Na semana seguinte, Andrea aceitou a oportunidade oferecida pelo New York Times. A jornalista não imaginava o quanto sua vida se tornaria uma enorme confusão a partir do momento em que decidiu se mudar literalmente para outro continente. O idioma era o menor de seus problemas, já que Andrea falava italiano, o que inclusive foi um dos principais critérios para sua escolha para o cargo. O verdadeiro desafio estava na organização e no planejamento.
Ela tinha apenas um mês para se mudar e, durante esses trinta dias, mal teria tempo para respirar: procurar apartamentos em Milão, despedir-se de amigos e familiares, colocar seu apartamento em Nova York para alugar, além de lidar com inúmeros pequenos detalhes que só uma mudança de país exige.
Felizmente, Benedict permitiu que Andrea deixasse seu cargo atual para se concentrar inteiramente na mudança, já que havia uma pessoa pronta para substituí-la. O dia de esvaziar seu escritório, onde trabalhou pelos últimos três anos, não foi fácil. Uma onda de nostalgia, medo e ansiedade tomou conta dela, obrigando-a a se sentar por alguns minutos para acalmar a respiração.
Naquela tarde, Alice, uma das jornalistas que Andrea mentorou no jornal, disse que precisavam conversar com urgência e a levou até uma das salas de reunião no quinto andar. Lá, uma festa surpresa a aguardava com cerca de 30 pessoas, balões, chapéus de aniversário (que não faziam muito sentido, mas eram a decoração de última hora que conseguiram), e faixas com frases em italiano parabenizando Andrea pelo novo cargo, além de muita comida.
Quando voltou para casa naquela noite, Miranda já a esperava em seu apartamento com o jantar pronto e taças de vinho sobre a mesa. Era difícil acreditar que aquela cena era real. A editora estava sendo mais do que apenas uma namorada apoiando as decisões de Andrea; ela era uma peça fundamental no processo de mudança. No momento que Miranda pediu uma cópia da chave do apartamento, Andrea ficou surpresa e, no mínimo, confusa, mas a editora explicou que, dessa forma, seria mais fácil ajudá-la.
Para o espanto— e quase infarto — de Irv, Miranda reduziu sua carga de trabalho na Runway, alegando que naquele mês precisaria dar prioridade à sua vida pessoal. Como a revista não podia correr o risco de perder a editora por completo, caso houvesse uma demissão, Irv foi obrigado a aceitar a demanda de Miranda.
Após dar um beijo em Miranda e ficar alguns segundos abraçada à mulher mais velha, Andrea afirmou que tomaria um banho e em seguida desceria para o jantar.
"Você está bem?" - perguntou Miranda olhando para o rosto de Andrea, que tinha uma expressão de cansaço tomando conta dos seus traços.
"Estou bem, apenas exausta, o dia foi cheio"
Miranda balançou a cabeça em compreensão e deu um beijo na bochecha da jornalista.
"Vá tomar o seu banho, querida. Depois do jantar, te ajudo a relaxar, o que acha?"
A voz de Miranda era carregada de cuidado e compreensão, algo que a editora vinha demonstrando cada vez mais.
"Parece ótimo, já volto" - respondeu a morena antes de dar um selinho em Miranda e seguir para o banho.
Com todas as responsabilidades que uma mudança exigia, Andrea mal tinha tempo para pensar nas consequências de sua escolha para o relacionamento com Miranda. Alguns dias após saber sobre a oportunidade na Itália, Miranda deu sua resposta: ela não se mudaria com Andrea. O coração da morena pareceu parar por alguns segundos, e, apesar de tentar esconder a tristeza, Miranda percebeu o quanto a notícia a abalou. A frustração e o medo nos olhos de Andrea eram inconfundíveis, fazendo com que Miranda se sentisse péssima por causar aquele sofrimento.
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Cartas de Miranda
FanfictionPassaram-se três anos desde que Andrea decidiu abandonar seu cargo como assistente pessoal de Miranda. A saída da jovem não apenas abalou profundamente Miranda, mas também a fez perceber, tarde demais, que estava apaixonada por Andrea. No entanto, o...