Capítulo 17

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O jantar, não foi exatamente tranquilo, uma vez que o encontro se seguiu com Miranda ainda demonstrando ciúmes e se esforçando para não ser extremamente grosseira, e Andrea sem saber como acalmá-la completamente. As duas conseguiram retomar minimamente o ritmo da conversa. Não voltaram à atmosfera leve de antes da chegada de Rebeca, mas pelo menos Andrea conseguiu fazer com que Miranda respondesse às suas perguntas com mais de quatro palavras.

Andrea já estava pronta para chamar um Uber de volta para casa quando Miranda lhe lançou um olhar de incredulidade.

"Meu motorista está a caminho, eu te deixo em casa."

A jornalista não apenas agradeceu pela oferta, como também se sentiu menos apreensiva. Miranda estava disposta a passar mais tempo com ela, então, talvez, já não estivesse com tanta raiva, certo?

Errado.

Sentada no banco traseiro do carro de Miranda, Andrea se sentia desconfortável, pois a irritação da editora era clara e podia ser sentida mesmo à distância. Rebeca, definitivamente, havia colocado Miranda de péssimo humor.

Miranda, tentando manter seu humor sob controle, sentou-se a uma boa distância de Andrea, colada à janela esquerda, enquanto a jovem permanecia na janela direita do veículo. O silêncio, antes confortável, agora havia se transformado em um lembrete perigoso: Miranda estava quase explodindo de ciúmes. Quando Andrea lhe contou sobre o episódio em que mencionou o nome de Miranda durante o sexo com Rebeca, a editora sentiu-se presunçosa e bastante satisfeita com aquela informação. Mas logo o óbvio a atingiu: Andrea havia passado, sabe-se lá quantas noites, com aquela mulher. Apenas imaginar isso fazia Miranda tremer.

Era idiota e injusto se comportar dessa maneira. A própria Miranda havia sido casada duas vezes e tivera incontáveis casos amorosos, que, se os veículos de fofoca soubessem, provavelmente mudariam seu apelido de "dragon lady" para "whore lady". Mas nem sempre o cérebro de Miranda era racional; aliás, estava se tornando cada vez menos lógico quando o assunto era Andrea. Ela não apenas sentia raiva por estar com ciúmes, mas também começava a acreditar que tudo isso era culpa de Andrea. Afinal, se não fosse pela jovem, pela sua mera existência, Miranda não sentiria... tanto.

"Miranda?" — chamou Andrea, depois de finalmente reunir coragem suficiente para falar. Lentamente, em um movimento que de repente lembrou Andrea de um filme de terror, Miranda virou o rosto para ela.

A mais velha permaneceu em silêncio, esperando que Andrea dissesse o que queria. Andrea tentou ignorar o olhar de Miranda — firme e nada acolhedor — e disse:

"Você está bem?"

Miranda piscou duas vezes, o que trouxe um certo alívio a Andrea. Pelo menos, a mulher ainda parecia humana e não algum tipo de demônio.

"Por que eu não estaria?" — perguntou Miranda, com veneno na voz.

"Você está distante." — comentou Andrea, movendo a mão em direção a Miranda com cuidado, como se estivesse lidando com um animal machucado e assustado. Com uma paciência que provavelmente não dedicaria a nenhuma outra pessoa, Andrea tentava se conectar com Miranda, fazendo com que ela ao menos admitisse estar com ciúmes e colocasse seu desconforto em palavras. Mas Miranda ainda não sabia fazer isso. Com uma frieza que deixava Andrea se sentindo sozinha, respondeu:

"Não estou distante."

Miranda olhou para a mão de Andrea, e uma vozinha dentro dela, que dizia que deveria ser menos rígida, a fez pegar a mão da jornalista. Com os dedos entrelaçados, Miranda olhou pela janela do carro.


"Chegamos." - disse Miranda baixinho.

Andrea não queria voltar para casa com Miranda daquela forma, então convidou a editora para subir e tomar um drink, café, chá — literalmente qualquer coisa, até um copo d'água. Mas Miranda recusou, dizendo que no dia seguinte precisaria estar mais cedo na Runway.

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora