A Voz das Trevas - Capítulo 43

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Astraea não estava em seu quarto. E muito menos em sua cama.

Ali, onde se encontrava, parecia outro mundo; uma vastidão sem vida, coberta de cinzas pálidas que se estendiam até onde os olhos podiam ver. Um campo desolado, onde o vento soprava como um sussurro esquecido, trazendo consigo apenas restos de brasas moribundas ━─ quentes, mas incapazes de reacender uma chama. A terra parecia morta, consumida por um fogo antigo e solene, como se a própria essência do lugar tivesse sido devorada pela tristeza e pelo luto.

No horizonte, algo brilhou, chamando-lhe a atenção: uma estrela cadente, vermelha e incandescente, riscando o céu como uma lâmina de sangue, caindo em silêncio como um presságio sombrio.

Astraea observou, fascinada, enquanto a estrela despencava, pulsando como uma ferida aberta no firmamento, carregando consigo uma promessa mista de destruição e renascimento. A estrela tocou o solo ao longe, e a terra pareceu estremecer, abrindo-se em rachaduras que pareciam serpentear até onde ela estava. Quando o tremor cessou, uma cratera imensa surgiu, marcada pelo impacto, como uma cicatriz fresca na pele de um mundo moribundo.

Astraea engoliu em seco, sentindo o aperto gélido no peito ao caminhar em direção à borda da cratera, quase como se uma força invisível a guiasse. Ao se aproximar, ela se debruçou e espiou a escuridão que se expandia lá dentro ━━ um buraco sem fundo, envolto em sombras profundas que pareciam esconder algo, algo que aguardava.

E lá, no âmago da cratera, um dragão adormecido. Envolto em correntes que brilhavam com um fulgor prateado, estranho e antigo, o dragão jazia. Suas escamas eram negras como a noite mais escura, com um toque de púrpura que lembrava ametistas brilhantes. E seus olhos ━━ embora fechados ━━ pareciam pulsar, revelando uma luz vermelha, como brasas adormecidas em uma caverna.

As correntes que o prendiam eram espessas e entrelaçadas, como raízes negras de uma árvore retorcida, cravando-se na carne do dragão. Astraea sentiu uma dor aguda, quase insuportável, no peito; era como se aquelas mesmas correntes a prendessem também.

Ela avançou, com uma urgência que sequer entendia, até que estava perto o bastante para ver cada detalhe das correntes amaldiçoadas. Em um esforço desesperado, Astraea tentou quebrá-las, rasgar o metal estranho e resistente que a separava do dragão. Rangendo os dentes, forçou e puxou, mas o ferro ━━ que emitia uma luz sombria e estranha ━━ permaneceu firme, como se fosse indestrutível.

Então, uma sombra envolvente surgiu, um vento negro, espesso e ameaçador, rodopiando ao redor dela como a chegada da própria noite. A ventania se aproximava, carregando uma sensação letal e implacável que Astraea sentiu pulsar em cada nervo de seu corpo.

Ela tentou gritar, mas o som ficou preso em sua garganta. Tentou se debater, mas estava impotente. E, com o último fio de esperança, tentou libertar o dragão daquelas correntes. O dragão agora a olhava, olhos de ametista que refletiam algo mais ━━ uma súplica silenciosa, uma tristeza profunda.

O vento preto rugiu, avançando, devorando tudo em seu caminho. O campo de cinzas, as brasas moribundas, e, finalmente, o próprio dragão. Ele a observava enquanto desaparecia, enquanto o vento o consumia até que nada restasse, apenas poeira e sombras.

Então Astraea ouviu.

Você nunca pode descansar, filha de Valíria.

O sussurro parecia vir de todas as direções, uma voz que soava como o murmúrio de mil vozes unidas, flutuando no ar, como se ecoassem através de mundos distantes.

Astraea despertou com um sobressalto, o corpo tenso e coberto de suor, os cabelos desgrenhados em sua testa, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto o eco das palavras ainda latejava em sua mente.

Porque ela sabia que era verdade.

𝗡𝗜𝗚𝗛𝗧 𝗘𝗠𝗕𝗘𝗥 ☄Aemond Targaryen Onde histórias criam vida. Descubra agora