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Emma Thompson
Barcelona

Adentro a minha casa, limpando o meu rosto para dissipar qualquer sinal de abalo. Respiro fundo, tentando recuperar o controle antes de entrar na sala. Quando cruzo a porta, forço um sorriso ao me deparar com Pedri e Ester no sofá, conversando e rindo como se nada mais existisse no mundo.

- Emma! - Ester exclama ao me ver. Seus olhos se iluminam. - voltou cedo, pensei que vocês iriam demorar mais. - ela comenta sorrindo maliciosa.

Pisco algumas vezes, balançando a cabeça.

- É... estávamos cansados.- a respondo, levando meu olhar para Pedri, que me encarava de um jeito estranho.- Eai Pedri.

- Eai, Em.- ele sorri calorosamente. - o pequeno príncipe não te assustou, não é? - ele pergunta de um jeito brincalhão. Tento soltar uma risada baixa, negando com a cabeça.

Percebo como eles estavam próximos naquele sofá e era nítido que rolava um clima entre eles. Talvez eu esteja atrapalhando eles, então o melhor seria ir para o meu quarto de uma vez e parar de incomodar eles.

Eles parecem tão confortáveis juntos, como se estivessem em um mundo só deles, e isso me faz perceber o quanto estou sozinha. Tento afastar o pensamento, mas é difícil.

- Acho que vou subir e descansar um pouco - digo, forçando um tom casual. - Foi um dia longo.

Pedri me olha com uma expressão preocupada, como se percebesse algo diferente em mim, mas não comenta. Ele apenas assente.

- Claro, Emma. Se precisar de alguma coisa, estamos aqui.

Ester acena com a cabeça, ainda sorrindo, mas seu olhar é rápido, como se já estivesse voltando a se concentrar em Pedri. Dou um leve aceno de cabeça e me viro, começando a subir as escadas.

Enquanto subo, sinto o peso do dia caindo sobre mim. A conversa com Gavi ainda ecoa na minha mente, e a solidão que pensei ter deixado para trás em Recife parece voltar com força total. Quando chego ao meu quarto, fecho a porta e deixo escapar um suspiro pesado.

Me sento na minha cama, olhando minhas mãos com uma pequena foto antiga do meu pai, quem me abandonou sem dó e nem piedade.

As lágrimas começam a se formar nos meus olhos enquanto encaro a foto. Meu pai, a figura que eu nunca conheci de verdade, apenas através das histórias que minha mãe contava. Histórias que sempre terminavam com um vazio, uma lacuna que nunca foi preenchida. A sensação de abandono sempre esteve comigo, mas hoje, depois de tudo que aconteceu, ela parece mais intensa, mais real.

Eu fecho os olhos, tentando afastar a dor que insiste em invadir meu coração. Quando completei 12 anos, imprimi essa foto escondido de minha mãe. Ela nunca quis entrar em muitos detalhes em relação aquele homem, mas eu queria saber mais sobre ele. Apesar de ter Roger comigo, eu queria saber do meu verdadeiro pai.

A foto parece pulsar entre meus dedos, como se estivesse viva. Cada olhar que lanço para ela me faz sentir a falta de algo que nunca tive. O rosto do meu pai, tão familiar e tão estranho ao mesmo tempo, me lembra das perguntas que nunca foram respondidas. O que ele estaria fazendo agora? O que teria acontecido se ele tivesse ficado?

Flashback
2015

" Caminho pelas ruas de Recife em direção à casa de minha avó, que não é muito longe daqui. Ainda bem, não suporto andar por muito tempo, e o calor é insuportável. As ruas estão cheias de gente, e o cheiro de comida nas barracas me faz lembrar das refeições que a minha avó costumava preparar.

Enquanto caminho, meu pensamento se perde em lembranças da infância, dos dias em que ela me contava histórias sobre minha família. Ela sempre falava com carinho sobre meu pai, embora nunca tenha sido clara sobre o motivo da separação. "Ele era um bom homem, Emma, mas confuso e imaturo demais", dizia ela, mas suas palavras nunca foram suficientes para apagar a curiosidade que ardia dentro de mim.

Milagres do Futebol // Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora