Capítulo 28

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Era uma quinta-feira, e Andrea estava exausta. Enquanto voltava para casa depois de um longo dia no New York Times, a morena se deu conta do peso que sentia não apenas em relação às demandas do trabalho, mas também da sua vida pessoal. Seus pensamentos ainda giravam em torno de Miranda. As duas não se viam e nem tinham se falado desde o coquetel de encerramento do evento de comunicação no último sábado. Andrea havia dado um ultimato à mulher mais velha, e embora, no fundo, temesse que Miranda decidisse encerrar de vez o relacionamento que mal haviam começado, ela sabia que não tinha outra escolha. Ou Miranda se comprometeria de verdade, entregando não apenas o seu corpo, mas também sua confiança, ou infelizmente não haveria espaço para Andrea na vida da editora chefe. 

Ao chegar em seu prédio, o porteiro entregou algumas correspondências a Andrea, que subiu para o apartamento ansiosa por um banho quente e uma taça de vinho. As últimas noites foram difíceis, e ela mal conseguia pegar no sono, virando de um lado para o outro na cama, sentindo que sua mente poderia explodir a qualquer momento com tantos pensamentos embaralhados.

 Apesar de querer conversar com Lily, a ideia de dizer em voz alta o que estava sentindo parecia inconcebível, então ela fez o que julgou ser melhor: guardou tudo para si; o medo de nunca mais ver Miranda, o desejo de pedir demissão e, ao mesmo tempo, o pavor de se afastar do NYT, entre tantos outros pensamentos que a deixavam estressada e aflita.

Enquanto tomava banho, sentindo a água quente escorrer pelo corpo, Andrea fechou os olhos e se perguntou por que Miranda ainda não havia entrado em contato. Já fazia dias desde o coquetel, e a cada hora que passava, Andrea chegava à conclusão de que Miranda tinha feito sua escolha: não aceitaria estar em um relacionamento com ela, tampouco pediria desculpas. Talvez devesse ser assim, afinal. Provavelmente, Andrea havia se permitido sonhar demais ao imaginar que poderia realmente estar com Miranda, que poderia alcançá-la e conhecer quem Miranda era de verdade, além das máscaras, muros, traumas e tantas outras restrições emocionais.

Depois de muitos dias, Andrea se permitiu chorar. Deixou que as lágrimas escorressem pelo rosto, misturando-se à água que caía do chuveiro, como se, de algum modo, isso tornasse o choro mais aceitável, como se o banho pudesse levar embora sua frustração e tristeza, ainda que soubesse que não era possível. Sentiu algo parecido com injustiça, parecia que o universo havia lhe mostrado, de forma cruel e sarcástica, o quanto era bom estar com Miranda, apenas para, no momento seguinte, tirá-la completamente de Andrea. De repente, a voz de Lily ecoou em sua mente: "Você está em mais um dos seus períodos melancólicos?" Não, Andrea não podia se dar ao luxo de cair em depressão novamente, especialmente por causa de Miranda, mais uma vez.

Andrea saiu do box e se enrolou em uma toalha. Quando se olhou no espelho, ficou surpresa com o quão cansada parecia. Os círculos escuros abaixo dos olhos eram prova das noites mal dormidas, e seu olhar refletia alguém profundamente abatida. O coração de Andrea se apertou, temendo que seu estado emocional tomasse conta do seu ser a ponto de jogá-la de volta à cama por dias. Não, isso era algo que ela simplesmente não podia aceitar, de jeito nenhum.

Assustada com o próprio reflexo no espelho, Andrea deixou o banheiro e foi até o closet em busca de pijamas. Logo depois, saiu do quarto e foi para a cozinha pegar a garrafa de vinho que havia prometido a si mesma enquanto dirigia de volta do trabalho. Com uma taça em uma mão e um prato de pedaços de pizza do dia anterior na outra, Andrea caminhou até o sofá, onde pretendia passar as próximas horas assistindo a qualquer série, torcendo para que o sono a encontrasse em algum momento.

No caminho da sala até a cozinha, Andrea reparou nas correspondências que havia pego na portaria e deixado em cima da mesa da sala. Entre revistas e panfletos, sua atenção foi imediatamente capturada por um envelope grande e pesado. No verso, o nome e o endereço de Miranda fizeram seu coração disparar. Andrea abriu o envelope rapidamente e tirou várias folhas de dentro, reconhecendo de imediato a caligrafia de Miranda. Um pequeno cartão vermelho deslizou de entre as cartas e caiu no chão.

Quando terminar de lê-las, por favor, me ligue.

Estarei esperando por você.

Com as cartas em mãos, Andrea deixou a taça de vinho e o prato de pizza na mesa, esquecendo-os completamente, e sentou-se no sofá. Seu coração ainda batia forte, e com uma mistura de ansiedade e apreensão, ela começou a folhear os papeis. Eram pelo menos 20 cartas, organizadas de forma impecável — algo que só poderia ser obra de Miranda —, dispostas em ordem cronológica, da mais antiga para a mais recente. Um desejo quase enlouquecedor de ler todo o conteúdo de uma só vez tomou conta de Andrea, fazendo sua pele formigar de expectativa.

Ela pausou por um momento, tentando se acalmar e conter a ansiedade que ameaçava dominá-la. Então, lembrou-se de quando, na primeira vez que foi à casa de Miranda após retomarem o contato, perguntou se um dia poderia ler as cartas que a editora havia escrito para ela. Naquele momento, Miranda ficou visivelmente desconfortável e deixou claro que, apesar de serem endereçadas a Andrea, os escritos eram apenas um exercício terapêutico. Andrea compreendeu e ficou orgulhosa por saber que Miranda estava comprometida com a terapia, e, embora desejasse ler as cartas, decidiu que não insistiria. Se tivesse sorte o suficiente para ver Miranda vulnerável de tal forma, talvez um dia pudesse lê-las. O que ela não esperava era esse dia chegar tão cedo.

Aquela foi uma noite em que Andrea passou acordada novamente, mas desta vez não devido à sua ansiedade e pensamentos inquietantes, e sim porque, pela primeira vez, estava de frente para Miranda Priestly nua, no sentido mais visceral da palavra.



Foi um capítulo curtinho, mas talvez um dos mais importantes para a narrativa dessa fanfic. 

Obrigada pela leitura e até breve!

Joana. 

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora