Capítulo 14

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Andrea já não sentia mais vergonha do fiasco que foi seu primeiro beijo com Miranda. Na verdade, era difícil sequer se lembrar do ocorrido após o segundo beijo que as duas trocaram, que praticamente a deixou sem um neurônio funcionando — um beijo que só poderia ser descrito como de tirar o fôlego (literalmente).

Miranda voltou da cozinha com um copo d'água nas mãos e uma expressão presunçosa no rosto. 

A editora sentou-se novamente no sofá e entregou o copo para a jornalista.

Enquanto bebia a água, Andrea sentia o olhar intenso da mulher mais velha. Então era isso que significava "comer com os olhos"?, pensou Andrea. Era quase patético perceber que bastava um simples olhar para que ela se derretesse na frente de Miranda.

Após colocar o copo vazio na mesa de centro, Andrea se virou completamente para Miranda, que estava com o rosto apoiado em uma das mãos, seus olhos brilhavam, e um sorriso quase invisível surgiu em seus lábios — mas Andrea era observadora o suficiente para notar que ele estava ali.

"Pare de me olhar assim." - pediu Andrea categoricamente, embora o pedido não fosse verdadeiro, uma vez que faria qualquer coisa para Miranda continuar a fitando daquela maneira.

"Assim como?"

A voz de Miranda soou inocente, a sobrancelha arqueada, como se realmente não tivesse ideia do que estava fazendo.

"Você sabe como."

Andrea se aproximou de Miranda até que, finalmente, pôde tocar seu rosto. Miranda não se esquivou do toque, como Andrea temeu que poderia acontecer; pelo contrário, a editora parecia confortável ao sentir as pontas dos dedos de Andrea deslizando suavemente pela linha de seu maxilar, contornando seus lábios em seguida. Andrea era delicada, tocava Miranda como se ela fosse uma obra de arte, ou uma divindade que, a qualquer momento, desapareceria. Não era apenas o olhar de admiração que revelava o que Andrea sentia por Miranda — seu corpo também parecia ser atraído, de forma magnética, ao da editora.

Quando o toque suave alcançou a clavícula de Miranda, ela estremeceu. De olhos fechados, deixou-se ser completamente envolvida por Andrea, permitindo-se respirar por completo o perfume da jornalista — uma fragrância que já conhecia e que, por muito tempo, lhe provocara uma mistura de saudade e ressentimento, mas que agora desejava ter em sua própria pele.

"Você é tão linda, Miranda," sussurrou Andrea. Miranda não respondeu; manteve os olhos fechados, sentindo o coração bater cada vez mais forte no peito e a respiração, aos poucos, se acelerar.

Quando ainda era apenas sua assistente, Andrea costumava imaginar como seria tocar a pele de Miranda. Passara muito tempo divagando em suas fantasias sobre a ex-chefe, mas nada se comparava ao que sentia naquele momento. Muitos viam Miranda como uma pessoa dura, inflexível, fria, e imaginavam que isso provavelmente se refletia em seu corpo. De fato, ela era uma mulher de postura ereta, olhar firme, e corpo contido, como se tomasse o máximo de cuidado para não deixar transbordar os sentimentos que carregava dentro de si, de modo que seu corpo funcionava como uma espécie de prisão das emoções. Talvez, até certo ponto, isso fosse verdade. Mas Andrea agora tinha o privilégio de ver e sentir que Miranda era um universo inteiro por si só — muito mais do que sua postura contida, sua voz baixa, e seus gestos milimetricamente calculados.

Sob o toque de Andrea, Miranda se revelava... humana. Não havia esforço em demonstrar indiferença; na verdade, era exatamente o oposto. Os pequenos tremores de seu corpo, os lábios levemente entreabertos, e os arrepios em sua pele eram indícios claros de que a "rainha de gelo" não era nada fria ou alheia às sensações. Era deslumbrante presenciar Miranda Priestly se permitir sentir.

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora