Assim que chegou em casa, Andrea abriu a geladeira e pegou uma cerveja. Sentada no sofá, tomava a bebida enquanto deixava que sua última interação com Miranda rodasse em sua cabeça. Sentiu raiva, mas mais do que isso, estava extremamente triste. Pensou, por um momento, que finalmente estava conseguindo acessar a mulher mais velha. Miranda havia se aberto mais, conversando com Andrea de uma maneira que ela nunca a vira fazer com outra pessoa. Houve até mesmo um momento muito específico que deixou a jornalista surpresa: Miranda lhe mostrou, com uma timidez que Andrea nem sabia que ela tinha, os seus esboços de peças desenhadas. Vestidos, jaquetas, até mesmo sapatos. Miranda realmente tinha talento, e era uma pena que não tivesse seguido a carreira de estilista como sonhou aos vinte e poucos anos. Andrea chegou a sugerir que Miranda desse vida aos desenhos, mas a editora achou a ideia absurda e logo mudou de assunto. Andrea tinha conseguido entrar em parte do universo de Miranda; elas genuinamente estavam construindo algo juntas: confiança. Ao menos era isso o que Andrea achava.
Sentindo-se estúpida e enganada, Andrea chegou à conclusão de que provavelmente nunca teria acesso a Miranda. Os muros construídos pela editora eram altos demais e, mesmo que Andrea fosse corajosa e muito resiliente, precisava dizer a si mesma que não era capaz de conhecer verdadeiramente a editora. Além disso, era claro que Miranda não confiava em Andrea; ela acreditava que a jornalista se reaproximara por interesse!
"Nunca dei motivos para ela pensar isso," disse Andrea para si mesma em voz alta, dando-se conta do quanto estava magoada.
O pior não era nem a mágoa por saber que Miranda não confiava nela; o pior era saber que estava perdidamente apaixonada pela editora e que não seria nada fácil esquecê-la, especialmente depois do que viveram nas últimas semanas. Andrea sentiu genuíno medo de nunca ser capaz de superar a ex-chefe. Uma coisa era nutrir uma paixão que se acreditava ser unilateral, algo bobo, sem chance alguma de um relacionamento. Outra, completamente diferente, era ter experimentado como é estar com Miranda, no sentido físico e subjetivo da palavra. Como Andrea poderia esquecer Miranda depois de tudo o que viveram? Era injusto exigir isso da jornalista. Desejou nunca ter procurado por Miranda, nunca ter lido aquelas cartas. Sentiu raiva até mesmo das filhas da editora chefe; foram elas que começaram toda essa confusão, afinal de contas.
Andrea quis reler aquelas cartas, onde Miranda confessava seu amor e o quanto também não podia tirar Andrea dos pensamentos. Mas a jornalista havia devolvido os escritos à editora e agora não tinha mais acesso nem mesmo ao fato comprovado de que Miranda também a amava. Droga.
Pegou o telefone e olhou para a tela do contato de Miranda, sentindo uma vontade esmagadora de ligar para a editora, mas o orgulho e o respeito por si mesma falaram mais alto, obrigando Andrea a colocar o celular longe de si. Não tinha ideia de como as coisas se resolveriam entre as duas, ou mesmo se chegariam a uma resolução, mas prometeu a si mesma que, dessa vez, não seria ela quem iria até Miranda.
Dias se passaram sem qualquer contato, tanto de Miranda quanto de Andrea. Após uma semana, Andrea parou de contar os dias e passou a se convencer de que era melhor dessa maneira.
O trabalho, que antes servia de refúgio para Andrea, transformou-se em um lembrete constante do que havia acontecido. As palavras cruéis de Miranda ainda ecoavam nos pensamentos da jovem. Ir ao New York Times todos os dias deixava Andrea deprimida, mas, mesmo assim, ela se esforçava para cumprir suas obrigações. Já havia decidido que pediria demissão — se quisesse apagar Miranda de sua vida, o primeiro passo seria deixar o emprego no jornal. No entanto, Andrea ainda amava o que fazia, e estava reunindo forças para, finalmente, encontrar coragem para se desligar da empresa.
Andrea estava voltando para sua sala, após passar na cozinha em busca de uma xícara de café, quando Benedict a parou no corredor:
"Daqui a alguns minutos, vou te enviar um e-mail muito importante. Por favor, priorize essa demanda e, se tiver alguma dúvida, passe na minha sala."
Depois de mais de três anos trabalhando com Benedict, a jornalista já estava acostumada com a maneira direta — e quase grosseira — com que ele se comunicava. Mas, para alguém que já havia sido assistente de Miranda Priestly, Benedict soava quase como um príncipe, tamanha era sua educação. Sem fazer perguntas e tentando evitar o chefe o máximo possível, já que a qualquer momento ele poderia tocar no assunto da promoção para o cargo de editora, Andrea apenas assentiu e disse que priorizaria o e-mail.
Quando se sentou novamente à sua mesa, uma notificação de e-mail apareceu na tela do computador. Andrea abriu imediatamente e leu o conteúdo com atenção.
Tratava-se de um convite para um evento onde jornalistas, editores, escritores e profissionais de revistas se reúnem para discutir tendências, fazer networking e explorar inovações no setor editorial. Andrea conhecia bem esse evento, tendo participado várias vezes. Era uma oportunidade para conhecer pessoas da sua área, ficar por dentro das novidades e aperfeiçoar suas habilidades na escrita.
Mas, diferente das outras vezes, aquele convite não era para participar apenas como uma profissional interessada nos assuntos do setor. Desta vez, Andrea estava sendo convidada para representar o New York Times em várias mesas, palestras e jantares ao longo dos três dias de evento. Esse era um trabalho normalmente reservado para Benedict ou para os chefes editoriais, o que só podia significar uma coisa... Andrea se levantou rapidamente e foi até a sala de Benedict.
O chefe de Andrea explicou que precisava que ela o substituísse no evento, já que ele estaria em Milão na mesma data. O New York Times estava abrindo um novo escritório na cidade italiana, e Benedict tinha assuntos a tratar referentes à inauguração.
"Não tem outra pessoa para ir no seu lugar? Não sei se eu..." – disse Andrea, de repente se sentindo insegura com a demanda e lembrando-se das palavras de Miranda da última vez que se viram.
"O que houve, Andrea?" – perguntou Benedict, seu sotaque britânico se tornando mais pronunciado. – "Você nunca demonstrou medo dos desafios que eu te proponho, muito pelo contrário."
"Eu imagino que... quer dizer, com a saída da Sidney, talvez eu tenha sido uma das suas opções para esse evento, mas-"
"Sidney? O que Sidney tem a ver com isso?" – interrompeu Benedict, agora confuso e um tanto inquieto. – "Mesmo que Sidney ainda estivesse aqui, você seria a escolhida para o evento."
Andrea conseguia perceber a irritação crescente em seu chefe, mas ainda precisava confirmar uma suspeita.
"Benedict, esse convite tem algo a ver com Miranda Priestly?"
Benedict claramente não fazia ideia do que Andrea estava falando, forçando-a a explicar:
"Minha ex-chefe, editora-chefe da Runway."
Benedict suspirou, tirou os óculos e começou a limpá-los na camisa que usava.
"Andrea, eu não tenho a menor ideia do que está passando pela sua cabeça, mas o convite para esse congresso foi feito exclusivamente devido a sua competência. E eu adoraria que você parasse de fazer perguntas sem sentido."
Andrea engoliu em seco e assentiu.
"Posso contar com você para representar o New York Times ou devo encontrar alguém menos qualificado para substituí-la?"
"Você pode contar comigo, Benedict." – respondeu Andrea prontamente, agora com mais firmeza na voz e na postura.
"Ótimo. Vou te mandar mais algumas informações por e-mail, incluindo o que espero que você faça durante os dias do congresso."
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Cartas de Miranda
FanfictionPassaram-se três anos desde que Andrea decidiu abandonar seu cargo como assistente pessoal de Miranda. A saída da jovem não apenas abalou profundamente Miranda, mas também a fez perceber, tarde demais, que estava apaixonada por Andrea. No entanto, o...