Anjo Do Derramamento de Sangue - Capítulo 24

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A floresta de Stygai se estendia diante de Astraea como uma boca escura, como se quisesse engolir a luz do mundo. O cheiro de folhas secas e apodrecidas impregnava o ar úmido, e o silêncio era profundo, rompido apenas por sua respiração controlada. Até mesmo seus passos eram abafados pelo musgo que cobria o chão. As árvores, gigantes e retorcidas, fechavam o céu acima, formando uma cúpula sombria que deixava apenas uma penumbra verde e fria, acompanhada por névoa.

Fazia muito tempo desde que Astraea estivera naquele lugar. Mas, quando aconteceu, foi o começo dos Zhor'Kai... da glória que alcançara. Mas, ainda mais importante, foi quando conheceu seus amigos. Amigos de verdade.

Mesmo que tivesse sido em uma situação demasiadamente caótica, ali estava ela de novo, em uma situação ainda pior, sozinha.

Sozinha com as coisas que espreitavam naquelas ruínas amaldiçoadas.

Astraea controlou a respiração, o coração acelerado, mas continuou. Não havia volta. Não mais.

Ainda mais ao ver a batalha brutal acontecendo ao longe, além da floresta. Cada segundo que ela permanecia afastada custava caro... e precisava voltar logo, e não de mãos vazias.

Vermithor já devia ter se juntado a Aemond no campo de batalha, para incinerar o terreno junto com Vhagar.

Ela havia estudado por semanas, teorizando e praticando, até conseguir fazer com que o dragão não dependesse de seus comandos à distância para saber o que fazer. Tudo isso graças ao que aprendera em Asshai e ao grimório de Visenya, que foi responsável por aprimorar seus conhecimentos.

Astraea já possuía uma grande e forte conexão com Vermithor, mas depois do que fizera, unindo seu sangue ao do dragão com palavras arcanas usadas na antiga Valíria, aquilo não se tornara apenas uma conexão; tornara-se algo... psíquico, telepático.

Por isso, agora ela sentia a enxurrada de sentimentos do dragão como se fossem seus: inquietação, impaciência, até mesmo medo, todos causados por ela estar longe e não montada em suas costas para, juntos, incinerarem os inimigos.

Mas Vermithor também devia sentir seus sentimentos ━━ a ordem silenciosa para que esperasse, com paciência.

A princesa não se incomodou em levar uma tocha.

Da última vez que estivera ali, tinha apenas treze anos e, mesmo assim, enfrentou a escuridão e coisas piores. Portanto, nada do que houvesse ali poderia assustá-la agora.

Astraea se acostumara com aquela escuridão. Familiarizara-se com ela, até.

Da última vez que esteve ali, viu coisas que jamais imaginara ver em sua vida e sentiu um medo verdadeiro, mas esse mesmo medo a fez se sentir viva, com a adrenalina de não se deixar cair. Talvez tenha sido por isso que sobreviveu: essa insanidade desenfreada.

E talvez tenha sido por isso que, ao contrário da primeira vez em que esteve ali, quando a floresta estava viva de tantas formas para testar sua sanidade e aterrorizá-la, agora ela estava quieta... observando.

E esperando.

━━ Veio me matar ou suplicar por minha ajuda, Astraea Velaryon?
━━ uma voz antiga e rouca ecoou atrás dela.

Astraea se virou e não moveu um músculo do rosto. Não estava surpresa.

Não dessa vez.

A criatura que estava parada diante dela não era humana.

Alta, monstruosa, coberta de escamas escuras, com feições viperinas e um corpo humanóide masculino, os braços fortes terminavam em garras pretas, brilhantes como obsidiana, capazes de rasgar carne com um simples movimento. Seus olhos, enormes e negros como o vazio, a estudavam com um interesse predatório enquanto Astraea apertava o cabo de Morghul.

𝗡𝗜𝗚𝗛𝗧 𝗘𝗠𝗕𝗘𝗥 ☄Aemond Targaryen Onde histórias criam vida. Descubra agora