Capítulo 30

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Olá, pessoal! Neste capítulo, teremos as cartas de Miranda novamente, mas também a narrativa da própria Andrea. Para que a leitura não fique confusa, vou colocar as cartas em uma fonte diferente (itálico), assim acredito que vocês não terão dificuldades em acompanhar.


Sentada no sofá há mais tempo do que conseguia contar, Andrea não sabia descrever exatamente como estava se sentindo. As cartas de Miranda estavam carregadas de tanta emoção, delicadeza e vulnerabilidade que foi impossível não se deixar abalar pelas palavras da editora. O tom que Miranda imprimiu em seus escritos era inconfundivelmente dela, ao ponto de Andrea conseguir ouvir sua voz enquanto lia. Ao mesmo tempo, era difícil imaginar Miranda dizendo aquelas palavras em voz alta.

Andrea pensou naquelas cartas mais do que deveria. Durante muito tempo, ansiou por lê-las. Acessar Miranda parecia ter se tornado um dos seus maiores objetivos, e agora que finalmente encarava o que a mais velha tinha a dizer — mas que jamais seria capaz de expressar verbalmente —, Andrea se sentia... transbordando. Transbordava por sentimentos diversos, que iam do encantamento à surpresa, até chegar à culpa.

A culpa tomou conta de Andrea sem pedir licença, quase sufocante, enquanto ela afundava no sofá, sentindo-se cada vez menor. Embora soubesse o quanto Miranda havia se magoado com sua partida de Paris — a mais velha deixava clara sua desconfiança e enorme dificuldade em ver Andrea como alguém que não voltaria a lhe virar as costas —, a jornalista não tinha a real consciência da profundidade da dor que seu ato havia em Miranda.

Sendo sincera consigo mesma, Andrea nunca havia analisado com a devida atenção o motivo de sua partida de Paris. Provavelmente, a arrependimento a impedia de revisitar aquele dia. Mas, ao ler as cartas de Miranda, percebeu que esse era um fantasma que precisava ser encarado.

Quando deixou Miranda sem olhar para trás, sua mente estava a mil. Andrea ainda se lembra com nitidez de como estava confusa, especialmente após descobrir o que Miranda havia feito com Nigel. Vozes familiares ecoavam em sua cabeça — seus pais, Nate, e tantas outras pessoas que frequentemente diziam que Miranda Priestly era uma chefe horrível e que Andrea não passava de uma funcionária qualquer, indigna de qualquer fragmento da atenção da rainha de gelo. Ah, se eles soubessem que Miranda mal conseguia dormir pensando em Andrea... Foram meses lutando contra um sentimento maior do que a própria editora. Como Andrea nunca percebeu isso?

Em um ato infantil, Andrea jogou o celular corporativo em uma fonte e correu para o seu quarto de hotel para arrumar as malas e se ver longe de Miranda. E porquê? Se perguntou a jornalista. Porque estava assustada. Esse era o motivo.

A jornalista havia admitido para si mesma que estava apaixonada por sua chefe meses antes de Paris. Chegou a essa conclusão quando percebeu que, ao ir para a cama com Nate, fechava os olhos e imaginava que era Miranda quem estava ao seu lado, que era Miranda quem a tocava. Chegou a pedir para Nate ficar em silêncio durante o sexo, para que suas fantasias com a mulher mais velha não fossem interrompidas. Era vergonhoso, e Andrea sabia disso. Mas, mesmo com a culpa pesando em seu peito, ela tornou rotina fantasiar com a editora.

Estar apaixonada por Miranda não era fácil. No início, Andrea sentiu como se fosse um fardo. Miranda perguntou em suas cartas se Andrea alguma vez já havia sentido como se algo obstruísse sua passagem de ar. Bem, ela sabia exatamente como era esse sentimento. A jovem sentia-se sufocada literalmente todos os dias em que pisava na Runway e via Miranda, sem poder tocá-la.

Como Andrea poderia estar apaixonada por alguém como Miranda? Era algo que seu cérebro não conseguia compreender, mas seu corpo parecia ter nascido para isso. Miranda era distante, às vezes grosseira, exigia o impossível, sabia as palavras exatas para reduzir uma pessoa ao nada. Era fria. Como Andrea poderia ter se apaixonado por alguém assim? Bem, porque além de todos esses adjetivos, Miranda também era brilhante, incansável na busca pela perfeição. Trabalhava com paixão, movia-se com firmeza e delicadeza na mesma medida, era linda. Andrea via, em pequenos gestos — em um sorriso escondido ou nos olhos azuis que nunca conseguiam mentir completamente — que, por trás de toda aquela armadura, existia alguém sensível.

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora