Capítulo 13

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Beijar Miranda estava entre as muitas fantasias de Andrea. O mesmo se aplicava a Miranda, que também passou um bom tempo imaginando como seria ter seus lábios colados aos da jornalista. Existe um abismo entre a realidade e o fato concretizado. Na fantasia, o poder é muito mais palpável; ele se materializa e oferece o controle que a vida real não proporciona facilmente. Para alguém com a imaginação aflorada, como Andrea, as expectativas podem ser atendidas nos mínimos detalhes, alcançando uma perfeição quase mágica.

Andrea sabia exatamente onde posicionaria suas mãos, como sua boca se movimentaria no mesmo ritmo que a de Miranda, e tinha a certeza de que conseguiria tirar pequenos gemidos da editora-chefe, sentindo-se satisfeita com seu poder de seduzir a lenda do mundo da moda. Bem, tudo isso ela sabia enquanto fantasiava em silêncio no seu quarto ou, ainda, quando era assistente e se via absorvida por essas imaginações durante o horário de almoço. A realidade, no entanto, era bem diferente. Muito diferente.

Quando os lábios de Miranda e Andrea se encontraram pela primeira vez, não foi como uma cena clichê de Hollywood, em que os espectadores passam mais de uma hora esperando pelo momento crucial, onde finalmente o casal que se odeia na comédia romântica troca o beijo carregado de tensão sexual. O beijo de Miranda e Andrea foi... confuso.

Assim como entre fantasia e realidade, havia uma diferença gritante entre se imaginar beijando Miranda Priestly e vê-la a meros centímetros de distância, com os olhos em uma tonalidade de azul mais escura do que Andrea havia imaginado.

"Andrea, por favor, pare de falar."

Ao ouvir a frase e olhar para o lado, Andrea percebeu que estava em apuros. Meu Deus, Miranda estava próxima o suficiente para realmente beijá-la. Sem pensar duas vezes, Andrea se lançou em direção à editora, com mais expectativas do que esperava, a ponto de desequilibrar-se e cair em cima de Miranda, que se viu obrigada a agarrar Andrea pela cintura para que as duas não caíssem do sofá.

"Me desculpa." - disse Andrea com um riso constrangedor nos lábios. Miranda não teve tempo de respondê-la, pois a jornalista já estava com a boca contra a sua.

Por um momento, a jornalista não sabia se estava realmente beijando Miranda ou se aquilo não passava de um sonho erótico com a editora. Provavelmente, em um sonho, suas mãos estariam delicadamente apoiadas nos ombros de Miranda, seu corpo estaria em uma posição confortável e que ao mesmo tempo a deixava incrivelmente sexy contra a mais velha. A realidade era bem diferente: Andrea agia de maneira descoordenada, com uma das suas mãos repousando na perna de Miranda, seus cabelos longos entraram em cena de maneira inadequada durante o beijo, quase sufocando ambas as mulheres. Miranda, concentrada em não cair do sofá, definitivamente não estava aproveitando o beijo.

Percebendo o estado de euforia misturado com ansiedade da mulher acima de si, Miranda teve que colocar as mãos nos ombros de Andrea para, em seguida, afastá-la delicadamente. Andrea parou imediatamente, com os olhos arregalados, encarando o rosto de Miranda, claramente preocupada por ter a aborrecido. No entanto, Miranda não estava aborrecida. Na verdade, apesar de o beijo ter sido um verdadeiro caos, a mulher mais velha não conseguiu deixar de achar a expressão de Andrea hilária e estranhamente adorável.

"Por que você está com tanta pressa? Quer dizer..." Miranda ficou pela primeira vez sem jeito, tentando encontrar as palavras certas para dizer à jovem que ela precisava respirar.

Finalmente, a vergonha atingiu Andrea em cheio. A expressão curiosa e divertida no rosto de Miranda não ajudou em nada a diminuir a sua vontade de se enfiar debaixo do sofá. Andrea se afastou de Miranda, deixando vários centímetros entre seu corpo e o da editora. Seu rosto estava pegando fogo, mais vermelho do que nas vezes em que voltava de uma corrida matinal.

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora