Capítulo 1

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Olá! Como estão?
Será que vocês irão suportar mais uma história minha? (Espero que sim!)

A trama desta fanfic veio de uma edição incrível da @mzn_editz no TikTok! Como de costume nas minhas histórias, teremos um romance lento, drama e muito sentimentalismo. Muito obrigada por ler! Até breve <3


      Miranda segura a sua segunda taça de vinho em uma das mãos, e na outra tem o papel que carrega três parágrafos de mais uma das cartas que nunca chegarão ao seu destinatário. A editora-chefe da maior revista de moda dos Estados Unidos (quem sabe do mundo) se pergunta quando foi que se tornou tão familiar sentar-se à sua mesa de trabalho e deixar que as palavras percorressem a folha de papel à sua frente. É uma cena triste, pensa Miranda, dando ênfase ao fato que se trata de um sabádo a noite e ali está ela, colocando seus sentimentos à mostra e sendo fraca. Bem, 'à mostra' é um termo muito forte, uma vez que as cartas da editora jamais serão lidas por um outro ser humano que não seja ela mesma, mas ainda assim, o ato de assimilar o que sente e conseguir colocar para fora, é uma grande feito para alguém como Miranda Priestly.

Após ler o que escreveu e sentir um frio no estômago que conhece há mais tempo do que gostaria, Miranda suspira e toma o último gole do vinho que restava no fundo da taça, afasta-se gentilmente da mesa para abrir uma das gavetas e acomoda a nova folha de papel ali dentro. A carta passa a fazer companhia para ao menos mais dez outras que estão nas profundezas da gaveta de escritório. Miranda pondera se deveria manter os escritos em um lugar mais seguro, talvez protegidos por chaves, mas quem em sã consciência mexeria em suas coisas?

Com os olhos pesados e a cabeça um tanto zonza devido às taças de vinho, Miranda chega a conclusão que está no hora de ir para cama, mesmo que seja apenas para encarar o teto por um interminável período. Ela sabe que não conseguirá pregar os olhos por mais de três horas, mas o que ela pode fazer? Seu corpo parece não entender a palavra "descanso" há pelo menos 20 anos. "Em algum momento seu corpo e mente irão paralisar por exaustão, Miranda", ela ouve a voz de Vivian, sua psicóloga, em algum canto da sua cabeça. Sim, Miranda está fazendo terapia, quem diria, não é? Apenas Cassady e Caroline seriam capazes de convencer a "rainha de gelo" a se sentar na frente de uma completa estranha para confessar seus sentimentos.

Apesar de meses de relutância, Miranda precisava admitir que está satisfeita com as sessões de terapia. Conversar com uma desconhecida e que era muito bem paga para escutá-la, trazia certo conforto para a editora.

Vivian não estava interessada em bajular Miranda, menos ainda em receber algum benefício além das suas horas pagas de terapia.

Na primeira sessão, Miranda se recusou a falar, decidiu que ficaria completamente calada, apenas esperando que aqueles infernais 50 minutos passassem. Vivian não fez perguntas para a editora, se limitou a oferecer uma xícara de café (que Miranda recusou, estava inaceitavelmente frio) e ficou concentrada fazendo anotações em um pequeno bloco de notas.

Miranda suspirou, revirou os olhos e na sua costumeira voz baixa e cortante, disse:

"Você me faz lembrar dela."

Vivian desviou o olhar do bloco de notas e encarou Miranda com curiosidade antes de perguntar:

"Do que você está falando?"

A editora apontou o queixo em direção à Vivian, e com desdém esclareceu:

"O bloco de notas. Andrea, minha antiga assistente, andava de um lado para o outro com um estúpido bloco de notas." - Miranda se arrependeu de trazer a lembrança de Andrea à tona. Mal eram 8 horas da manhã de uma terça-feira e ela já estava pensando na jornalista. Ótimo, seu dia foi arruinado. - "Você não tem um celular ou algo menos arcaico para fazer suas anotações?" - perguntou Miranda com veneno na voz.

"Porque você prefere um celular? Vai te fazer pensar menos na sua antiga assistente?" - perguntou Vivian em tom irônico, que imediatamente fez Miranda ficar vermelha de raiva, mas em alguma medida, também a fez simpatizar com a psicóloga. Naquele dia, a editora falou pela primeira vez de Andrea em quase três anos.

A ideia de escrita veio em uma sessão que Miranda literalmente sentiu seu corpo endurecer ao ouvir a pergunta "Porque você detesta, Andrea?". O nó que se instalou na sua garganta parecia ser capaz de matá-la por sufocamento. Preocupada, Vivian afirmou mais de uma vez, que Miranda não era obrigada a responder nenhuma de suas perguntas, especialmente aquelas que lhe causavam desconforto.

"Não estou desconfortável." - afirmou Miranda entredentes e com a voz sufocada. Vivian ficou em silêncio, deixando que a sua paciente voltasse ao menos ao tom normal de pele, e não aquele vermelho que começava a surgir no seu colo e parava em suas bochechas.

Depois de longos minutos de Miranda encarando um dos quadros da sala de Vivian, a psicóloga pergunta:

"Como editora chefe, você ainda escreve para a revista?" - a pergunta chama a atenção de Miranda, que passa a encarar Vivian, deixando a atenção ao quadro de lado - "Quer dizer, você escreve, certo?"

Claro que Miranda escrevia, como a editora chefe de um meio de comunicação, não poderia escrever? Além disso, a carta editorial ao leitor, que saía mensalmente na contracapa da Runway, era inteiramente redigida por Miranda.

Miranda sentiu vontade de responder "É claro que eu escrevo, faz parte do meu trabalho, idiota." Mas a expressão simpática de Vivian faz a editora voltar atrás e decidir por apenas dizer:

"Sim, eu sei como escrever, se é isso o que você está perguntando."

Vivian concorda com um gesto da cabeça e com o cuidado de alguém que está prestes a tocar em um felino machucado, sugere calmamente:

"Eu acredito que escrever será uma ótima maneira de você se comunicar consigo mesma ou com ... Andrea." - Miranda pisca algumas vezes, o que essa maluca está sugerindo? Pensa consigo mesma e quando abre a boca para dar uma das suas respostas capazes de fazer diretores executivos chorarem, sua psicóloga continua:

"As cartas não serão enviadas. Será uma forma de você colocar tudo para fora. Entende o que quero dizer?"

Miranda acha a ideia patética, para não dizer outra palavra. Sentiu vontade de rir, gritar, chorar e gritar na frente de Vivian, mas, como de costume, manteve a máscara de indiferença no rosto.

"Não vou fazer isso." - respondeu Miranda simplesmente, acreditando que Vivian iria insistir naquele absurdo, mas a psicóloga apenas afirmou:

"Está bem."

A sessão chegou ao fim, Miranda se levanta da cadeira sentindo dores musculares devido à tensão a qual foi submetida. Se limita a dizer um 'obrigada' à mulher com quem passou os últimos 50 minutos e quando Vivian pergunta 'Nos vemos na próxima semana?" Miranda se surpreende ao ouvir a si mesma dizer: 'Sim." em vez de apenas ignorar a pergunta e sair andando, para então aparecer na terça feira seguinte às 8h em ponto em frente ao consultório de Vivian.

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora