Capítulo 22

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Andrea não estava apenas com raiva; ela estava magoada. E isso tornava tudo mil vezes pior. A raiva, ao menos, serve de combustível, fazendo você se mover, sair do lugar. Já a mágoa te paralisa, leva seu cérebro a lugares estranhos e faz seu peito literalmente doer.

Não chorar na frente de Sidney foi pura sorte, mas Andrea sabia que não conseguiria segurar as lágrimas por muito tempo. Depois de dar um abraço forçado na outra jornalista e desejar boa sorte em seu novo desafio, ela saiu da sala de reuniões e foi direto para o banheiro, trancando-se em uma das cabines.

Com as costas contra a porta trancada, Andrea se permitiu chorar. Os primeiros pensamentos que surgiram em sua mente foram: ela precisou intervir porque provavelmente não acredita que eu conseguiria esse cargo por conta própria. Então, o medo se instalou, trazendo um desespero de que pudessem fazer a ligação óbvia entre seu relacionamento com Miranda e a entrada de Sidney na Runway. Embora Miranda e Andrea ainda não tivessem assumido publicamente o relacionamento, também não o escondiam. Eram discretas o suficiente para que quem as visse em público apenas assumisse que eram amigas. A ex-assistente pessoal jantando com a rainha de gelo, provavelmente apenas se tornaram amigas. Mas bastava um olhar mais atento para perceber que não se tratava de uma amizade.

E então, como se nada pudesse ficar pior, o celular de Andrea tocou no bolso da calça, fazendo-a pular de surpresa. Ao olhar para a tela, vê as iniciais de Miranda e sente vontade de gritar, mas em vez disso, desliga o celular. Não está em condições de lidar com a editora naquele momento; precisa, ao menos, se acalmar. Depois de se dar mais cinco minutos para respirar, Andrea sai da cabine do banheiro, vai direto para a pia e se olha no espelho. Sua maquiagem está borrada, então tenta consertar o rosto apenas com os dedos, tirando ao menos o lápis preto borrado dos olhos e ajeitando a base que ficou marcada pelas lágrimas nas bochechas. Não fica perfeito, mas vai ter que servir, já que não está com sua necessaire para realmente consertar a maquiagem.

Com passos firmes e se recusando a desmoronar no trabalho, Andrea volta à mesa e se concentra inteiramente no artigo que estava escrevendo antes de Sidney aparecer. Assim como Miranda, a jovem usa o trabalho para se distrair dos problemas. Finaliza o texto e o envia para Benedict, seu chefe. Ao olhar para o relógio, percebe que faltam apenas 30 minutos para o fim do expediente. O celular vibra novamente; desta vez, em vez de uma ligação, Miranda envia mensagens.

MP: Tentei te ligar, mas você devia estar ocupada. Te pego às 20h.

Andrea havia se esquecido que havia marcado de jantar com Miranda. Pega o celular para responder à mensagem, suas mãos estão tremendo. A raiva começa a consumi-la novamente, e a mágoa parece ter sido esquecida em algum canto do peito. Prefere assim, prefere sentir raiva; sente-se no controle dessa forma.

AS: Vou até a sua casa, precisamos conversar.

A resposta vem logo em seguida, não demorando mais que cinco segundos.

MP: Aconteceu alguma coisa?

Andrea ri, uma risada irônica, que ela mesma acha estranha.

AS: Falamos na sua casa.

Depois disso, a jornalista joga o telefone dentro da bolsa e tenta esquecer que Miranda Priestly existe.

Às 20h em ponto, Andrea está em frente à porta de Miranda. Toca a campainha duas vezes, com os dedos firmes contra o botão. Seu corpo, geralmente macio e descontraído, está rígido, assim como sua mandíbula. Está até mesmo difícil de respirar. Andrea nunca sentiu tanta raiva, nem mesmo quando Nate terminou o namoro e levou todos os móveis do apartamento sem avisá-la, levando inclusive coisas que eram dela. Não sentiu esse tipo de raiva nem mesmo quando Miranda, ainda sua chefe, a fazia de bobo da corte, correndo de um lado para o outro pelas ruas de Nova York atrás de saias idiotas da Calvin Klein.

Cartas de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora