Capítulo 7

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Olá! Este capítulo pode não trazer grandes reviravoltas ou novidades, mas é essencial para manter o ritmo e a fluidez da história. Só queria lembrar que se trata de um slow-burn, então... por favor, tenham paciência hahaha. Eu sei que vocês querem ver a Andrea e a Miranda juntas o mais rápido possível, mas gosto de explorar o lado emocional das minhas personagens, especialmente o da Miranda, que é alguém que guarda muita coisa e precisa se entender emocionalmente. Espero vê-los em breve! Até mais (:



Andrea saiu do escritório de Miranda com passos firmes e a cabeça erguida, ignorando qualquer pessoa em seu caminho. Sentia-se revigorada, com uma energia capaz de movê-la por dias. Apenas quando colocou os pés para fora do edifício Elias Clark e se acomodou no banco traseiro do táxi que a levaria direto para a sede do New York Times, permitiu que suas mãos tremessem e seu coração disparasse.


Com os olhos fechados, focando em acalmar a própria respiração, Andrea começou a refletir sobre o que acabara de fazer. Quando decidiu procurar Miranda após ler as cartas, não sabia exatamente o que esperar do encontro; só sabia que precisava vê-la, confrontá-la sobre o que havia lido e exigir explicações. Andrea sentia que Miranda lhe devia respostas.


O que não esperava, certamente, era que a editora lhe oferecesse dinheiro. Mas Andrea conhecia Miranda o suficiente para saber que essa era apenas sua maneira de fugir da vulnerabilidade e de sentimentos difíceis de compreender. Quando percebeu um brilho a mais no fundo dos olhos azuis da editora, Andrea teve certeza de que havia uma chance para as duas. Sentia isso em cada parte do seu corpo, nos ossos.


Também sabia que não seria fácil, mas quando foi que Andrea Sachs escolheu o caminho mais fácil? Ela era conhecida por sua coragem e, talvez, uma pitada de rebeldia - pelo menos era o que seus pais lhe diziam desde a infância. Mais do que corajosa, Andrea não desistia facilmente daquilo em que acreditava, especialmente quando se tratava de algo tão grandioso como seu amor por Miranda.


Olhando para as ruas de Nova York através da janela do táxi, Andrea sorria ao pensar em sua amiga Lily, que, há meses, insistia para que ela procurasse Miranda, afirmando com convicção que Andrea estava apaixonada e sofrendo pela ausência da mulher mais velha em sua vida. Mas, só após confirmar que seus sentimentos eram recíprocos, Andrea decidiu tomar a dianteira e ir até a mulher que amava. Sem aquelas cartas, ela provavelmente levaria seus sentimentos por Miranda para o túmulo. Andrea não se importava em pilotar um barco sozinha, mas precisava ter certeza de que, em algum momento, Miranda também embarcaria e tomaria a direção ao seu lado. As cartas foram mais do que suficientes para Andrea; ela só precisava de tempo e paciência com Miranda, algo que aprendera anos atrás, quando ainda era apenas uma assistente: ter paciência com Miranda Priestly.


Andrea sabia que Miranda não funcionava sob pressão, pelo menos quando se tratava de emoções, pois, no trabalho, a mulher era uma máquina de produtividade mesmo nas piores situações de estresse. Mas quando se tratava de sentimentos... Miranda se tornava uma garotinha assustada.


Ainda perdida em pensamentos, Andrea notou quando o carro parou em frente ao prédio do New York Times. Ela pagou o taxista e saiu do veículo, decidida a se concentrar no trabalho pelas próximas horas.


Vinte minutos já haviam se passado desde que Andrea saíra do escritório de Miranda, e a editora permanecia imóvel em sua cadeira, encarando os prédios de Nova York através da janela panorâmica de sua sala. Raramente Miranda se via sem saber como reagir. Era uma mulher que agia com assertividade; seus atos, por menores que fossem, eram sempre acompanhados de intenção.

Aos 55 anos, Miranda aprendera a ser uma pessoa controlada, que jamais agia por impulso, muito menos sem objetivo. Até mesmo suas expressões faciais, sentimentos e gestos eram exibidos em público com um propósito; espontaneidade não era uma palavra comum no dicionário de Miranda Priestly. Para sua frustração, Andrea era capaz de quase jogar todos os seus esforços ao vento. A jovem tinha a capacidade de despertar um lado desconhecido em Miranda, que ela ainda não estava disposta a explorar.


Há quem considere Miranda fria e calculista - adjetivos com os quais a editora se acostumou e deixou de se importar com o passar dos anos. Afinal, ela realmente se comportava com frieza, não? E se seus atos eram calculados, isso não a tornava... calculista? Se esse era o preço a pagar para manter sua posição como editora-chefe da Runway e estar alheia a decepções em sua vida pessoal, ela pagaria. Miranda já havia passado por decepções demais: começando pelos pais, passando pelos casamentos falidos, e, claro, Andrea.


Andrea, que, com seu discurso profundo e tocante sobre "lutar por Miranda", a deixou sem palavras e sem reação, a ponto de não conseguir lhe dar uma resposta típica de Miranda Priestly.


Cansada de se sentir aprisionada dentro da própria cabeça, Miranda se levantou e seguiu em direção à saída.


"Casaco e bolsa", disse a editora com rispidez para Emily, que, assim que a ouviu, correu para pegar os objetos solicitados, entregando-os rapidamente nas mãos da chefe.


"Cancele todos os meus compromissos de hoje."


Emily arregalou os olhos, sentindo a urgência de informar à editora que ela tinha pelo menos três reuniões importantes naquela tarde, incluindo uma com o diretor executivo da Giorgio Armani. Mas, ao notar o estado de espírito de sua chefe, decidiu que seria muito mais fácil lidar com o próprio Giorgio Armani do que com Miranda.


Ao volante, Miranda colocou música clássica para tentar acalmar os ânimos e seguiu para o destino mais condizente com o momento: o consultório de Vivian, sua psicóloga.


Ela tentava ignorar a vozinha no fundo da mente que repetia o quanto ela era patética por pedir ajuda a uma PSICÓLOGA, quando deveria lidar com seus sentimentos da maneira que sempre lidou: enterrando-os e fingindo que sequer existiam. Mas, ela gastava uma fortuna nas sessões com Vivian, e sendo sincera consigo mesma, realmente precisava de alguém para conversar, alguém que lhe dissesse o que fazer.


Ao chegar ao consultório, Miranda deu de cara com o recepcionista de Vivian, que, ao vê-la, procurou rapidamente sua agenda sobre a mesa. Aquele não era um dos dias de sessão de Miranda; o que ela poderia estar fazendo ali? pensou o pobre rapaz, já pálido ao estar na presença da editora-chefe.


"Preciso falar com Vivian," afirmou Miranda sem rodeios, retirando os óculos escuros para encarar o recepcionista. Com olhos que denunciavam seu medo, Victor respondeu:
"Olá, senhora Priestly, bem... estou vendo aqui na agenda, e a senhora não tem um horário marcado."


Miranda se limitou a ficar em silêncio e fechar os olhos brevemente. De repente, um homicídio não parecia algo tão absurdo e, na verdade, poderia ajudá-la com o ataque de raiva que estava prestes a ter. Após um suspiro que gritava "não me teste", Miranda respondeu simplesmente:


"Como eu disse, eu preciso falar com Vivian."


Victor engoliu em seco, e enquanto se preparava para esclarecer novamente a falta de um horário marcado, Vivian apareceu na recepção.


"Miranda? Que surpresa," disse Vivian com uma voz suave, que imediatamente reconfortou a editora. Por Deus, no que estou me transformando? perguntou-se Miranda.


Notando o estado emocional abalado de Miranda - ainda que de forma muito sutil -, Vivian percebeu que a visita inesperada só poderia se tratar de um caso emergencial.


"Por que não entramos e tomamos uma xícara de café? Aí conversamos," sugeriu Vivian, abrindo espaço para uma Miranda apressada entrar em sua sala de atendimento.


"Victor, vou atender Miranda. Por favor, não permita nenhuma interrupção."


O recepcionista concordou com um aceno de cabeça e agradeceu mentalmente a Vivian por aparecer e salvá-lo de Miranda.

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