram suspensas e a gente foi orientado a partir de volta para Cusco.
— Nós não íamos deixar vocês pra trás — reforçou Judite. —, mas o guia insistiu para que voltássemos em segurança para o hostel. Ele garantiu que as autoridades locais iam continuar as buscas por vocês hoje cedo e que iam achá-las. Que bom que deu tudo certo!
Beatriz e Fabiana ainda perderam mais algum tempo contando aos amigos a história que haviam combinado no caminho sobre a câmara onde tinham ficado presas por quase um dia inteiro. Embora compreendessem a importância arqueológica de se encontrar uma descendente inca viva no subsolo de Machu Picchu, ambas sabiam que deviam manter a existência de Pietra Del Cuzco secreta. Elas deviam as suas vidas à mulher, por isso, achavam que não podiam expô-la aos amigos ou ao mundo.
A viagem de retorno à Bolívia e de lá até o Brasil ocorreu sem mais contratempos. Voltar a respirar sem dificuldades e não sentir a constante náusea que as acompanhava na altitude dos Andes foi a melhor parte. A pior, foi ter que retornar ao seu cotidiano mundano. Longe das cidades de pedra, dos caminhos tortuosos por encostas perigosas ou as câmaras secretas de um lugar que a tudo inspirava o fantástico.
Alguns dias depois da sua volta a Santos, as aulas na faculdade de Arqueologia recomeçaram e todos tiveram muito a relatar aos demais colegas de sala. Até mesmo os professores se viram ansiosos para saber como tinha sido a Trilha Inca enfrentada pelos estudantes, e o que não faltou foi emoção em recordar todo o passeio de Porto Suárez até Machu Picchu. Beatriz e Fabiana haviam perdido todo o material fotográfico que produziram durante a viagem, por isso, não tinham nada para mostrar. Isabela e Sandra cuidaram dessa parte, exibindo a todos as belas imagens que haviam fotografado e filmado ao longo de toda a sua viagem.
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Rosa e Dália: O Despertar das Bruxas
FantasyFabiana Ferraz e Beatriz Diniz são amigas inseparáveis desde a infância. Motivadas pelo sonho de estudar Arqueologia e pelo desejo de se aventurar pelo mundo, elas embarcam em uma emocionante expedição universitária a Machu Picchu, no Peru. Lá, muni...