1 - Capítulo

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Tailândia – 1814

Um vale protegido pela sombra das árvores cortava o parque no lado oeste do Solar Saengthan's. A água do córrego murmurava pelo leito de pedras até se juntar ao rio mais largo que delimitava o parque e cortava Chiang Mai, o vilarejo mais próximo. 

O vale era sempre um recanto reservado e adorável. Naquela manhã de maio, contudo, a beleza do lugar estava de tirar o fôlego. Os jacintos azuis, que não costumavam florescer antes de junho, foram seduzidos pelo calor primaveril e desabrocharam mais cedo. As azaleias também estavam em flor, de forma que as margens em declive do vale estavam atapetadas de azul e rosa. Raios de sol cintilantes se infiltravam pelas copas verde- escuras dos altos ciprestes e chegavam ao solo em uma mistura de brilho e sombra, enquanto faziam cintilar a água murmurante do córrego.

Pete Saengtham estava no meio dos jacintos, que iam até a altura de seus joelhos. Ele decidira que a manhã estava linda demais para ser desperdiçada nos afazeres domésticos e da fazenda, ou mesmo na cidade. Os jacintos só estariam em flor por pouco tempo, e colhê-los para enfeitar a casa sempre fora uma das atividades favoritas de Pete na primavera. Ele não estava sozinho. Havia convencido Thelma Rice, a preceptora, a cancelar as aulas por algumas horas e levar seus dois alunos e o filho pequeno de Thelma para colherem flores também. Até mesmo tia Mari as acompanhara, apesar da artrite nos joelhos e da dificuldade em respirar. Na verdade, fora ideia dela transformar a ocasião em um piquenique.

Naquele momento, tia Mari estava sentada na cadeira resistente que Charlie lhe trouxera, com uma cesta enorme cheia de comida e bebida ao seu lado e as agulhas de tricô trabalhando ativamente.

Pete se levantou para esticar as costas. Uma pilha de flores com longos caules estava cuidadosamente arrumada na cesta em seu braço. Com a mão livre, firmou o velho chapéu flexível de palha, embora a fita cinza larga que cruzava a copa e a aba estivesse bem presa sob seu queixo. A fita combinava com o vestido de algodão que ele raramente usava, de corte simples, cintura alta e mangas curtas: a roupa ideal para uma manhã no campo em que não se esperasse receber visitas, ele prefira calças e ternos, mas o agradável dia de hoje, ele pensará diferente. 

Ele saboreou a sensação de bem-estar que a dominou. O verão estava apenas começando – um verão que, pela primeira vez em muitos anos, não estava associado a uma onda de ansiedade. Bem, ou quase isso. Havia, é claro, a dúvida constante do que estaria mantendo IAN longe de casa. Ele deveria ter voltado em março ou, no máximo, em abril. Mas IAN viria assim que pudesse. Disso Pete estava certa. Enquanto isso, ele apreciava os arredores e suas companhias com tranquila satisfação.

Tia Mari nem olhava para as próprias mãos, ocupadas com as agulhas. Em vez disso, observava as crianças com um sorriso afetuoso no rosto enrugado. Pete sentiu uma onda de ternura por ela. A tia passara quarenta anos trabalhando no fundo, de uma mina de carvão, puxando vagonetes por seus corredores, até que o marido dela – tio do pai de Pete – morrera e o pai da jovem lhe oferecera uma pequena pensão. Pete persuadira a tia-avó a ir morar no solar da família havia pouco mais de um ano, quando o pai ficara muito doente.

Jearn, de 7 anos, estava concentrado em colher as flores, o cenho franzido no rosto magro, como se a tarefa fosse algo de extrema importância. Logo atrás dele, como sempre, o irmão ômega, Wave, de 5 anos, cantarolava desafinado e colhia flores com bem menos concentração, mas com um prazer muito mais evidente. Parecia uma criança que se sentia segura.

Se ao menos Jearn conseguisse aprender a relaxar como o irmão, se deixasse de lado a aparência séria, tensa, que o fazia parecer anos mais velho... Mas isso acabaria acontecendo, disse Pete a si mesmo, só precisava ter paciência. Não era pai de nenhum dos dois, embora ambas as crianças estivessem morando com ele fazia sete meses. Não tinham mais ninguém. 

AGORA CASADOS - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora