A preocupação

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Portugal respirou fundo antes de abrir a porta do quarto de Brasil. Ele havia tomado essa decisão no calor da noite anterior, atormentado por uma insônia que se recusava a ir embora. Ele precisava ver com os próprios olhos o estado de Brasil, não por preocupação, mas para garantir que seu domínio ainda estivesse intacto, pelo menos era isso que ele tentava convencer a si mesmo.

Quando a porta se abriu, a cena à sua frente fez seu coração quase parar. Brasil estava encolhido no chão, em um canto do quarto, dormindo profundamente. Seu corpo estava coberto de hematomas, e havia manchas de sangue secas no chão. O jovem país parecia pequeno, frágil, uma imagem que contrastava fortemente com a arrogância e a força que Portugal sempre tentava impor.

Por um momento, Portugal ficou paralisado, a dureza de seu semblante vacilando enquanto olhava para o estado deplorável de Brasil. O nó em sua garganta voltou, apertando com mais força. Ele se ajoelhou ao lado de Brasil, observando as marcas que havia deixado no corpo dele.

Portugal: - "Como você pôde deixar chegar a esse ponto?" murmurou para si mesmo, sem esperar uma resposta.

Ele estendeu a mão, hesitante, quase tocando o ombro de Brasil, mas parou antes de fazer contato. Portugal sentiu uma pontada de algo que ele se recusava a chamar de culpa. Ele afastou a mão rapidamente, como se o simples toque pudesse quebrar a barreira de gelo que ele havia construído em torno de si.

Brasil, sentindo a presença de Portugal mesmo em seu sono, mexeu-se um pouco, gemendo de dor. Os olhos do jovem país se abriram lentamente, e quando ele viu Portugal tão próximo, a expressão em seu rosto foi uma mistura de surpresa e medo. Ele tentou se afastar, mas seu corpo não tinha forças para isso.

Portugal: - "Fique onde está," disse Portugal, a voz fria e autoritária, mas com uma leve tremulação que ele não conseguiu esconder completamente.

Brasil obedeceu, sem forças para resistir. Seu olhar era uma mistura de ressentimento e uma dor silenciosa que falava mais alto que qualquer palavra. Ele havia aprendido, ao longo dos anos, a não esperar misericórdia de Portugal, mas ainda assim, uma parte dele sempre esperava por algo diferente, uma esperança tola que ele não conseguia extinguir.

Portugal levantou-se rapidamente, sua mente em um turbilhão. Ele precisava sair dali antes que aquela sensação desconfortável se intensificasse. Mas, enquanto ele se afastava, uma voz suave, quase inaudível, alcançou seus ouvidos.

Brasil: - "Por quê...?"

A pergunta pairou no ar, simples, mas carregada de uma dor tão profunda que Portugal teve que parar por um momento. Ele sabia a resposta, mas não podia, não queria dizê-la. Ao invés disso, ele se virou para encarar Brasil, a máscara de frieza firmemente no lugar.

Portugal: - "Porque eu posso."

Essas palavras cortaram o ar, duras e implacáveis. Ele deixou o quarto antes que Brasil pudesse responder, fechando a porta com mais força do que pretendia. Do lado de fora, Portugal parou por um momento, o coração batendo forte. Ele sabia que suas palavras eram verdadeiras, mas a amargura que elas deixaram em sua boca o fez se sentir pior do que antes.

Portugal voltou ao escritório, tentando se concentrar nos papéis espalhados sobre a mesa, mas a imagem de Brasil, machucado e quebrado, não saía de sua mente. Por mais que tentasse, ele sabia que uma parte de si estava começando a questionar tudo. E isso o aterrorizava.

No fundo, Portugal sabia que não era mais o mesmo. E, talvez, Brasil soubesse disso também.

~Reencontro de infâncias: Entre Rivalidades e corações ~ Braarg Onde histórias criam vida. Descubra agora