Capítulo 19

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"Não me trate como alguém intocável, Andrea. Me toque, me beije, me sinta."

Uma vontade quase incontrolável de perguntar 'Você tem certeza?' passou por Andrea, mas a pergunta seria idiota, já que Miranda havia sido extremamente clara e objetiva. O pedido não soou como uma ordem, mas como um desejo que a mais velha parecia guardar há muito tempo dentro do peito.

Um milhão de pensamentos passavam pela cabeça de Andrea, e um deles era: 'não surta!'. A jornalista costumava repetir isso para si mesma com frequência quando estava na presença de Miranda, especialmente depois do que aconteceu no primeiro beijo que trocaram. Mas, diferente daquela noite, Andrea se sentia calma, sem pressa, sem medo de que Miranda escapasse entre seus dedos. A ansiedade ainda estava ali, claro, mas não a ponto de consumi-la — esse papel cabia unicamente a Miranda.

Miranda, por outro lado, queria gritar com a sua voz que nunca passava de um sussurro: me toque! Por favor, apenas me toque! Mas não conseguia encontrar coragem para dizer essas palavras em voz alta. Miranda não pedia com 'por favores'. Miranda não implorava. Miranda não entrava em desespero pelo toque de outra pessoa. Ela jamais faria isso — nem mesmo com Andrea. Especialmente com Andrea.

O que Miranda, porém, não podia controlar eram os seus olhos. Sua mãe sempre dizia que os olhos de Miranda eram os mais sinceros que já havia visto — e isso era verdade. A editora demorou muito tempo para aprender a mascarar os sentimentos que transparecem em suas íris azuis. Mas Andrea, sem pedir licença ou dar aviso prévio, jogou todos os esforços de Miranda pela janela, e agora ela estava à disposição da jornalista, sentindo seus próprios olhos traí-la.

Surpreendendo Miranda mais uma vez, Andrea a puxou para si, sua mão agarrada à cintura da editora, as unhas curtas, porém fincadas na pele através do tecido fino do suéter creme que ela usava. Miranda sentiu o ar escapar dos pulmões e seus batimentos cardíacos ecoaram nos ouvidos. Finalmente, deixando de lado a polidez costumeira, Andrea a beijou.

Era um beijo mais seguro, mais firme, com promessas e a certeza de que seriam cumpridas. Miranda permitiu que o peso do seu corpo caísse sobre Andrea, permitindo, pela primeira vez em muito tempo, que outra pessoa tomasse o controle — ao menos por alguns instantes.

A editora não sabia dizer quanto tempo o beijo durou, mas ouviu um som desconhecido escapar de seus lábios quando Andrea se afastou, percebendo que era seu corpo protestando pela repentina falta de contato. Miranda estava prestes a soltar uma de suas frases, aquelas que faziam seus funcionários a obedecerem sem pensar duas vezes, mas se calou ao sentir os lábios de Andrea perigosamente próximos ao seu ouvido.

"Você não tem ideia do quão linda, extraordinária e—" Andrea apertou a cintura de Miranda com mais firmeza, fazendo-a arfar, "—sexy você é."

O efeito das palavras de Andrea foi imediato. Miranda lançou os braços ao redor do pescoço da morena e, sem se preocupar com normas de delicadeza, sentou-se no colo de Andrea.

A ação claramente surpreendeu Andrea, que agora encarava Miranda com os olhos ainda maiores, a boca levemente aberta, e as bochechas já vermelhas. Era uma imagem perfeita para deixar a editora completamente desnorteada, mas Miranda não se permitiria chegar a esse ponto. Então, voltou a beijar Andrea, desta vez mais rápido, com mais exigência.

Diferente do que Miranda imaginava, não era fácil ter o controle completo da situação. Andrea não estava disposta a seguir as ordens silenciosas de Miranda; assim como a editora, a jovem também queria mais. Somos mais parecidas do que ela imagina, pensou Miranda de repente, satisfeita por provar mais um dos seus pontos. Mas, se Andrea queria controle, teria que se esforçar para isso.

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora