Capítulo 32

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Após indicar onde estavam os utensílios que a jornalista precisaria, Miranda observava Andrea preparar o chá. O silêncio ainda preenchia o cômodo ocupado pelas duas. De um lado, Andrea se esforçava para se concentrar completamente na tarefa de colocar a água para ferver, enquanto os olhos atentos de Miranda acompanhavam cada um de seus movimentos.

Não era um silêncio desconfortável, daqueles que deixam desconhecidos agitados, tentando preencher o vazio com conversas banais. Era o tipo de silêncio que existe entre duas pessoas que se conhecem o suficiente para apenas estarem na presença uma da outra, sentindo-se bem com isso, sem a necessidade de barulhos que ocupassem espaço.

Andrea havia passado o dia inteiro ansiosa, tornando a tarefa de trabalhar quase impossível, com as horas se arrastando. Mas, de forma curiosa, agora que finalmente estava com Miranda, sentia a ansiedade evaporar quase completamente do seu corpo. Era uma sensação desconhecida — geralmente, Andrea ficava ainda mais nervosa quando Miranda estava por perto. No entanto, algo havia mudado, e a mera presença de Miranda parecia acalmar a mais jovem, em vez de deixá-la à beira de um ataque de nervos.

As horas de sono foram como um remédio para o corpo e a mente cansados de Miranda, que agora agradecia a si mesma por ter se permitido descansar. Seus sentidos estavam completamente despertos, permitindo-lhe prestar atenção a cada movimento e som que Andrea fazia na cozinha.

Após o chá ficar pronto, Andrea perguntou onde poderia encontrar as xícaras, e Miranda indicou o armário onde estavam os objetos. Com as duas xícaras devidamente cheias, Andrea se aproximou de Miranda, que estava sentada em uma das banquetas do balcão, e posicionou o chá na frente da mais velha, para então também se sentar. Agora, as duas mulheres estavam uma de frente para a outra. Seus corpos não se tocavam, mas Miranda não deixou de notar o quão próximas estavam. Se ela se inclinasse apenas alguns centímetros à frente, seus joelhos se encontrariam com os de Andrea e—

"Espero que não esteja muito doce", comentou Andrea de repente, fazendo Miranda olhar imediatamente para a jornalista com uma expressão de dúvida. Percebendo que a editora estava distraída, Andrea explicou: "O chá. Coloquei açúcar, mas não sei se está bom o suficiente."

Uma expressão de entendimento passou pelo rosto de Miranda, e então ela pegou a xícara à sua frente. O calor da porcelana em suas mãos a ajudou a relaxar. Agora que estava tão próxima de Andrea, era difícil manter o foco no presente, sem se perder na forma como o corpo da jornalista se movimentava. Miranda levou o líquido aos lábios — era chá de camomila. Ela se perguntou se Andrea havia escolhido o sabor para tentar acalmá-la, ou talvez para acalmar a si mesma.

"Está ótimo, obrigada", disse Miranda, genuinamente satisfeita com o sabor do chá. Andrea sorriu e tomou um gole da própria bebida. Quando abaixou a xícara de volta no balcão, seus olhos encontraram os de Miranda de maneira tão intensa que a editora quase desviou o rosto.

"Então... suas cartas", afirmou Andrea seriamente, mantendo a voz mais baixa que o habitual, como se estivesse tateando o terreno. A jornalista não podia negar o medo das reações de Miranda; a última coisa que queria era deixá-la desconfortável. Ela sabia que aquela não seria uma conversa fácil para a mais velha.

Assim que ouviu a menção das cartas, Miranda sentiu a cabeça pesar e o ar prender na garganta. Claro que ela sabia que, em algum momento, teriam que falar sobre isso — afinal, era o elefante branco na sala. Mas era impossível fingir indiferença. Sua máscara de desdém já não se encaixava tão perfeitamente no rosto, e, cansada de se manter completamente inabalável, Miranda deixou escapar um suspiro resignado. Não havia para onde fugir. Teria que falar sobre as cartas.

"Você as leu." Não foi uma pergunta; Miranda apenas afirmou o óbvio. Ela não sabia exatamente o que dizer e queria que Andrea conduzisse a conversa. Felizmente, Andrea era observadora o suficiente para perceber que Miranda não conseguiria levar a discussão adiante sozinha. A mais velha estava dando a chance para Andrea tomar o controle da situação, fazendo as perguntas que desejasse. Assim como disse em suas cartas, Miranda estava esperando por Andrea.

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora