S/N Kriston Point Of View
_________________Após me deixar completamente machucada, minha mãe falou para as duas pessoas que esperavam do lado de fora do quarto que eu estava tomando banho. Com movimentos cuidadosos e doloridos, eu tentava remover cada agulha cravada em minha pele. Minhas pernas tremiam, e minha visão estava embaçada pelo conjunto de dor e exaustão.
A água morna suavizava o processo de retirada das agulhas, um alívio momentâneo em meio ao sofrimento. Com a porta entreaberta, fechei os olhos com força, resistindo à tentação de olhar para baixo e ser confrontada com o sangue que misturava com a água, marcando o chão.
As lágrimas, teimosas e incontroláveis, escorriam pelo meu rosto, mesmo quando eu lutava para contê-las. Pensei no preço que pagaria caso decidisse denunciar minha mãe. No fundo, apesar de tudo, eu sabia que ainda precisava dela, pelo menos até as Olimpíadas.
Celine era a melhor agente motivacional no mundo do esporte. Mesmo sendo extremamente requisitada, nunca me abandonou para cuidar de outra carreira. Ela sempre manteve sua palavra.
"Minha filha já é boa o suficiente. Não será necessário procurar por mais ninguém, não existe melhor no mundo."
Essas palavras foram o que me prenderam ao seu mundo, uma prisioneira da promessa que ela representava. Embora minhas habilidades fossem minhas, era dela que eu precisava para me forçar a continuar. Sozinha, talvez já tivesse desistido há muito tempo.
— S/n, já deu de banho — Sua voz, ainda ríspida, atravessou o ar como uma faca afiada. Meus pelos se arrepiaram ao ouvi-la. Ela estendeu a toalha na minha direção, olhando sem emoção para os meus ferimentos.
— Vai se olhar no espelho. Verá que essas agulhas que te ferem são as mesmas que me dão satisfação ao ver você marcada. Troque-se, use a faixa nas feridas e desça. Vamos embora com seu pai, e eu quero que essa garota esteja fora da sua vida — Concordei em silêncio, me enrolando no pano branco, que em instantes foi sendo tingido de vermelho. As agulhas eram finas, o bastante para perfurar, mas a quantidade de sangue não parecia normal.
— Não se preocupe, quando colocar a faixa, isso tudo vai estancar. Só não pressione muito — Mais uma vez, respondi com silêncio, incapaz de expressar qualquer sentimento.
Deixei o banheiro, colocando uma faixa ao redor da cintura. Era um tecido de gaze e aliviou as perfurações, mesmo que a dor persistisse.
Penteei os cabelos molhados, saindo do quarto ao lado de Celine, que assumia seu papel falso habitual.
— S/n está exausta. Não é, filha? — Assenti, olhando para Flávia, que tentava ler minha expressão, preocupada.
— Que susto! Achei que vocês estivessem brigando — comentou meu pai, coçando a cabeça. Ele se aproximou, dando um beijo em minha testa.
— Amanhã vamos almoçar na casa do Henri. Esteja pronta às 10 — Concordei novamente, prendendo o ar em meus pulmões, lutando para não chorar.
— Bom, vamos! Ainda precisamos passar no mercado para sua mãe comprar os ingredientes da lasanha. Até amanhã — Quando meu pai me abraçou, soltei um gemido involuntário de dor. Sua expressão mudou para surpresa ao me soltar rapidamente.
— Oh! Machuquei você? Desculpe, filha! — Ele procurou por sinais de machucado em mim.
— Bruno! Mais cuidado. Agora S/n vive se machucando — Celine interpelou, andando em direção à porta. Meu pai me olhou em busca de explicações, mas permaneci indiferente.
— Flávia, cuide da S/n para mim, por favor — engoli em seco ao ouvir suas palavras, enquanto Flávia concordava em silêncio, seus olhos cheios de preocupação. Assim que saíram, corri para o quarto, destrancando tudo que suspeitava ser câmera ou microfone.
— S/n, o que aconteceu? — Flávia indagou, mas eu ignorei, indo direto ao banheiro, procurando freneticamente por quaisquer vestígios de monitoramento.
— S/n?
— S/a! — Ela gritou quando colidi com ela ao me virar abruptamente.
— O que houve? Por que não fala comigo? — engoli em seco mais uma vez. Se contasse a ela o que estava acontecendo, poderia colocá-la em perigo. Além disso, conhecendo Flávia, ela não descansaria até me tirar dessa situação.
— Flávia, erramos — foi a única coisa que consegui dizer, minha voz embargada.
— Erramos? Do que você está falando? Sua mãe fez algo? — Havia uma urgência em seus olhos, uma necessidade de entender e ajudar, mas não podia lhe contar sobre o tormento que minha mãe me submetia.
— Erramos, eu errei, você errou, e eu não vou continuar errando. Eu sei que feri os sentimentos de Jade e… — As palavras lutavam para encontrar forma, e eu precisava ser firme. Precisava afastá-la de mim.
— E? — Flávia perguntou, buscando mais, uma explicação que eu não poderia dar.
— Eu não quero que você ache que tenho sentimentos, ou que quero estar com você. Não sou presa a ninguém, Flávia. Talvez você tenha sido o melhor sexo que eu já tive, o melhor beijo, mas eu não sou, e nunca serei sua — declarei, olhando em seus olhos. Pela primeira vez, vi a confiança dela vacilar, uma lágrima brotou, mas não caiu.
— Não quero que se preocupe comigo. Quero que cuide de você, da sua cabeça principalmente — Minha postura se tornou defensiva, minha cabeça erguida em falsa confiança. Por dentro, tudo doía. Minha consciência gritava, e eu sabia que choraria sozinha naquela noite, consumida pela dor física e emocional. Sabia que, talvez, estivesse admitindo para mim mesma o quanto Flávia realmente significava.
— Porque eu não terei misericórdia. Não me lembrarei de momento algum entre nós. A partir de agora, você é só mais uma rival, mais uma a ser derrotada pelo cisne negro que há em mim. Que o duelo comece, Flávia — Disse com uma dureza que mal reconhecia, amarga e cruel. Vi a sombra da mágoa dançar em seus olhos.
— É isso que você quer? — perguntou com incredulidade, sua voz traindo o coração partido.
Não! Eu queria me perder em você e esquecer que esse dia existiu.
— É isso que eu quero.
— Então é isso que você terá.
E com aquela troca de palavras dolorosas, um abismo se abriu entre nós, um vazio cheio de tudo o que eu não poderia deixar escapar.
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Fui extremamente cirúrgica pra vocês não ficarem com ódio da S/n, já deu, todas as S/ns que eu faço, todo mundo fica com raiva.
Obs: essa S/n não tá sendo inspirada na minha personalidade.
Então já sabem né? Quem odeia ela, odeia eu. Menos aqui, aqui ela ainda é boazinha, agora eu vou dormir porque hoje já é segunda feira.
😭😭😭😭😭😭😭😭😭
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Duelo - Flávia Saraiva/You
Fiksi PenggemarDuas ginastas competem a anos para saber quem era a melhor do grupo, só não imaginavam que o duelo, terminaria em outra coisa