Capítulo 5 - Exposição Whitney

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QUANDO LAUREN ABRIU OS OLHOS, não fazia ideia de onde estava.

Chita.
Muita chita.

Flores cor-de-rosa enormes a engoliam em um mar de colchas e travesseiros. Até o papel de parede florescia como um jardim primaveril.

Não era exatamente raro ela acordar na cama de outra pessoa, mas também não acontecia todos os dias. E as mulheres com quem passava a noite não eram do tipo que enchia a casa de estampas florais.

Uma dor de cabeça se dilatava atrás dos olhos e o estômago se revirou quando Lauren se sentou. Ela se lembrava vagamente de ter misturado bourbon e vinho na noite anterior e foi assim que sua mente voltou para a Taverna da Stella e a Pousada Caleidoscópio em Bright Falls.

Meu Deus!

Ela caiu sobre os travesseiros – que tinham um aroma leve de gardênia ou outra flor enjoativa – e esfregou as têmporas antes de dar uma olhada no celular.

Acabava de passar das nove. Ainda tinha bastante tempo para se arrumar e chegar no horário combinado para tirar fotos banais em preto e branco de gente hétero mordiscando petits-fours no brunch de Astrid.

Meu Deus, o brunch de Astrid.

Ela fechou os olhos com força e inspirou pelo nariz bem devagar. Por um instante, pensou em ficar na cama e não aparecer.

Só Astrid já era péssima, mas Isabel certamente estaria lá e Lauren nunca sabia como agir na presença da madrasta impecável.

Era como conversar com uma estátua de mármore – bela, fria, a expressão facial sempre travada. Lauren se lembrava de uma época em que Isabel sorria, até ria, olhando para seu pai como se ele tivesse não só colocado a Lua no céu, mas feito com que brilhasse só para ela. Isabel tinha amado Michael Jauregui de verdade. Sabia muito bem disso.

Era Lauren Jauregui sem Michael que a mulher não compreendia, assim como Lauren não compreendia Isabel. Mas a madrasta sempre parecera aceitar muito bem a incompreensão mútua e isso doía mais que qualquer outra coisa.

Lauren puxou a coberta até cobrir a cabeça e abriu seu e-mail, esperando ter recebido algo da Fitz sobre uma venda ou talvez uma resposta de um dos agentes de fotografia a quem ela havia enviado seu portfólio nos últimos meses.

Nada.

Clicou na aba de enviados e abriu o último e-mail mandado a um agente que ela queria muito que a representasse, que seria capaz de abrir mão de sexo por dez anos se isso garantisse o negócio.

Leu a mensagem mais uma vez, ficando um pouco mais calma com seu prossionalismo e o conhecimento claro que tinha da área. Então clicou no link para seu portfólio on-line, rolando a tela com imagens de seus melhores trabalhos.

Eram todas em preto e branco, todas de mulheres ou pessoas não binárias, todas com vestidos ou ternos de casamento e água e alguma espécie de caos. Sua favorita mostrava uma mulher negra e uma branca, as duas de vestidos de renda meio esfarrapados, com galhos e folhas presos nos cabelos e de mãos dadas, entrando no Lago Champlain no meio de uma tempestade. Não era a foto mais segura que ela já tinha produzido, mas, caramba, tinha valido a pena. A luz estava perfeita, com as gotas de chuva reluzindo como balas de prata no ar e o desespero evidente no modo como ela fizera com que as modelos – Eve e Michaela, duas mulheres que conhecia do trabalho de garçonete no River Café – se agarrassem uma à outra. O efeito era encantador e assustador ao mesmo tempo, trauma e esperança. Era lindo!

Era bom.

E, ainda assim, sua caixa de entrada continuava acumulando teias de aranha.

Ela passou para a conta do Instagram, onde tentava publicar uma foto por dia. Coisas estranhas que fotografava pelas calçadas, fotos únicas que tirava em casamentos lgbtqia+, qualquer coisa que combinasse com a marca que estava tentando construir – queer, feminista, zangada e bonita.

CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora