3 - Capítulo

181 30 1
                                    


Horas depois, naquela mesma tarde, Pete foi caminhando sozinho até o vilarejo. Tia Mari a teria acompanhado se ele houvesse usado a carruagem. Mas Pete precisava mais de ar fresco e de exercício do que de companhia – e, mais do que disso, precisava pensar e traçar planos.

O que todos eles iriam fazer? Um medo cego se apoderava dele. Pete vinha tentando com todas as forças, desde a manhã da véspera, se concentrar apenas no fato que realmente importava: a morte de TEM. Ele o amava tanto. Queria poder ficar de luto pela morte do irmão. Mas...

Mas ele morrera cedo demais.

TEM deixara um testamento que dizia que Pete ficaria com Saengthan's. Mas a propriedade nunca chegara a ser dele. Continuaria a ser de Pete até que decorresse um ano do falecimento do pai deles.

Agora, por ironia do destino, o lugar passaria às mãos do primo dele, Ken, no dia do aniversário da morte do velho Saengtham. O testamento de TEM não tinha serventia. Ele morrera cedo demais. Como se estivesse tudo ótimo caso meu irmão morresse depois, pensou Pete com amargura.

Dali a cinco dias, todos os ocupantes de Saengthan's estariam sem teto. Todos. Pete sentiu um frio de pânico no estômago. Se ao menos pudesse se concentrar apenas na própria situação, seria mais fácil encontrar uma saída – conseguir um emprego seria a mais óbvia delas. Mas não podia se dar ao luxo de pensar só em si mesmo.

Pete atravessou a ponte de pedra em arco que cruzava o rio entre Saengthan's e Chiang Mai e parou um instante para contemplar o fluxo suave da água, antes de entrar no vilarejo e se aproximar da residência do pároco local. Teria outros cinco dias para fazer planos. Podia reservar aquele dia para se concentrar em TEM. O irmão merecia isso da parte dela.

O monge Thomas Puddle estava em casa, descobriu Pete, quando ele mesmo atendeu à batida na porta. Mas sua governanta não estava, e o monge era um homem que observava com rigor as regras do decoro. Em vez de convidar Pete a entrar, ele sugeriu que ele o acompanhasse em um passeio pelo pátio do templo. O monge, um homem jovem, magro, de cabelos ruivos e aspecto saudável, sempre ficava ruborizado e constrangido perto de Pete – assim como acontecia perto de todas as suas outros jovens ômegas, muitos deles extremamente interessadas nele.

Thomas Puddle contou a Pete que estava prestes a sair para visitar Saengthan's– havia passado dois dias fora e só ao chegar soubera da trágica morte do irmão dele. O monge passou algum tempo lamentando o fato com Pete, antes que começassem a discutir a cerimônia em memória de TEM que ela fora lhe pedir que celebrasse.


– Amanhã estaria ótimo para mim – assegurou Pete depois de saber que o monge precisaria viajar novamente a trabalho dentro de dois dias. – Cuidarei para que todos sejam informados. Posso deixar os detalhes da cerimônia por sua conta, então?

– Com certeza – confirmou o religioso. – Há alguém que poderia fazer um elogio fúnebre ao seu irmão, Srta. Saengtham? Nunca o conheci pessoalmente e só poderia falar sobre ele em termos muito gerais. Pete pensou por um instante, enquanto os dois paravam sob a sombra de uma faia.

– Acredito que James Robinson gostaria de fazer isso – disse ele, por fim. – Ele e TEM eram da mesma idade e cresceram juntos. Foram vizinhos e amigos. Vou escrever a James assim que voltar para casa.

Mas o som oco de cascos atravessando a ponte distraiu os dois naquele instante. Pete ficou surpreso ao ver o coronel Theerapanyakul, que vinha cavalgando na direção deles, provavelmente a caminho da estalagem no outro extremo da cidade. Por que ainda estava em Chiang Mai? Ele imaginara que, àquela altura, o coronel já estaria várias horas adiantado em sua viagem de volta para casa.

AGORA CASADOS - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora