Um Conto • ⁴³

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𝙅𝙪𝙡𝙞𝙚𝙩𝙩𝙖


── Conseguiu descansar?

── Mais ou menos. Ainda estou irritada por tudo, e... nem sei o que pensar de vocês.

── Nós sentimos muito, muito mesmo. Mas quero que entenda do porquê ter acontecido aquilo tudo e o motivo de termos voltado para cá ── Tom se joga no sofá, espreguiçando-se ao meu lado.

── E por que estão aqui?

Ouço um baixo suspiro soprar de suas narinas, conforme o silêncio se estabele naquela sala.
É mais grave do que pensei.

── Tom, onde... onde estão Gordon e Simone?

── Morreram ── seus braços se levantam como se não se importasse, mas ao ver seus olhos fixos na lareira logo à frente, bem expressivo, transmitiam amargura, saudade e culpa.

── Mas... como? Achei que vocês foss-

── Somos imortais mas, existe uma injeção que é aplicada na veia para matar. Foi assim que aconteceu ── ele abaixa a cabeça, deslizando o polegar em seu joelho.

── Quem fez isso? ── minha pergunta soa como um susurro.

── Não importa. Aconteceu muita coisa.

── Ok. Não estou muito satisfeita com sua resposta, mas...

── Eu sei, foi mal.

Está tudo tão estranho. Não sei mais o que a minha relação com o Tom e com o Bill. Eu acho que tudo tem sido tão... sem graça e deprimente. Talvez se eu fosse montar uma história disso, ela não teria um final, ou então seria daqueles em que não satisfaz o que esperávamos.
Minha família toda está morta. Sem chance de ligar para a polícia. Outros vampiros estão à solta por aí e só o que tenho são os Kaulitz, que ao menos sei se posso voltar a confiar neles.

O que mais posso contar?

── O que pretendem fazer com eles...? ── imaginei que tivesse falado baixo demais, pois houve uma breve pausa antes que o mais velho vira-se seu rosto lentamente para mim.

𝐐𝐔𝐄𝐁𝐑𝐀 𝐓𝐄𝐌𝐏𝐎

Passei o dia todo sozinha na enorme casa. Fiquei trancada enquanto os meninos saíam para ir ao mercado, certamente eu passaria um bom tempo com eles, e obviamente, com fome.
Não sei mais o que achar disso tudo.
Fico pensando... que talvez... esses outros vampiros não sejam tão ruins quanto pensei, na real, eu sou a maior ameaça por aqui para eles. Vivemos em um mundo onde somos apenas humanos em todo esse universo vasto e infinito - ou não - , mas antes disso, outros superiores à nós já frequentavam isso.
Muitos dos que existem agora não tiveram culpa por serem o que são. Não tiveram para onde ir e estão apenas sobrevivendo, em meio a tantas pessoas que poderiam servir de refeição para eles. Além de bolsas de sangue que também seria de rejeição. Eles não tem mesmo outra escolha.
Bom, nós humanos não temos culpa disso, nem se quer sabem desse conto mitológico, onde vampiros só existem em filmes e historinhas para serem contadas. Chega a ser engraçado... alguém acreditar nisso. E é angustiante pensar que eu deva ser a única a saber desse segredo.
Quem sabe eu ainda tenha a opção de sair daqui - não sei para onde - viva. Digo, pode ser que eu acabe morta depois de me acharem e transformarem-me em sabe Deus o quê. Ou eu consiga fugir para um lugar distante, por algum milagre, e esqueça tudo que tive de passar, abandonando tudo que conquistei, e um romance de meses que não passou de um teatrinho, antes de acabar por conta de tantas desculpas. Ou então... irei conviver com isso para sempre.

É tão chato quando se tudo que se espera na vida, te decepciona antes mesmo que tenha a chance de vivê-la? Um simples romance clichê onde um dos dois acabam saindo machucados, antes de passarem uma temporada juntos, aproveitando os beijos, os abraços e sexo dia e noite. Mas para quê ser sempre assim? Ou então aquela mesma rotina de trabalho e estudos, onde tudo que se pode conseguir, virá após cinco ou dez aos de carreira, sem que descubra tantas preciosidades e infinitas opções para se viver nesse mundo? Por que não mudar isso?
Logo você se pega deitada na sua cama, a cabeça no travesseiro, encarando o teto de seu quarto, se iludindo com seus próprios cenários fictícios. Por que não torná-lo real? Por que teríamos essa imaginação tão criativa para apenas usá-la de escape da realidade?
Faça diferente! Faça valer a pena!

Foi extamente nessas teorias que passei a madrugada toda pensando. Já na prática não é tão simples. E se na verdade isso tudo for apenas um fruto da imaginação, onde teve um momento tão marcante na minha vida, em que parei no dia da morte dos meus pais? E se eu ainda estiver nos dias de escola no ensino fundamental, aquela garotinha de quatorze anos jamais acreditaria nessas bobagens.

Bom... ainda tenho duas pessoas comigo. E elas podem ser minha única espada ou meu maior perigo. Eu tenho duas alternativas, deixar que tudo que suportei até hoje passe em vão após uma morte inesperada vinda de mim mesma. Ou ver até onde isso vai dar.

Tudo está passando muito rápido, pode ser que esta história acabe mal contada ou até mesmo incompleta. Mas não dependerá apenas de mim, nem do destino, nem da forma que ela será contada. Prefiro deixar que a criatividade de outras pessoas estejam ativas para pensarem da forma que quiserem.

E agora, só olhando para frente e descobrir.

(...)

TRAÇA-ME | Bill Kaulitz (PAUSADA) Onde histórias criam vida. Descubra agora