18 - Capítulo

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Um temporal com raios e trovões os obrigou a se alojar em uma estalagem por algumas horas, embora não tenham dormido. Pete ficou andando de um lado para outro no quarto, sem querer se deitar, comer nem conversar. Os dois chegaram a Saengthan's cedo, em uma manhã fria e úmida.

Os moradores do solar já estavam acordados e, à maneira de Saengthan's, saíram todos correndo de dentro da casa e dos estábulos para cumprimentar os recém-chegados... todos falando ao mesmo tempo.

O cão os cercou, latindo sem que ninguém o repreendesse. Por fim, eles se instalaram na sala de visitas no andar de baixo, onde a lareira fora acesa para combater o frio e a umidade, e a governanta de aparência antipática chegou com uma bandeja de chá. Ele serviu as xícaras e foi passando de um em um, então assumiu seu posto diante da porta fechada, os braços maciços cruzados no peito – ninguém lhe disse para sair.

Vegas deixou a xícara sobre a mesa e foi até a janela. A Sra. Pritchard chorava, Pete tentava confortá-la e a preceptora se culpava por ter permitido que as crianças fossem levadas, apesar de a tia insistir, entre lágrimas, que o moço não tivera escolha, que nenhuma delas tivera. O cão apoiava o queixo no colo de Pete, ganindo e arfando alternadamente.

Aquele Ken Saengtham... aquela doninha em forma de gente planejara bem sua vingança. Era um homem fraco, de baixa estatura, com a musculatura de um preguiçoso. Sem dúvida sabia que não teria chance de vencer nenhum tipo de contenda física contra os homens que protegiam Pete, ou mesmo contra Pete e a governanta, por sinal. 

Assim, arquitetara outro plano e correra até um magistrado para pedir a guarda legal dos órfãos, que eram parentes distantes dele pelo lado materno. Então mandara o oficial da cidade, com quatro ajudantes corpulentos, até Saengthan's, para levar as crianças.


– Thankhun quebrou o nariz de Will Perkins com um soco – disse a Srta. Rice. – Havia sangue por toda a parte, Pete. Teríamos pensado que o homem estava morto se ele não estivesse urrando a plenos pulmões. E Charlie deu uma cabeçada na barriga do Sr. Biddle. Mas você entende, Pete, ele tinha os papéis, assinados pelo conde de Luff, e contra isso não havia argumentos. Além do mais, seria pior para Wave e Jearn se vissem uma briga. A Sra. Pritchard nos convenceu a nos acalmarmos antes que eles fossem chamados. O Sr. Biddle mandou Will Perkins para casa.

– Eu mesma limpei o sangue do chão antes que as crianças fossem trazidas para baixo – disse a governanta, sem esperar que dessem licença para que se manifestasse. – Mas teria quebrado o nariz de todos eles, minha ovelhinha, e a cabeça também. Aqueles covardes... cinco homens enormes levando dois bebês.

– Você teria sido preso, Thankhun – disse a Sra. Pritchard, assoando o nariz no lenço que segurava e recuperando o controle. – Teriam arrastado você para a cadeia.

– Ora, isso não teria sido novidade, madame – falou a governanta, sem se abalar. Vegas olhou para Thankhun por sobre o ombro com uma aprovação relutante. Ele realmente teria dado um sargento fantástico, leal, se não tivesse tido a infelicidade de nascer ômega.

– Como eles ficaram? – A voz de Pete falhava, embora ele não estivesse chorando. Ele não chorara em momento nenhum. Depois de ficar à beira da histeria no salão de visitas de Kinn, o marido permanecera retraído, tenso e calado. – Como eles estavam q... q... quando foram levados embora?

– Disse a eles que passariam umas férias curtas com a tia, que estava ansiosa para vê-los – explicou a Srta. Rice. – Falei que seria apenas enquanto você estivesse fora, Pete. E garanti que seria divertido.

– Mas eles sabiam – falou a Sra. Pritchard, triste, em seu sotaque melodioso. – Não se deixaram enganar nem por um instante. Jearn saiu com os lábios brancos e os olhos de Wave estavam tão arregalados que quase ocupavam o rostinho todo. E não foi apenas porque a babá Gulff disse a eles que havia alguns homens maus escondidos no campo e que era por isso que o Sr. Biddle e seus homens tinham vindo acompanhá-los, para que chegassem em segurança à casa da tia. Ah, meu coração dói só de lembrar.

AGORA CASADOS - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora