Cartas de Miranda

Capítulo 29

1.

Andrea,

Vivian me disse que seria importante descrever exatamente como me senti no momento em que percebi que você não voltaria. Não imaginava o quão difícil seria acessar esses sentimentos até pegar o papel e caneta para escrevê-los.

Você não sabe, mas eu a vi partir. Ainda naquelas escadas, cercada por fotógrafos, meu corpo sentiu a sua ausência, e assim que tive a oportunidade de me livrar daquele evento, voltei para o hotel para procurá-la. No fundo, eu sabia que você já estaria de malas prontas, voltando para Nova York, mas uma voz na minha mente gritava que talvez eu estivesse errada e que, ao chegar ao nosso hotel, a encontraria no seu quarto, me dando uma desculpa qualquer sobre ter desaparecido horas antes.

Foi então que eu a vi. Felizmente, o universo me poupou da humilhação de ser vista por você no corredor, observando-a partir. Eu a vi saindo às pressas, com a mala em uma mão e o casaco na outra. Você estava com tanta pressa que provavelmente pegou o primeiro voo de volta para Nova York. Suas roupas eram as mesmas. Senti meu peito ficar pesado, as lágrimas se formarem nos meus olhos, e uma vontade desesperada de gritar seu nome, exigir que ficasse, mas não consegui encontrar minha voz. Fiquei com raiva ao perceber que você sequer olhou para trás.

Deixei que entrasse no elevador e jurei para mim mesma que nunca mais a veria. E, se isso acontecesse, faria o que estivesse ao meu alcance para destruí-la. Claro que não foi isso o que aconteceu.

Quando voltei para casa, não me reconheci. Minhas filhas, as únicas duas pessoas por quem eu me esforçava para ser uma pessoa decente, foram as que mais sofreram. Fiquei mais ausente do que o normal por dias. Fui grosseira com Cassady e Caroline sempre que me perguntavam o que estava acontecendo. Arrependo-me profundamente de como as tratei, e culpei você pelo meu estado emocional abalado. Sinceramente, você realmente era a culpada.

Achei que minha raiva por você se transformaria em ação, ao ponto de querer destruir sua carreira. No entanto, me surpreendi ao me pegar sentada no meu escritório, escrevendo uma carta de recomendação. Tentei não me culpar por isso, dizendo a mim mesma que só estava fazendo isso porque queria que você tivesse sucesso o suficiente para nunca mais cruzar o meu caminho, para que a Runway nunca mais fosse uma opção para você.

Apesar disso, eu ia dormir e acordava imaginando como seria tê-la de volta à sua mesa, como minha assistente pessoal.

Os dias se transformaram em semanas, meses e anos. Ler sua coluna no NYT se tornou parte da minha rotina noturna. Acompanhei cada um dos seus passos, sabia exatamente em quais eventos você estaria e me certificava de que eu mesma não estivesse presente. A última coisa que eu queria era vê-la pessoalmente; as fotos nas páginas de notícias já eram o suficiente para mim. Tinha medo de como reagiria se a visse novamente.

2.

Hoje foi um dia particularmente difícil. Escrevo esta carta porque, na verdade, gostaria de poder conversar de verdade com você. Embora, nos quase dois anos em que dividimos o escritório da Runway como chefe e assistente, não tenhamos trocado muitas palavras além das relacionadas ao trabalho, eu sei que você seria uma ótima ouvinte. Meu Deus, eu faria qualquer coisa por apenas alguns minutos da sua completa atenção. Você tem ideia disso, Andrea?

Além disso, eu adoraria saber mais sobre você—o que se passa na sua cabeça, o que você gosta de fazer nos fins de semana, quais são os seus medos, como você era na infância. Nunca me interessei por seres humanos no geral. Minha atenção sempre esteve voltada para a estética, para a arte envolvida nela, para o palpável—cores e tecidos. Nunca me importei com a consciência humana, com sentimentos ou o emocional. Mas, de maneira triste e frustrante, me vejo obcecada por você, Andrea. Desejo conhecê-la intimamente, e não apenas fisicamente, mas também a sua subjetividade. Me odeio por desejá-la dessa forma.