Capítulo 10 - Casa das Glicínias I

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LAUREN PAROU NA ENTRADA, a Casa das Glicínias despontava diante dela.

Estava anoitecendo, o céu era de um lavanda suave e parecia que algumas pessoas já estavam lá. Ela não podia – não queria – entrar naquela casa só com Isabel e ficar jogando conversa fora. Ou, o que era mais natural para a madrasta, ficar jogando indiretas. Nem tinha certeza de que conseguiria entrar de um jeito ou de outro, mesmo com a casa cheia de outras pessoas.

A Casa das Glicínias sempre fora um lugar confuso para Lauren. Por um lado, tinha morado ali com o pai durante dois anos, dos 8 aos 10. Lembrava- se dessa época, ao contrário das imagens nebulosas e disformes que tinha da infância em Seattle.

A mãe, que morrera antes de Lauren completar 4 anos, era só uma sombra, um borrão de cabelo cacheado e mãos macias em seu rosto. Mas do rosto do pai, Michael, ela se lembrava muito bem, assim como dos olhos e da risada alta, que vinha do fundo da barriga, fazendo Lauren rir também, mesmo quando ela não entendia a piada.

A Casa das Glicínias era dele, construída e batizada para sua nova família, para a filha que ele não pôde ver crescer.

Mas a Casa das Glicínias também era delas. De Isabel. De Astrid. Depois da morte de Michael, o luto de Isabel fora pesado, como um manto preto que cobria tudo. Ela já tinha perdido o primeiro marido para o câncer – um dos motivos pelos quais ela e Michael estabeleceram um vínculo: o luto compartilhado em razão de uma doença terrível – e perder outro marido tão repentinamente quase a matou.

Lauren se lembrava de pensar, em sua própria névoa de tristeza, que Isabel talvez morresse de desgosto e ela e Astrid ficassem sozinhas de verdade ou talvez fossem mandadas para longe.

Mas Isabel sobreviveu, e, conforme ela voltava à vida, Lauren esperava pela mãe de que precisava. Esperou pelo consolo e pela segurança. Caramba, a mão de alguém apertando seu ombro ao passar por ela já teria feito com que seu coração se sentisse mais à vontade dentro do peito.

Astrid certamente não ofereceria nada disso, mas Isabel também não. A mulher a alimentava. Comprava materiais escolares. Garantia que ela fizesse o dever de casa. Comprava presentes de Natal. Vestia a menina com as roupas de grife que Astrid adorava, mas para as quais Lauren nunca ligou, e pronto.

Necessidades básicas, deixando o amor totalmente de fora da equação. É bem verdade que ela também não era muito carinhosa com Astrid, mas se envolvia. Sempre perguntava sobre os projetos escolares e sobre as amigas da filha, ia a todas as corridas da escola e torcia alto, incentivando-a a ser melhor e mais rápida.

Também era um tipo de cuidado, não era?

Astrid recebeu toda essa atenção quando elas eram mais novas. Depois, quando chegaram ao ensino médio, a mesma atenção parecia irritá-la. Ainda assim, sempre que se sentava ao lado de Isabel nas arquibancadas de metal, vendo Astrid voar pela pista com o rabo de cavalo louro balançando atrás dela, Lauren ansiava por uma pergunta, qualquer pergunta, qualquer incentivo em relação à sua vida.
Nunca veio.

Então, quando os dedos de Lauren envolveram o diploma ao som de aplausos educados e nada emotivos, ela soube que estava na hora de ir embora de uma vez.

Agora, como em todas as outras poucas vezes que voltara à cidade nos últimos doze anos, ela olhou para a linda fachada de tijolos da Casa das Glicínias e sentiu um leve pânico fervilhar a cada respiração.

Colocou as mãos na barriga e respirou fundo.

Sabia que tinha que entrar e passar por aquilo como tinha passado pelo brunch. Só precisava de um instante para se preparar. Mas o instante se estendeu e ela sabia que a qualquer momento seu celular chamaria com Astrid gritando sobre profissionalismo e pontualidade.

CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora