O Chamado - Capítulo 13

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Astraea precisava se afastar de seu tio.

Essa era a conclusão inevitável que ela alcançara após os últimos encontros, e a distância que mantivera desde seu retorno não parecia ser suficiente.

O que estava acontecendo? Por que seu coração disparara daquele jeito?

Não, isso era absurdo. Ela estava exagerando, sem dúvida. E se precipitando também.

Ainda assim, a jovem Velaryon não conseguia afastar da mente a imagem do rosto dele, tão próximo que ela pôde observar cada detalhe, cada traço, até se perder naquelas feições. A lembrança do toque dele em seu pescoço...

Não! Astraea Velaryon, você não pode, e não deve, pensar nisso de novo! Ela recitou o mantra incansavelmente.

Pensar naquilo não era uma opção, nem agora, nem nunca. Sentada à mesa com os outros, incluindo Aemond, Aegon, Daeron e Alicent, Astraea manteve as costas rigidamente eretas. Felizmente, ela já havia aperfeiçoado a arte de esconder suas emoções, tornando sua expressão uma máscara impenetrável. Mas, para seu terror, quase falhou em frente a Aemond naquela noite fatídica.

Astraea foi trazida de volta à realidade ao ouvir a voz do Rei. Viserys murmurou algo enquanto os guardas o acomodavam cuidadosamente em sua cadeira. Naquele dia, a comida não seria levada até sua cama. Mesmo sem poder caminhar sozinho, ele ainda era capaz de falar, e isso era uma pequena vitória. Alicent e Otto, apesar de conseguirem esconder sua frustração dos outros, não conseguiam disfarçar diante da princesa. Astraea notou a insatisfação em seus olhos.

Otto a examinou, com a suspeita gravada em suas feições, mas Astraea apenas manteve sua expressão inocente; uma máscara que só era mais convincente graças às suas feições delicadas. Ela sorriu para o avô, plenamente consciente de que nem ele, nem a Rainha, nem mesmo a sua própria família compreendiam as súbitas melhorias do Rei ━━ melhorias que nem mesmo o Meistre Orwyle conseguia explicar.

Otto pigarreou, percebendo a tensão palpável entre Alicent e a família de Rhaenyra. Em resposta, a Rainha lançou um olhar sério para Aemond.

━━ Aemond.
━━ A voz de Alicent ressoou pela sala, atraindo a atenção do príncipe, e por consequência, de todos os presentes, incluindo o Rei.
━━ Não preciso repetir o que deve ser feito, preciso?

O silêncio se arrastou por longos segundos. A expressão de Aemond permaneceu impassível, até que ele piscou, como se estivesse entediado. Finalmente, ele se virou para sua irmã Rhaenyra e os filhos dela.

━━ Eu... peço desculpas pelo incidente no jantar, irmã. E sobrinhos.
━━ A voz do príncipe estava carregada de uma frieza que revelava o esforço que fazia para pronunciar aquelas palavras. Daemon trocou um olhar com Rhaenyra, e Astraea flagrou seu padrasto levando a taça aos lábios, mascarando o sorriso que ameaçava surgir. Jace foi quem flagrou sua irmã lutando para manter a compostura, passando a mão pela boca como se a limpasse, embora o príncipe soubesse que era para abafar o riso que crescia dentro dela.

Rhaenyra respirou fundo, adotando uma expressão serena.

━━ Incidentes acontecem. Somos todos uma família, irmão.
━━ disse Rhaenyra, e o sorriso de Astraea tornou-se sombrio, quase cínico, diante da falsidade que pairava sobre a mesa, especialmente da parte de Alicent e Otto. Era evidente que eles só estavam promovendo essa reconciliação por causa da presença do Rei, que observava a cena com um sorriso satisfeito.
━━ E, por isso, você tem as minhas desculpas também. E as dos meus filhos.

Jace, que até então estava mais interessado em sua refeição do que na conversa, engasgou. Luke olhou incrédulo para a mãe, enquanto o sorriso de Astraea desapareceu de imediato.

𝗡𝗜𝗚𝗛𝗧 𝗘𝗠𝗕𝗘𝗥 ☄Aemond Targaryen Onde histórias criam vida. Descubra agora