Capítulo 12

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Miranda precisou de alguns segundos para entender o que havia acabado de ler. Andrea já estava na sua porta, e ela precisava agir. A editora se levantou da cama e olhou-se no grande espelho do quarto. Estava sem maquiagem, vestindo apenas um robe e, nos pés, pantufas. Miranda estava prestes a se deitar para — tentar — dormir, e agora tinha visita. E não era uma visita qualquer, era Andrea.

Com uma rapidez que a deixou um pouco tonta, Miranda trocou o robe por uma calça e uma camisa de linho. Embora a ideia de receber Andrea apenas com o robe a deixasse estranhamente animada, ela sabia que não podia fazer isso. Não era como se estivesse tão desesperada pela atenção da jovem a ponto de se apresentar de maneira tão... ousada.

Conforme os anos passavam, Miranda se sentia cada vez mais pressionada a manter sua jovialidade. A pressão estética sobre as mulheres já era algo difícil de suportar, mas, para Miranda, editora-chefe de uma revista de moda, as exigências quanto à sua aparência eram absurdas. Ela havia se acostumado a uma rotina interminável de skin care, maquiagem, pilates e outros procedimentos para manter sua aparência "no lugar". Porém, dentro de casa, Miranda se recusava a estar presa a tantas imposições estéticas. Sabia que já não tinha mais 30 anos — por Deus, ela já tinha 55 —, mas ainda se considerava muito atraente, e sabia disso. Decidiu que receberia Andrea sem um pingo de maquiagem. Trocou as pantufas por sandálias sem salto e desceu as escadas até a porta de entrada.

Quando abriu a porta, Miranda foi recebida por aquele sorriso que sempre a deixava desnorteada por alguns segundos. Andrea usava um vestido azul-claro, uma jaqueta preta de couro, e os coturnos pretos davam um ar despojado à jornalista. Seus cabelos caíam soltos sobre os ombros. Não era exatamente o tipo de roupa que Miranda estava acostumada a ver durante as inúmeras provas com as modelos da Runway, mas não pôde deixar de achar a jovem estonteante.

Miranda abriu a porta e deu espaço para Andrea entrar. Apenas quando ambas estavam dentro da casa, a jornalista disse:

"Boa noite, Miranda."

A editora-chefe ainda precisava se acostumar com a forma como Andrea a olhava. Seus grandes olhos castanhos não tinham pudor algum em investigar cada parte do corpo de Miranda. Quando Andrea era sua assistente, ela tomava muito cuidado para não ser pega olhando por tempo demais para a chefe, mas agora, essa preocupação havia ficado completamente de lado. Talvez Miranda devesse ter mantido o robe.

Andrea estava ocupada tirando os sapatos quando ouviu a pergunta:

"Há quanto tempo você estava na minha porta?"

A jovem sorriu, mexendo na franja — um gesto que sempre capturava a atenção de Miranda — e respondeu:

"Dez, quinze minutos."

Miranda arqueou a sobrancelha.

"Não me olhe assim, não sou uma psicopata. Eu só estava com saudades e vim te ver."

Essa Andrea definitivamente não era mais a ex-assistente de Miranda, aquela que, apesar de sempre dar sua opinião e ter saído com notas altíssimas em disciplinas de debates na faculdade, jamais encararia Miranda nos olhos para dizer algo tão sincero quanto "estava com saudades." Mais uma vez, a mulher mais velha precisou se recompor diante de sua visita, que, claro, não deixou de perceber o efeito que causava em Miranda e sentiu-se satisfeita consigo mesma.

Andrea então abriu a grande bolsa que havia trazido e tirou de dentro uma garrafa.

"Pode colocar na geladeira, por favor?" — Miranda arregalou os olhos ao ver do que se tratava: vodka. Ok, era sábado à noite, mas Andrea deveria saber que, se Miranda tomasse mais de um gole daquela bebida, ficaria de cama pelos próximos dois dias. Aliás, quem em sã consciência bebe vodka depois dos 25?

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora