Capítulo 9

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Quatro dias já haviam se passado desde o encontro entre Andrea e Miranda na Runway. Ao deixar o escritório da editora-chefe, Andrea se sentia imbatível, como se pudesse enfrentar qualquer obstáculo e transformar seu amor por Miranda em seu maior e único objetivo. No entanto, à medida que os dias passavam, sua confiança cedeu lugar à apreensão.

A certeza de que não desistiria de Miranda ainda estava presente, mas Andrea não sabia exatamente como começar algo que, em sua mente, parecia tão simples: estar com Miranda, independentemente das consequências. Por isso, ainda não havia procurado sua ex-chefe pela segunda vez.

Andrea já não tinha mais o número de telefone de Miranda, pois, em um ato infantil, havia jogado o celular em uma fonte três anos antes, em Paris. Aparecer novamente na Runway também não parecia uma boa ideia; ela não queria abordar Miranda outra vez em seu ambiente de trabalho, cercada por tantas pessoas famintas por qualquer fofoca sobre a vida pessoal da rainha do império da moda. Considerou simplesmente aparecer na porta de Miranda, mas só a ideia lhe causava náuseas. A última vez que esteve na mansão da mulher mais velha, fora para entregar o Livro; além disso, seria uma invasão total da privacidade de Miranda. Andrea não era uma perseguidora, pelo amor de Deus.

Decidida a traçar um plano para os próximos passos de sua missão de "conquistar Miranda," Andrea se levantou do sofá, onde havia passado pelo menos uma hora perdida em pensamentos mirabolantes, e foi até a cozinha.

Estranhamente, cozinhar lhe trazia uma sensação de calma e ajudava a clarear e organizar seus pensamentos. Na época em que namorava Nate, Andrea sequer se dava ao trabalho de chegar perto de uma panela, afinal, tinha um cozinheiro em casa. Mas, após o término, ela se viu obrigada a cuidar das próprias refeições. No começo, foi difícil — sua comida era praticamente intragável —, mas, aos poucos, foi criando gosto pela cozinha, chegando até a cozinhar para amigos nas noites em que se encontravam.

Enquanto as músicas de Sylvie Vartan enchiam a cozinha, Andrea cantava animadamente, preparando os ingredientes para um macarrão à carbonara, que seria acompanhado por uma garrafa de vinho que havia comprado no caminho de volta do trabalho. Era uma sexta-feira, e, no dia seguinte, Andrea não precisaria trabalhar, então poderia se dar ao luxo de tomar a garrafa inteira de vinho e se encher de massa sem se preocupar.

Enquanto Andrea se deixava embalar pela letra de "L'amour c'est comme une cigarette", não pôde deixar de pensar em Paris e se perguntar se, assim como ela, Miranda também gostava de músicas francesas. Com um aperto no peito, Andrea se deu conta de que sabia muito sobre Miranda Priestly, a editora chefe da Runway, mas pouco — ou quase nada — sobre seus gostos mais pessoais e íntimos: qual seria seu cantor preferido? Gostaria mais do verão ou do inverno? Qual livro havia mais marcado sua vida? Será que ela gostava de filmes? Miranda definitivamente deveria ter um cinema privado em casa, pensou Andrea; não havia como alguém como ela não se inspirar em atrizes de cinema ao se vestir.

Aliás, será que alguém já havia dito a Miranda o quanto ela se parecia com Meryl Streep? Andrea sempre pensava em Meryl quando olhava para Miranda e, levando em conta que a atriz de Hollywood era uma das paixões platônicas de Andrea desde a adolescência, a jovem quase teve um treco quando viu Miranda pela primeira vez.

Andrea estava distraída, cantando e dançando ao som da parte instrumental de "La Maritza", quando ouviu a campainha tocar insistentemente, demonstrando que, quem quer que estivesse do outro lado da porta, já deveria estar ali há algum tempo. Deixando a música no volume mínimo, Andrea então olhou para o relógio na parede e constatou que já eram quase dez da noite. Era tarde e ela não estava esperando ninguém. Preocupada, Andrea desligou o fogão e foi até a porta a passos apressados.

Ao abrir a porta, seu coração disparou e, ao mesmo tempo, um sorriso involuntário surgiu em seu rosto.

"Miranda?" — perguntou Andrea, como se não pudesse acreditar que a editora-chefe estava ali, à sua porta. No instante seguinte, sua expressão mudou para uma mistura de surpresa e desconfiança. — "O que você está fazendo aqui? Como você sabe onde eu moro?"

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora