Capítulo 3 - Um Flerte

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O CHEIRO DA TAVERNA DA STELLA era exatamente o mesmo da última vez que Lauren estivera ali – álcool, suor e serragem da serraria que ficava nos arredores da cidade, trazida na sola das botas de trabalhadores grandes e corpulentos.

Ela não tinha planejado passar no bar quando saísse do carro que chamara pelo aplicativo de motoristas. Mas bastaram quinze segundos observando o centro escuro de Bright Falls para lembrar que a cidade inteira fechava assim que o sol desaparecia, mesmo aos sábados.

A pousada onde ia ficar com certeza não tinha licença para vender bebidas alcoólicas, e ela jamais conseguiria lidar com a irmã postiça e a madrasta sem um pouco de coragem líquida.
Depois de entrar, no entanto, ela hesitou, ficando de pernas bambas de repente quando as risadas e a música alcançaram seus ouvidos.

Fazia cinco anos que não ia a Bright Falls. Cinco anos que tinha deixado Nova York, deixado Keana e sua boca mentirosa por isto: o aconchego da cidade, todas aquelas caras que se conheciam desde sempre, aquele clubinho do qual ela nunca sentira fazer parte, mas que ainda assim a fascinava.

Desde que havia se mudado de Seattle para lá com o pai, ela com 8 anos, ele com uma aliança novinha no dedo, era assim, parecia que ela estava do lado de fora de uma casa iluminada e acolhedora, na chuva, batendo na janela. E tudo ficara ainda pior com a morte do pai, dois anos depois, deixando Lauren com uma madrasta e uma irmã postiça que não tinham a menor ideia do que fazer com ela.

Lauren respirou fundo e olhou para o balcão. Ficava a uns trinta passos de onde ela estava, um mar de corpos entre ela e uma bebida. Ela morava em Nova York. Era artista. Uma artista que estava passando por perrengues, sim, mas uma artista, caramba.

Essa cidade, sua família, não ia derrotá-la. Nunca mais. Ela tirou a jaqueta preta e a largou por cima da mala. O ar úmido e alcoólico pareceu grudar em seus braços, mas era melhor que sufocar de casaco.

Virando o corpo para encostar no menor número possível de pessoas, manteve a cabeça baixa e andou rápido até o bar. Ali, soltou o ar aliviada. O barman era um desconhecido, não alguém com quem ela havia estudado no ensino médio e que a encararia franzindo os olhos como se ela fosse um quebra-cabeça que ele não conseguia resolver.

Ela era praticamente invisível nos tempos de escola, um fantasma com uma nuvem de cabelos escuros rebeldes e olhos verdes que ela mantinha no piso de lajotas sujas, a gótica esquisita, enquanto Astrid brilhava como uma estrela no baile.

– Uísque, puro – disse, deixando a mala ao lado de uma banqueta e apoiando os braços no balcão.

O cara – Tom, dizia seu crachá – sorriu, piscou para ela e serviu a dose com um gesto exagerado, despejando-o de uma altura de uns 60 centímetros. Ela ficou olhando para ele, tamborilando as unhas no balcão reluzente. Ele colocou a bebida na frente dela e se apoiou no balcão. Cabelo bagunçado, barba aparada, olhos castanho-escuros. Provavelmente era bonitinho para quem apreciava a forma masculina.

– Obrigada – disse ela, virando o copo.

A bebida desceu queimando, aquecendo-a de um jeito que fez aquele maldito casamento parecer suportável. Porém, ela sabia que não ia durar.

– Você é daqui? – perguntou ele.

Ela se segurou para não revirar os olhos.

– Não faço seu tipo – disse.

O sorriso dele fraquejou.

– Não?

– Não.

– Acho que talvez faça.

Lauren bateu no copo, pedindo mais uma dose, e ele obedeceu de um jeito ainda mais exagerado que antes, lançando o copo e a garrafa no ar. Ah, como ela queria que ele tivesse derrubado tudo. Ao entregar-lhe a bebida, ficou olhando para ela com expectativa.

CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora